terça-feira, 17 de outubro de 2017

Isto não pode ficar na mesma


Em Portugal, a comunidade científica foi seriamente ouvida quanto às implicações das alterações climáticas? Que mudanças foram feitas nas políticas de ordenamento do território nas últimas décadas? Que mudanças foram feitas pelos últimos governos na política de ataque aos incêndios e na estrutura da Protecção Civil? Há algum planeamento efectivo, organizado com peritos reconhecidamente competentes, para enfrentar um sismo de grande magnitude? As regras de construção, em regiões de risco sísmico, estão a ser mesmo fiscalizadas?

Portugal falhou dramaticamente no que toca ao chamado “problema dos incêndios”. Houve uma abordagem amadora, há negócios suspeitos, olharam para a escala local sem perceber que a prevenção e o combate aos incêndios tem uma escala supramunicipal e, o mais grave, colocaram nos postos de comando e nas estruturas do sistema muita gente que não estava qualificada para as funções que deviam desempenhar. O amiguismo e a rede partidária funcionaram bem mas o País ficou muito mal.

Em geral, os gabinetes dos ministérios e as estruturas da administração pública estão ocupadas por pessoas do partido que governa, ou são simpatizantes de longa data que fazem parte da rede de relações dos partidos, tanto no plano local como no regional e nacional. Foram nomeados sem qualquer procedimento de recrutamento que avalie as competências técnicas para o exercício das funções. O que hoje sabemos através do Relatório Independente elaborado na sequência do grande incêndio de Pedrógão Grande confirma o que já se suspeitava. A Protecção Civil e o sistema de que faz parte são um caso paradigmático da forma como o país tem sido governado. Um desastre com consequências fatais.

No resto da administração pública é igual. Pode não causar mortes nesta escala, mas pelo menos no sector da saúde também mata. Os boys ocupam o Serviço Nacional de Saúde e a sua conivência com os interesses privados, a sua incompetência, a arrogância das administrações e chefias com cobertura política garantida, desmoralizam os funcionários sensíveis ao serviço do bem-comum. Importaram o modelo neoliberal do Banco Mundial e aplicam-no como se fosse politicamente indiscutível, uma questão de gestão técnica. Não foram recrutados por concursos sérios, não são escrutinados por comissões de utentes, encobrem e negam a degradação que o sistema está a sofrer, esmagam muitos médicos e enfermeiros. Neste caso, também é impossível executar uma nova política que reabilite o SNS enquanto não mudarmos o sistema de recrutamento dos quadros da administração tornando-o independente das máquinas partidárias. Este assunto é crucial para uma estratégia de desenvolvimento do País.

Na Educação, na Segurança Social, na RTP, no Banco de Portugal, por todo o lado salta aos olhos que em Portugal há uma razão de fundo que impede a elaboração e execução de políticas fundamentadas no melhor conhecimento científico disponível, com objectivos e etapas planeadas, com os recursos adequados e com procedimentos de avaliação e responsabilização. A questão dos incêndios pôs a nu um problema que não temos querido enfrentar porque incomoda muitos. A acusação no “caso” Operação Marquês diz-nos que esse problema envolve partidos até ao mais alto nível e tem múltiplas ramificações. Muita gente fingiu que não sabia de nada e, por isso, foi conivente por omissão.

O problema é este: temos sido governados por gente que não devia ter acedido aos cargos que ocuparam ou ainda ocupam. O País tem estado aliviado com o "poucochinho" que o actual governo conseguiu, mas agora está confrontado com uma realidade nua e crua que não pode ignorar. As políticas que têm efeitos a médio e longo prazo precisam de dinheiro para o muito investimento público que Bruxelas não permite; precisam de uma administração pública purgada dos boys que a ocupam, mas os partidos que têm governado metem a cabeça debaixo da areia porque eles são isso mesmo, no essencial uma estrutura de assalto à administração pública; precisam de uma Assembleia da República repleta de deputados qualificados de onde saiam governos responsabilizados, mas os partidos colocam nas listas os carreiristas e, sabendo que estão desacreditados, lá vão disfarçando através do convite a algumas personalidades, indiscutivelmente competentes, mas sem influência política relevante.

