quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O fim do princípio da globalização?


Surpreendentemente, um membro do governo alemão foi portador de potenciais boas notícias: “As negociações com os EUA fracassaram, mesmo que ninguém o queira admitir”, afirmou Sigmar Gabriel, vice-chanceler e líder da cada vez menos relevante social-democracia alemã, a propósito das negociações em torno da famigerada Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP). A confirmar-se, será uma vitória para os povos dos dois lados do Atlântico.

Uma derrota que a Comissão Europeia (CE), dada a sua natureza tão pós-democrática quanto liberal, se recusa a aceitar, declarando que as negociações ainda estão em curso, sendo esta entidade que formalmente conduz estas matérias. Entretanto, o governo francês, também pressionado por uma opinião pública com amplos segmentos que não se deixam enganar pelas novas ficções do chamado comércio livre, um incómodo que a CE definitivamente não tem, até porque não existe um povo europeu, também já veio apelar ao fim das negociações no próximo ano eleitoral.

Apetece usar e baralhar para este propósito uma famosa citação de Churchill, um dos heróis dos que gostam de convocar uma certa “civilização ocidental”, e a unidade económico-política entre os dois lados do Atlântico, para ofuscar a realidade do imperialismo, de que o TTIP seria só uma peça recente: esta vitória dos povos não seria obviamente o fim da globalização, não seria sequer o princípio do fim, mas temos de o tornar o fim do princípio da globalização, isto é, o fim da ideia da integração económica crescente como destino político inevitável. Sim, desglobalizar é preciso.

31 comentários:

Anónimo disse...

Um texto claro e preciso.

pvnam disse...

Todos diferentes, Todos iguais... isto é: todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta!
.
Quando se fala no (LEGÍTIMO) Direito à Sobrevivência de Identidades Autóctones [nota: Inclusive as de 'baixo rendimento demográfico'... Inclusive as economicamente pouco rentáveis...] Nazis Económicos (nazis-à-USA) - desde há séculos com a bênção de responsáveis da Igreja Católica - proclamam logo: «a sobrevivência de Identidades Autóctones provoca danos à economia...»
[nota: os nazis-económicos (nazis-à-USA) provocaram holocaustos massivos em Identidades Autóctones]

Jose disse...

A globalização é o inimigo!
Longe vão os tempos dos 'proletários de todo o mundo uni-vos'.

Há que fechar as nações em Estados?
Há que unir nações em Estados?
Não se sabe bem, mas seguro e certo é que o neosocialismo é coisa de pouca monta a construir em paróquias pequenas.

Anónimo disse...

Parece que a idiotia assentou amarras, procurando confundir a união de proletários com a globalização.

E faz de todos nós idiotas. Odeia os proletários e o socialismo.Sempre os odiou.E agora chora pelos tempos perdidos em que andou a combater a velha frase do Manifesto Comunista?
Ama a globalização.Sempre a amou. E agora quer que todos nos prostemos perante a sua ideologia ao serviço do capital e dos seus maiorais?

Saem-lhe pérolas como estas, fechando as nações em estados ( que disparate é este? ) e unindo as nações em estados (voltámos aos tempos do ensino da política ao jeito do Estado Novo?). Não lhe bastava aldrabar e mentir sobre o significado do internacionalismo proletário, agora nem tem tomates para assumir o que é a globalização.

Coisa de pouca monta a construir em paróquias pequenas na sua linguagem de seminarista a tentar vender as suas missas pelo preço da prostituição da verdade

Anónimo disse...

Joseph Stiglitz,alguém insuspeito de ser marxista, escrevia no seu The price of Inequality que a "chamada globalização tem sido outro factor para as crescentes desigualdades. Conduzida por e para o 1% dos mais ricos, proporciona o mecanismo que facilita a evasão fiscal e impõe pressões que dão a esse 1% vantagem quer nas negociações com os trabalhadores quer na política, pela perda de controlo dos países devedores sobre o seu próprio destino, que fica nas mãos dos credores.(pag 116)

Vemos assim que as paróquias com que nos querem entreter são afinal um logro. Um logro fabricado pela família dos tais 1% dos mais ricos para o controlo dos restantes 99%.
E aqui começa a esboroar-se o patético do enunciado pelo evangélico globalizador

Anónimo disse...

A globalização é de facto um dos rostos do inimigo.
Para submeter os Estados aos objetivos do neoliberalismo e da globalização capitalista torna-se necessário que estes serem estruturalmente disfuncionais do ponto de vista económico, financeiro, social, sociológico e político.

Este é o sonho da trampa do Capital. Será também o sonho de jose. Por isso estas suas cenas canalhas, sem respeito pela inteligência dos demais

Jose disse...