O apodrecimento técnico, político e moral dos partidos que nos têm governado deu nisto. Não, depois deste choque de realidade, o País tem de mergulhar a fundo no debate sobre o essencial. Precisamos de organizar uma resposta aos discursos oficiais que vão passar ao lado desse essencial. Precisamos de uma mudança profunda no sistema de recrutamento para a Administração do Estado e um aprofundamento radical da nossa democracia que ponha em causa o sistema político-partidário dominado pelo "centrão". Não chega "mudar de modelo" mantendo o sistema de relações que nos conduziu até aqui. Temos mesmo de dizer basta.

Finalmente, a chuva chegou. Estou a ouvi-la cair e pergunto, fica tudo na mesma?

20 comentários:

Anónimo disse...

A chuva chegou tarde e fraca, para quem se lembre das previsoes cientificas da semana passada. Nada vai parar o fogo no Portugal rural abandonado, e os partidos nao fazem mais que responder a prioridades da massa dos eleitores urbanos. Enquanto os ultimos velhos nao morrem esse Portugal campo de diversoes do turista ocasional vai tendo os seus casais arruinados e carreiros invadidis pelo mato, mas ainda com alguns onde se cruzam os pastores restantes, algum agricultor "improdutivo" de enxada as costas, e os turistas a tirar fotografias e procurar os animaizinhos idealizados pelo pan. Testemunhas dos ultimos dias de um velho mundo a que nao dao valor suficiente para preservar pagando pelos seus produtos. Aproveitem enquanto podem senhores bloggers, nao vai durar muito mais.

josé neves disse...

"A acusação no “caso” Operação Marquês diz-nos que esse problema envolve partidos até ao mais alto nível e tem múltiplas ramificações. Muita gente fingiu que não sabia de nada e, por isso, foi conivente por omissão."

Por acaso o senhor Bateira já sabe que a acusação no caso Operação Marquês prova os crimes relatados nessa acusação ou tem uma opinião convicta baseada nos relatos do "cm"?
Mas a sua opinião é grave pois implica uma acusação a "muita gente que fingiu que não sabia de nada e, por isso, foi conivente por omissão". Já reparou que o Bateira terá sido muito mais conivente dos que acusa porquanto sabia e não acusou, tinha provas e não as deu ao MP ou não as denunciou e publicou neste seu blogue.
Senhor Bateira para denegrir os partidos e os políticos que há já temos a escola cavaquista, os oportunistas e os extremistas de vários extremos que andam por aí. Por favor não queira entrar, também, nuna destas escolas e ser professor.

Jaime Santos disse...

Raramente estou quase integralmente de acordo consigo, Jorge Bateira. E ainda bem que não chamou a UE e o Euro à colação para explicar aquilo que de facto só é culpa nossa. Obviamente, num ponto discordo. Abra-se os cordões à bolsa para fazer os investimentos que o País precisa e vai ver o regabofe que isto será, com este pessoal político ou com outro. Ou por acaso julga que a cultura política de um País pode ser mudada de um dia para o outro? Se calhar julga e isso é razão para preocupação.

Agora, o que se esperaria era que em lugar de proclamações políticas aparecessem propostas de medidas concretas, talvez mesmo um programa de Governo alternativo. Os Partidos da 'Geringonça' preocupam-se com a distribuição de migalhas, bem merecidas na maior parte dos casos, por aqueles que apertaram os cintos de 2010 até agora. O que sugere supera isto em ordens de magnitude. Mas a limpeza da administração pública não pode ficar pela administração central, tem igualmente que ocorrer a nível local. E aí, ou muito me engano, ou ficará tudo na mesma, fruto de um consenso muito alargado onde provavelmente só não se incluirá o BE...

Anónimo disse...

Queria dar-lhe o parabéns pelos últimos textos que tem publicado aqui no blogue, sempre pertinentes e absolutamente certeiros. O Jorge Bateira está coberto de razão quando afirma que o problema não é a falta de resposta no combate aos incêndios é a falta de resposta ao país.

Alice disse...

Muito bom post.

O sistema não só permite que esses bandidos continuem o seu saque, como ainda parece incentivar ou apenas facultar lugares de responsabilidade a gente dessa índole.

Não sei como alterar esta realidade, mas observo que muita gente se revê numa "política" transformada em algo onde só há lugar para batalhas campais partidárias ou clubísticas, totalmente estéreis de ideias ou qualquer debate racional a propósito das mesmas.
Porventura acreditarão que serem cúmplices e lacaios da nojeira lhes garanta um "favorzinho" mais tarde, à laia de recompensa.
A moral saiu do campo político e as decisões estratégias, opções, reflexão, busca de informação, contacto e troca de impressões com quem pensa parecido e diferente de nós... está tudo lá, escondido no negro do luto nacional...

mensagensnanett disse...