Há um mal maior na globalização: aumentam as desigualdades!
Gravíssimo!
Todos beneficiam do acréscimo de riqueza, mas a distância entre os mais e os menos aumenta.

Ainda que todos empobreçam há que diminuir essa distância!
Esse é o mais forte impulso antiglobalização e seguramente a geringonça dará ao nível interno exemplar demonstração dessa acção indispensável à paz e felicidade dos povos,

Unknown disse...

"Todos beneficiam do acréscimo de riqueza, mas a distância entre os mais e os menos aumenta."
??????? Adonde é que o Jose ensina este tipo de bacorada??? E chama a isso teoria económica???? Ainda há vagas para inscrição de alunos???? Não posso perder a oportunidade!!!!

Anónimo disse...


O José enche o blog. O José pra qui o José pra li. O José e´ o “Dantas”... Deixem o pobre diabo descansar porra!
“A propósito das negociações em torno da famigerada Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP). A confirmar-se, será uma vitória para os povos dos dois lados do Atlântico.”
Eu teria mais cuidado em afirmar tal presunção.
Esta gente tudo tem feito para escravizar os povos e, se o negócio não avança e´ porque alguma coisa mais grossa, talvez pior para os povos, eles encontraram no caminho…
Não se iludam, e esperem de pé firme pela pancada. De Adelino Silva

Anónimo disse...

José:

não digo q o paçus cuelho,a paulo portas e todo o cortejo de criminosos(sim, o que é o duarte lima senão um actor de faca e alguidar...)do PSD/CDS de gajos que saem do desgoverno e vão logo a correr para quem 'trabalharam'para as 'empresas', para os 'escritórios' são um Geringonça.Não.É UM BANDO que deveria ir bater com os costados nas piores prisões....

Vai, vai lamber os psicopatas dos teus patrõezinhos, fdp!

Anónimo disse...

A única questão que o texto ignora é que a própria CE é um reflexo da falta de uma Cidadania Europeia (ou povo europeu, ou mentalidade, turba, etc). Isto quer dizer que dentro da própria CE, e talvez até da própria equipa que negoceia o TTIP, há quem não queira que a coisa chegue a bom porto, talvez até pelos mesmos motivos do João.

A natureza da CE não permite que neste momento se venha a público dizer em voz alta que a coisa morreu. Há factores políticos que fazem a afirmação de Sigmar Gabriel perigosa e irresponsável. E toda esta atenção no TTIP faz com que nos esqueçamos que a CE remeteu para os Parlamentos Nacionais a ratificação do CETA.

Não querem debruçar-se sobre esse? ;)

Anónimo disse...

Aumentam as desigualdades?
Mas isso é bom. Porque todos beneficiam.

É simplesmente escandaloso ver um tipo que defende a miséria e a pobreza, os cortes de salários e das pensões vir para aqui dizer que "todos ganham"

O conceito de "todos" deste tipo é o conceito do racista. Há uns tantos que beneficiam do aumento da riqueza. São poucos, claro, a gíria diz que são 1%. Mas são os que interessam.
Não é mesmo Herr jose?

Até o Vaticano. Até o Vaticano aponta que a globalização não diminuiu a pobreza.Bem pelo contrário

Anónimo disse...

Deixem o pobre diabo descansar porque ele está cansado de andar a espalhar a sua doutrina económica e as suas teses de extrema-direita.Até tem nicks em carteira para o que der e vier
É um coitado. Um pobretanas.
É que entre essa gente que tudo tem feito para escravizar os povos está o Jose.

Anónimo disse...

A "globalização" que se está hoje a verificar não é menos manifestação do capitalismo contemporâneo do que as medidas económicas abrangidas pelo termo neoliberalismo. Assim como não podemos nos livrar do neoliberalismo e ao mesmo tempo reter o capitalismo contemporâneo, da mesma forma não podemos nos livrar do capitalismo contemporâneo e ao mesmo tempo reter a globalização contemporânea. Eles em conjunto constituem uma unidade integral que tem de ser transcendida.
A questão que se levanta é: quais são os traços característicos desta unidade que constitui o capitalismo contemporâneo? Obviamente aqui só se pode aflorar alguns deles, mas todos eles decorrem do facto de que o capitalismo de hoje é um "capitalismo desenfreado". A restrição que o capitalismo enfrentava quando estava empenhado numa luta contra a aristocracia (a qual havia entre outras coisas forçado a aprovação de legislações fabris na Inglaterra); a restrição que o capitalismo enfrentava quando estava empenhado numa luta contra a ascensão do proletariado, quando o encarava como se o socialismo estivesse prestes a conquistar o mundo; e a restrição que o capitalismo enfrentava quando estava organizado em linhas "nacionais", quando o capital financeiro "nacional" tentava impor-se sobre o Estado-nação contra a resistência dos trabalhadores, especialmente no período pós segunda guerra quando esta resistência forçou a instituição da democracia eleitoral nos países capitalistas avançados: esta conjuntura de restrições parece por agora tem sido suspensa. O desafio socialista diminuiu por enquanto; e a "globalização" do capital forçou Estados-nação, mesmo aqueles cujos governos obtêm apoio da classe trabalhadora, a aceder às exigências deste capital. As características do capitalismo contemporâneo portanto decorrem de certo modo desta conjuntura de "capital desenfreado". O que são estas características que são imanentes ao capitalismo, mas estão agora a serem exprimidas com uma "liberdade" sem precedentes?

Anónimo disse...

Um desses aspectos (poderemos focar vários) é um enorme aumento da desigualdade económica , não só em riqueza mas também em rendimentos e não só globalmente, entre os trabalhadores do mundo e as oligarquias corporativo-financeiras mundiais, mas também dentro de cada país, entre estes dois pólos dentro de cada país. Este problema tornou-se tão significativo que o livro de Thomas Piketty se tornou um best-seller instantâneo. E mesmo a cimeira económica de Davos dos líderes mundiais do capital listou-a como uma das três principais questões que confrontam a "espécie humana". A razão para este aumento da desigualdade é que enquanto o exército de reserva mundial do trabalho permanece grande e em toda plenitude, suas consequências destrutivas, de não permitir que as taxas de salário reais aumentem, agora não estão confinadas apenas aos países do terceiro mundo onde existem grandes reservas de trabalho. Elas estendem-se aos países capitalistas avançados cujos trabalhadores também têm de evitar reivindicações de aumentos salariais, temendo que o capital, agora "globalizado", se mude para países do terceiro mundo com salários mais baixos. Portanto, com salários reais por toda a parte a não aumentarem, todos os aumentos na produtividade do trabalho aumentam a fatia do excedente no produto e em consequência a desigualdade do rendimento. Isto ocorre globalmente bem como dentro de cada país".
Prabhat Patnaik.

Jose disse...

A globalização tirou centos de milhões da miséria. Esquedalho não vê!
A UE livra-nos da miséria que cavamos. Esquerdopata não vê!
As novas e futuras pensões darão clara notícia da solidariedade que estes coirões organizaram para consumo interno.

Falam em fraternidade?
Significam mama e parasitagem.

Falam em igualdade?
Significam dá cá o teu.

Falam em Liberdade?
Significam calem quem se nos opõe.

Anónimo disse...

Por favor apela-se a que quem aqui comente o faça com um mínimo de urbanidade e sem perder o auto-controlo.
O desespero e a raiva são maus conselheiro e quando a estes se junta a má-criação temos o quadro patético pintado pelo das 13 e 39

Anónimo disse...

Vejamos com calma e com algum sobriedade.

-"Esquedalho" assim escrito é a manifestação do descontrolo histriónico de quem assim tecla?

-"Esquerdopata" é a manifestação da tentativa de clonar um conhecido amigo os torturadores, um tal de Bolsonaro?

"coirões" é apenas a comprovação da disfuncionalidade intra-familiar no processo formativo de quem assim se manifesta? Ou é já fruto das opções ideológicas que acompanha estas coisas?

Anónimo disse...

Antes de irmos à substância da coisa informe-se o sujeito, que se comporta deste modo tão manifestamente grotesco, que não basta colar palavras de forma idiota como se correspondessem a significados. É preciso provar o que se diz. E quando o que se diz é manifestamente um disparate, todo o cuidado é pouco, sob o risco de o tomarmos por um velho tonto ou por um fundamentalista a exercer o seu métier de propagandista aldrabão.

Assim corresponder fraternidade a mama (que linguarejar...pobre mãe) e a parasitagem só mesmo duma cabeça demente e provavelmente com problemas do foro sexual.

Equivaler igualdade a dá cá o teu só mesmo de alguém que tem a mania obsessiva de andar a pedir o que é dos outros de forma quase de vulgar assaltante de colarinho branco.

Dar como significado de liberdade o calar perante quem se lhe opõe é testemunho da verdadeira noção de liberdade e de democracia de quem assim se exprime

Anónimo disse...

Quem fala das pensões e do seu valor futuro é também , veja-se o desconforto de quem tem que o denunciar, quem andou a congratular-se com o roubo destas.