Já chega!
Foram mestres/elite em economia que enfiaram ao contribuinte autoestradas 'olha lá vem um', estádios de futebol vazios, BPN, etc, etc, etc.
Leia-se: quem paga - vulgo contribuinte - não pode deixar de ter uma palavra a dizer!
---»»» Leia-se: O CONTRIBUINTE NÃO PODE PASSAR UM CHEQUE EM BRANCO A NENHUM POLÍTICO!!!
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Democracia Semi-Directa!
-» Explicando melhor, em vez de ficar à espera que apareça um político/governo 'resolve tudo e mais alguma coisa'... o contribuinte deve, isso sim, é reivindicar que os políticos apresentem as suas mais variadas ideias de governação caso a caso, situação a situação, (e respectivas consequências)... de forma a que... o contribuinte/consumidor esteja dotado de um elevado poder negocial!!!
-» Dito de outra maneira: são necessários mais e melhores canais de transparência!
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Exemplo:
Todos os gastos do Estado [despesas públicas superiores, por exemplo a 1 milhão (nota: para que o contribuinte não seja atafulhado com casos-bagatela -» a Democracia Directa tem precisamente este inconveniente!!!)], e que não sejam considerados de «Prioridade Absoluta» [nota: a definir...], devem estar disponíveis para ser vetados durante 96 horas pelos contribuintes na internet num "Portal dos Referendos"... aonde qualquer cidadão maior de idade poderá entrar e participar.
-» Para vetar [ou reactivar] um gasto do Estado deverão ser necessários 100 mil votos [ou múltiplos: 200 mil, 300 mil, etc] de contribuintes.
{ver blog « http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/ »}
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Um caso:
- dinheiro mal gasto... podia ter sido utilizado na compra de maquinaria florestal... no sentido de serem criadas ZONAS DE SEGURANÇA... para que a população possa ficar em segurança face à eventualidade de ficar cercada por um incêndio.

Democrata disse...

As perguntas que se devem colocar:

- Porquê que os recentes incêndios que atingiram proporções gigantescas, só deflagraram após o governo da República de Portugal (RP) recusar às empresas privadas de meios aéreos de combate aos fogos, a renovação dos seus contratos com o Estado?

- Tendo em conta que as empresas detentoras desses meios aéreos, possuíam uma frota inoperacional e ineficaz no combate aos fogos, porquê que só agora e passados vários anos, o Partido Social Democrata (PSD), o Centro Democrático Social (CDS), e os média, insistem em tentar imputar ao actual governo a culpa e a responsabilidade de não existir em Portugal, desde à quatro décadas, uma estratégia de prevenção e combate aos incêndios?

- Qual a relação do Partido Social Democrata (PSD), na criação e controlo dessas mesmas empresas privadas, detentoras dos meios aéreos de combate aos fogos, que recebiam financiamento por parte do Estado da República de Portugal (RP), para garantir o pagamento de salários dos seus funcionários e o seu próprio funcionamento?

Anónimo disse...

Estando na generalidade de acordo com o escrito por Jorge Bateira:

"Começa a ser muito difícil olhar para estes fogos como se fossem todos eles produto de causas naturais ou de incendiários loucos ou doentes. A coisa tem, inclusivamente, contornos demasiado odiosos para ser obra do chamado lobby dos fogos... não tenho hoje grandes dúvidas que estes fogos são obra de gente a soldo de quem está interessado em derrubar este poder político. Não sejam ingénuos, as pessoas são extremamente activas nestas actividades, sobretudo quando não lhes restam grandes alternativas no plano da luta política. Se assim for, não há que fugir ao desafio: os serviços de informação da República têm que cumprir o seu dever, o esforço de pesquisa deve ser orientado para a detecção dos interesses que enunciei, as forças de segurança, com a colaboração das forças militares, devem manter um dispositivo permanente de vigilância orientado pelas informações que forem recolhidas. Há que lidar com este inimigo implacável de uma forma igualmente implacável.
Se o leitor ainda achar que estou a exagerar, note apenas o seguinte: este fim de semana, atendendo à chuva prevista para os próximos dias e à chegada de tempos mais húmidos e com menores temperaturas, era a ultima oportunidade de provocar danos físicos graves e, eventualmente, danos políticos na "geringonça" ... Viu-se o que aconteceu, acha o leitor que foi apenas coincidência?
E então, vamos continuar a fingir que todos estes fogos não são acções inimigas do actual poder político? Vamos continuar a ter medo de chamar os bois pelo nome?"

(General da Força Aérea na reserva Vitor Cunha)

João Pimentel Ferreira disse...

Diz uma série de verdades indesmentíveis. Cargos que exigem elevado conhecimento técnico estão ocupados por boys. O indivíduo que estava no comando operacional de Leiria aquando de Pedrogão era advogado, mas com ligações ao PS. Outros dos boys do PS colocados pela ministra tinham cursos de história, desporto e lazer. Todavia assinalo que o aproveitamento político que se faz da tragédia tanto vem da direita como da esquerda. O relatório independente referiu claramente que as falhas de comunicação do sistema SIRESP, uma parceria com privados, teve impactos negligenciáveis, mas a esquerda achou por bem aí colocar todas as críticas. Mas quem falhou, de acordo com o referido relatório, foi o estado português e as suas administrações públicas. Se a protecção civil fosse em remota teoria política, dirigida por privados, não faltaram os protestos nas ruas e os verborrágicos aforismos "o capitalismo mata" a mando de "neoliberais assassinos". Mas os aviões das parcerias privadas, mesmo que onerosos que sejam, sempre funcionaram, os helicópteros nas parecerias privadas funcionaram e as falhas do SIRESP foram irrelevantes para a dimensão da tragédia. A falha foi dos comandos do estado português porque se encheu de amigos partidários incompetentes. E a esquerda não se retrata ao apoiar um governo que aumenta os funcionários públicos, gastando centenas de milhões para esses aumentos, mas que investe apenas 25 milhões em prevenção contra incêndios no presente orçamento. A função principal de um estado é proteger a integridade física dos seus cidadãos.

João Pimentel Ferreira disse...

Está a insinuar que os opositores à geringonça já entraram numa lógica marcadamente terrorista? Tem noção do que está a insinuar?

Anónimo disse...

Pimentel continua um aldrabão de trazer por casa. Ideologicamente orientado e eticamente desorientado:

" O relatório independente referiu claramente que as falhas de comunicação do sistema SIRESP, uma parceria com privados, teve impactos negligenciáveis, mas a esquerda achou por bem aí colocar todas as críticas."

Comecemos pelo final

Pimentel tem que demonstrar que a esquerda achou por bem colocar todas as críticas no Siresp

Pimentel tem que demonstrar que o referido relatório independente é o "relatório" e que aquilo que reproduz constitui a luz e a verdade, feita Bíblia para coisas como Pimentel


Anónimo disse...

A acusação de "aldrabão" a Pimentel parecerá excessiva tendo por base apenas o já referido?

Vamos esclarecer este ponto.

A água benta sobre o Siresp atirada tão apressadamente por Pimentel é claramente prematura. Prematura e ideologicamente enviesada, fazendo parecer um neoliberal a tentar arranjar argumentos para limpar a trampa que é o neoliberalismo. À custa dos fogos. Se fosse um tipo como o Pimentel acrescentaria ..à custa de vítimas inocentes.

Lia-se há dois dias isto:

"O combate ao incêndio que afetou 70 por cento do território de Mira foi prejudicado por falhas no SIRESP

Segundo relato feito hoje à agência Lusa por Nuno Pimenta, comandante dos Bombeiros de Mira, o SIRESP só funcionou para as comunicações internas, o que contribuiu para o isolamento do concelho logo nas primeiras horas do combate ao fogo, que teve dezenas de frentes.

"Ainda hoje não é possível usar o SIRESP para comunicar para fora do concelho", explicou o comandante, na presença do presidente da Câmara de Mira, Raul Almeida, e do responsável pelo quartel local da GNR, sargento Luís Santos, que relataram situações semelhantes.

Segundo o autarca, esta limitação do SIRESP contribuiu para o isolamento de Mira durante a fase aguda dos incêndios, que tiveram dezenas de frentes num território de 120 quilómetros quadrados densamente florestado.

Com as redes de telemóveis em falha desde as primeiras horas, o SIRESP limitado e os principais acessos cortados (EN109 e A17), Mira esteve "entregue a si mesma" durante a noite de domingo para segunda-feira, refere Raul Almeida

Este é apenas um exemplo saído na informação generalista

A água benta de Pimentel sobre o Siresp é exactamente isto. Água benta ideologicamente enviesada e prematuramente debitada.