Que gritou de alegria quando viu concretizados os roubos por parte da governança neoliberal

Que verdadeiramente urrou de raiva quando se demonstrou que tal não passava dum roubo por parte da troika e do governo de Passos/Portas(Cristas/Albuquerque

Que perdeu a compostura mínima quando o tribunal constitucional cortou algumas das medidas anunciadas no que às pensões dizem respeito

Anónimo disse...

A miséria que o indivíduo das 13 e 39 diz que cava é também uma miséria de carácter.
Mas não nos compete discutir esta ruminação auto-contemplativa.

Interessa sim já abordar a miséria que a UE nos trouxe e que a marca que a troika deixou é duma clara evidência

Anónimo disse...

Atordoado pela incoerência patética do que afirmou sobre o aumento das desigualdades e do todos beneficiarem de tal, o que restará ainda a quem foi apanhado com as calças na mão?
Calar-se,mudar de rumo,insultar e dizer algumas alarvidades

E repetir, feito papagaio, uma frase batida dos doutrinadores (em descrédito) do neoliberalismo. A globalização e os "centos de milhões".

Infelizmente falta provar o que diz.

Anónimo disse...

Demos a palavra a Prabhat Patnaik:

"A globalização foi anunciada como sendo benéfica para todos, como se fosse um grande passo rumo à melhoria econômica universal. Isto era evidentemente errado e não foram apenas economistas de esquerda que o disseram, mesmo economistas "convencionais" ("mainstream") como Paulo Samuelson disseram isso desde o princípio. A razão para o dizerem era simples: se o regime econômico do mundo permitisse importações livres de bens chineses ou indianos para os EUA, então isto teria necessariamente de prejudicar os salários reais dos trabalhadores americanos, porque estes desfrutando salários muito mais altos estariam então a competir, em seu próprio prejuízo, contra os trabalhadores de baixos salários chineses ou indianos. Portanto o facto de que a globalização necessariamente prejudicaria os trabalhadores nos EUA e em outros países avançados era óbvia para eles, na verdade para todos, de onde também se seguia que ela possivelmente não podia beneficiar todos os segmentos do povo trabalhador do mundo. Mas, de acordo com este argumento, acreditava-se geralmente que a globalização beneficiaria os trabalhadores em países como a China e a Índia, que são países de baixos salários do terceiro mundo".

Anónimo disse...

"Apresentando este argumento de modo diferente, uma vez que o livre movimento de bens e capital através do mundo aumenta a competição entre trabalhadores dos diferentes países, haveria alguma tendência rumo a um apagamento das diferenças salariais entre estes países. E ainda que isto significasse algum aumento nos salários reais dos trabalhadores do terceiro mundo, significaria também uma redução nos salários reais dos trabalhadores metropolitanos.
Mas de acordo com este argumento, possivelmente não se podia piorar as condições do povo trabalhador em ambas as partes do mundo.

Isto, no entanto, é precisamente o que tem acontecido. A globalização certamente piorou as condições dos trabalhadores nos países metropolitanos, um fato recentemente destacado pelo economista Joseph Stiglitz. Quase 90 por cento dos americanos, o que significa quase toda a população trabalhadora daquele país, hoje tem rendimentos reais que estão muito pouco acima do que eram há um terço de século atrás. Hoje os salários mínimos dos trabalhadores americanos estão, em termos reais, pouco acima do que eram há 60 anos atrás. Uma vez que houve algumas melhorias nestas magnitudes na primeira parte destes anos, o que isto significa é que houve uma deterioração no período mais recente, o que coincide com o auge da globalização.

Estatísticas ainda mais impressionantes descrevem o declínio drástico da expectativa de vida entre homens americanos brancos nos anos recentes, um declínio que recorda a queda drástica da expectativa de vida que se verificou na Rússia após o colapso da União Soviética. Um declínio da expectativa de vida, quando não há qualquer epidemia óbvia, é um assunto muito grave. E descobrir um tal declínio no mais avançado país capitalista do mundo testemunha o assalto aos meios de vida do povo trabalhador que a globalização provocou.

Uma história muito semelhante pode ser contada acerca de outros países capitalistas avançados. Sustenta-se habitualmente que os EUA são uma das economias com mais êxito, a primeira sede dos booms dos anos 90 e da primeira década do século actual, originadas respectivamente pelas bolhas "dotcom" e "habitacional", e também a economia que aparentemente está a ver um ressuscitar após o colapso da bolha habitacional. Considerando isto, o facto de que a população trabalhadora naquele país esteja a enfrentar tais dificuldades é extremamente significativo. No Reino Unido, nestes últimos anos houve uma queda drástica nos salários reais dos trabalhadores. Não é de admirar portanto que o descontentamento com a globalização seja generalizado entre os trabalhadores das economias metropolitanas, os quais, uma vez que até agora a esquerda não tomou adequado conhecimento disto, estão a ser explorados pela direita. Fenómenos como a votação do "Brexit" e a emergência de Donald Trump são explicáveis a esta luz".