Anónimo disse...

Conviria que Pimentel lê-se um pouco mais e não apenas o pasquim online do Observador, perdão, do Público. Ou vice-versa tanto faz.

Há três relatórios sobre o incêndio de 17 de Junho que merecem credibilidade e estudo atento:

O da Comissão Técnica Independente (relatório 1), o de especialistas coordenados por Domingos Xavier Viegas (relatório 2) e o último, divulgado há dois dias elaborado pelo CEIPC-Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil e coordenado por Duarte Caldeira, ex-presidente da Liga dos Bombeiros (relatório 3)

Recorramos a um jornal generalista como o DN para não sermos acusados de manipulação dos ditos

"O sistema de comunicações no terreno

Relatório 1. Os especialistas da CTI acabam por minimizar a resposta dos sistemas de comunicações. "As características do incêndio, as condições em que evoluía e as previsões meteorológicas existentes não anteviam o seu domínio rápido."Mas apontam insuficiências ao SIRESP, "estruturalmente rígido", defendendo que "o sistema de comunicações deve estar preparado para acudir a todos os locais, mesmo os mais inacessíveis, para debelar os seus efeitos", "socorrer as pessoas", "defender o património" e "preservar o ambiente."

Relatório 2. Segundo o documento preparado por Xavier Viegas, "o acesso aos lugares e povoações tornou-se difícil e embora os recursos de combate já fossem em número significativo, a dificuldade com as comunicações incapacitou o comando na alocação destes meios na prestação de socorro às pessoas e na proteção de bens". Ao longo das suas 238 páginas referem-se muitas vezes as "dificuldades de comunicação" sentidas, que afetaram as decisões tomadas e não tomadas e os alertas para a situação cada vez mais difícil no terreno.

Relatório 3. Para o CEIPC, "o colapso das comunicações em vários momentos vitais da operação constitui um dos réus das consequências catastróficas que se verificaram" no incêndio. "A impossibilidade de manter em permanência um fluxo de comunicações" do posto de comando para o terreno "foi o principal responsável pela incapacidade de gerir em tempo útil os inúmeros pedidos de socorro formulados, através de diversas vias, por cidadãos ameaçados pelas chamas", acusa o relatório, que refere a "falta de robustez da rede SIRESP".

De caras e de frente:

-Nem o Siresp teve "impactos negligenciáveis" mesmo para o relatório 1 ( claro que se pode alegar que a minimização da minimização da minimização à moda do Pimentel se traduz para este em "negligenciável", mas por aqui estas aldrabices não passam

-Nem o Siresp é de modo nenhum inocente ou inocentado. E a sua responsabilidade está longe de ser "negligenciável". Está mesmo mais próxima de ter sido criminosa

Caiem assim por terra as diatribes ideologicamente motivadas e raivosamente esgrimidas pelo Pimentel

Anónimo disse...

O SIRESP nasceu torto. E o que nasce torto tarde ou nunca se endireita». O SIRESP é uma parceria público-privada, é um contrato assinado por um Governo de gestão PSD/CDS-PP por um ministro com ligações ao Grupo SLN/BPN, que é, por acaso, uma das empresas que constitui o SIRESP, e custou ao Estado 485 milhões de euros.

Hoje sabemos, por via de uma pergunta colocada a Oliveira e Costa, na comissão de inquérito ao BPN, que, como ele admitiu, o SIRESP custou no máximo 80 milhões de euros, isto é, sabemos que o Estado pagou cinco vezes mais por um sistema do que ele, efectivamente, custou. ( negociatas privadas para benefícios privados).

Mais: continuamos a pagar por ano cerca de 40 milhões de euros.

Não faz qualquer sentido que o sistema integrado de comunicações esteja nas mãos de privados, sujeito à lógica do lucro e não sujeito à lógica de serviço público de vital importância.

Não deixa de ser irónico que no SIRESP, sendo constituído por um grupo de empresas onde assume particular importância a SLN/BPN e a ESEGUR do Grupo BES, dois bancos intervencionados pelo Estado, em que, por opção do PSD, CDS e PS, tivessem sido «nacionalizados» os prejuízos sem tocar nos activos destas empresas.

Recorda-se aqui que há outras opções no nosso País: por exemplo, os Açores optaram por uma solução tecnológica distinta, mais barata e, pelos vistos, mais eficiente; as Forças Armadas desenvolveram capacitação própria para responder às comunicações de emergência.

Anónimo disse...

Mas a farsa à moda de Pimentel continua.

A falha foi dos comandos do estado português porque se encheu de amigos partidários incompetentes.

Os amigos partidários incompetentes são-no . Mas esses amigos partidários surgem daquela área cinzenta do nosso sistema político-partidário dominado pelo "centrão". Com as promiscuidades com o grande poder económico que todos conhecemos e que foram denunciados há muito tempo.

Só que tais denuncias foram sistematicamente silenciadas pelos nossos media, pelos nossos governantes, (servidores ortodoxos do projecto neoliberal), pelos seus boys de serviço e pelos seus bloggers oficiais e oficiosos

Anónimo disse...

A baba vergonhosa contra os funcionários públicos por parte de Pimentel aí está.

Em meados do século passado acontecia o mesmo. Os alvos eram outros: judeus, comunas, minorías étnicas.

O mesmo paleio vergonhoso e asqueroso. Os FP são aumentados ( são mesmo?) e não há dinheiro para o combate aos incêndios. O mesmo babar odiento e pegajoso. Esta gente não hesita perante nada

Ali ao lado Pimentel protegia Passos Coelho da sua política criminosa. "Esquecia-se" das premeditada orientações neoliberais de colocar um ponto final nas funções sociais do estado.

Esfreguemos os factos na face de Pimentel:

"O orçamento de despesa da entidade pública responsável pela gestão do património florestal do Estado e das áreas protegidas foi altamente afectado pelos cortes orçamentais do anterior governo. Entre 2011 e 2015, o orçamento caiu mais de 25%, passando de mais de 82 milhões de euros para pouco mais de 61 milhões durante esse período.

A fusão da Autoridade Florestal Nacional e do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade em 2012, que criou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), resultou num corte de 10 milhões de euros no seu financiamento, logo no primeiro ano completo do governo do PSD e do CDS-PP, com Passos como primeiro-ministro e Cristas como ministra da tutela.

Até à derrota eleitoral de 2015, o orçamento do ICNF foi sofrendo cortes sucessivos, perdendo outros 10 milhões de euros até ao final da legislatura. O orçamento para investimento foi o que mais sofreu a partir de 2013: nesse ano passa de 9 para 3 milhões de euros; em 2014 é praticamente obliterado, passando para 500 mil euros.
Foi a queda do anterior governo que permitiu aumentar, ainda que de forma muito insuficiente, o investimento na defesa da floresta contra incêndios e, particularmente, no funcionamento das equipas de sapadores florestais. Os cerca de 14 milhões de euros anuais reservados para a defesa da floresta contra incêndios durante os anos do PSD e do CDS-PP passaram a 32 milhões em 2016 e, no caso das equipas de sapadores florestais, o compromisso financeiro para o seu funcionamento passou de 9 para 26 milhões de euros.

A bênção ao aldrabão do Passos e de Cristas choca com a realidade da sua política.

Anónimo disse...

Mas há mais.

Diz Pimentel:
"Mas os aviões das parcerias privadas, mesmo que onerosos que sejam, sempre funcionaram, os helicópteros nas parecerias privadas" Parece que não funcionaram. Parece que os contratos, negociados em 2012, eram demasiado rígidos e demasiado prometedores...para alguns

Onerosos? Onerosos para quem? Para o erário público
E abençoados para quem?
Para os interesses de tais parcerias privadas

2014 foi o ano em que o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo (Governo PSD/CDS), liquidou a Empresa de Meios Aéreos (EMA)

Anónimo disse...

29 de outubro de 2014 às 21:37
Numa conferência de imprensa realizada na Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), Miguel Macedo adiantou que o processo de liquidação e extinção da EMA foi "complexo", sublinhando que vai trazer "efectivas poupanças para o Estado".

"Foi extinta a única empresa da esfera do Ministério da Administração Interna, o que proporcionará uma poupança anual estimada de 37% da despesa, correspondente a 11.77.354 euros", disse o secretário de Estado da Administração Interna, João Almeida,( do CDS/PP) também presente na conferência de imprensa.

A secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco, disse que "o resultado final da EMA é negativo", existindo um passivo, estimado em seis milhões de euros, que "o Estado vai ter de absorver".

Durante a apresentação do processo de extinção e liquidação da EMA, João Almeida referiu que, num primeiro concurso público, foram adjudicados a um operador privado os três helicópteros ligeiros da EMA e seis dos seus trabalhadores.

Um segundo concurso, que deverá estar concluído em Fevereiro de 2015, destina-se à manutenção e operação dos seis helicópteros Kamov e dos restantes 25 trabalhadores.

O ministro da Administração Interna assegurou que a empresa vencedora do concurso público internacional para manutenção e operação do Kamov vai ficar com a responsabilidade dos trabalhadores da EMA.

Miguel Macedo referiu ainda que foi criado na ANPC um gabinete de apoio à gestão dos meios aéreos, que não terá custos.

A EMA tinha um custo total de 31,5 milhões de euros com a gestão de seis Kamov e três helicópteros ligeiros, passando a ter, no futuro, um custo de 19,8 milhões de euros, que será suportado por privados, explicou João Almeida. "Temos extinta e liquidada a EMA dois dias antes do prazo", disse ainda Miguel Macedo, referindo o prazo de 31 de Outubro para o fim da empresa.

A empresa foi criada em 2007 e integrava um dispositivo permanente de meios aéreos para o combate de incêndios florestais, vigilância de fronteiras, recuperação de sinistrados, segurança rodoviária e apoio às forças e serviços de segurança, protecção e socorro.

Anónimo disse...

Mas há mais.

Os "opositores à geringonça"

A geringonça está-lhes atravessada nas fauces. Ao Passos e ao Pimentel. Ainda se debatem com ela. Ainda mostram que o verniz democrático estiola com facilidade. Ainda mostram que não esqueceram nem aceitam o funcionamento democrático da Assembleia da República.

Temos a Geringonça. E temos os "opositores da geringonça". Não , aqui não se invocam pafistas ou caranguejolas. Aqui só se zurze contra a geringonça.

A bem da Nação, claro

(O general deve ter mesmo acertado no alvo).

Anónimo disse...

Eu, António Marcos Galopim de Carvalho, com 86 anos de idade, professor catedrático jubilado da Universidade de Lisboa, nas Faculdades de Ciências e de Letras, ex-director do Museu Nacional de História Natural (durante 20 anos), doutorado pela Universidade de Paris e de Lisboa, autor de cerca de 300 títulos, entre artigos científicos, de divulgação e de opinião, de centenas de “posts” em blogues e no Facebook, de 20 livros dirigidos aos ensinos secundário e superior e à divulgação científica e de seis de ficção. Colaborador, sempre a título gracioso (e borla, como diz o povo), com dezenas de escolas, autarquias (de todas as cores políticas) e universidades de todo o país.

Isto tudo, ao estilo de quem está a “puxar pelos galões” (que todos os que me conhecem e me lêem sabem que não puxo), para conferir algum peso ao desabafo de uma convicção muito minha, muito séria, como cidadão declaradamente independente dos aparelhos partidários.

O Verão quente e extremamente seco que vivemos (as alterações climáticas estão a alertar-nos para tempos difíceis) justifica a dimensão e a intensidade dos incêndios florestais que tanta dor infligiram a tantas famílias e tantos prejuízos causaram à economia do país. Mas não explica o elevado número de focos de incêndio, em locais diversos, detectados durante a noite, sem trovoadas secas nem fundos de garrafas de vidro ao sol. O calor e a secura propagam e alastram os fogos mas não os iniciam.
Os imensos e trágicos incêndios do passado fim-de-semana (falou-se em mais de 500), alguns iniciados de noite, afiguram-se-me como que um “aproveitar” os últimos dias deste Verão que nos entrou Outono adentro (pois sabia-se que a chuva vinha aí) para dar continuidade a uma guerra surda contra o Governo legítimo cujos sucessos são, por demais, conhecidos cá dentro e lá fora.

Basta ler e ouvir os comentadores dos jornais e das televisões ao serviço dos poderosos, para perceber como esta tragédia nacional continua a ser utilizada por eles nesta guerra. E a verdade é que têm tirado algum proveito (não todo) desta estratégia. É notório que o Governo está fragilizado. Também por culpa sua, diga-se, que, em minha opinião, não soube ou não quis “partir a loiça” na altura certa. Neste momento, e com tamanha e bem orquestrada campanha contra a “geringonça”, a sorte do Governo é que a mais do que fragilizada oposição não tem nada a propor aos portugueses.