Anónimo disse...

" No entanto, o que é inexplicável na argumentação que estamos a discutir é o fato de que o povo trabalhador está em pior estado mesmo numa grande faixa dos países de baixo salário do terceiro mundo, dos quais a Índia é um exemplo excelente. A mais irrefutável evidência disto vem de dados de consumo alimentar. Tomando o inquérito do NSS para os anos 1993-94 e 2009-10, os quais correspondem em termos gerais ao período de políticas neoliberais associadas à globalização, as percentagens do total da população rural com uma ingestão de calorias abaixo das 2.200 por pessoa por dia (a "referência" para definir pobreza rural) nestas duas datas foram 58,5% e 76% respectivamente. As percentagens da população urbana abaixo das 2.100 calorias por pessoa por dia (a "referência" para definir pobreza urbana) nestas duas datas foram 57% e 73% respectivamente.

Tão gritante foi este aumento, especialmente durante um período em que se supunha que a Índia estivesse a experimentar taxas de crescimento do PIB sem precedentes, que o governo ordenou um novo inquérito do NSS para o ano 2011-12, o qual foi um ano de grande colheita, com base em que os números da ingestão de calorias de 2009-10, um fraco ano agrícola, haviam sido excepcionalmente baixos devido às fracas colheitas. Quando este inquérito foi completado, os números que ele vomitou, embora sem dúvida melhores do que 2009-10 havia indicado, ainda mostravam um notável aumento nas percentagens de população abaixo destas normas de calorias durante o período da globalização: para a população rural a percentagem foi 68 (a comparar com 58,5% de 1993-94) e para a população urbana foi de 65% (a comparar com os 57% de 1993-94). Tanto a ingestão per capita de calorias como a de proteínas da população mostram declínio durante este período.

Procurou-se explicar este aumento da deficiência nutricional de vários modos, incluindo a sugestão de ser indicação de que o povo estava a ficar numa situação melhor e a diversificar o seu consumo afastando-se da alimentação em direção a outras coisas como educação e cuidados de saúde. Mas estas explicações eram claramente espúrias: por toda a parte do mundo, quando rendimentos reais aumentam o povo consome maiores quantidades de cereais direta e indiretamente (na forma de alimentos processados e produtos animais em cuja produção os cereais entram como rações). Assim, a descoberta de que na Índia havia um declínio real na absorção de cereais para todas as utilizações e portanto declínio tanto na ingestão de calorias como de proteínas durante o período da globalização indicava claramente que os rendimentos reais dos trabalhadores, depois de considerar a inflação, especialmente a ascensão de preços que acompanha a privatização de serviços essenciais como educação e cuidados de saúde, estavam em média a declinar ao invés de aumentar em termos per capita. Por outras palavras, um fenômeno semelhante àquele dos países capitalistas avançados também estava a verificar-se na Índia e em vários outros países do terceiro mundo, o que contraria a argumentação apresentada acima. Na verdade contraria tanto que poucos mesmo acreditam ser verdadeira. Como explicar isto?"

Anónimo disse...

" A argumentação apresentada acima assumia basicamente que a essência da globalização consistia na comutação de atividade dos países avançados para economias do terceiro mundo e que uma tal comutação basicamente esgotaria as reservas de trabalho do terceiro mundo, levando a uma ascensão salarial. O que é esquecido é que a globalização também tem outros efeitos, incluindo acima de tudo um esmagamento da pequena produção pelo setor capitalista. O resultado é que muitos pequenos produtores abandonam suas ocupações tradicionais para migrarem para as cidades em busca de emprego, o que incha o total do exército de trabalho para o capitalismo. Esta migração, juntamente com aumento natural da força de trabalho, não pode ser absorvida dentro do exército de trabalho ativo, porque políticas neoliberais associadas à globalização também levam a uma remoção de todas as restrições sobre o ritmo da mudança estrutural e tecnológica, a qual aumenta o ritmo do crescimento da produtividade do trabalho a expensas do crescimento do emprego.

Desenvolve-se um círculo vicioso aqui. Na medida em que incham as reservas de trabalho em relação à força de trabalho, isto leva a uma estagnação ou mesmo ao declínio da taxa salarial média real (e certamente a um declínio dos rendimentos reais dos trabalhadores, os quais equivalem à taxa salarial real diárias multiplicada pelo número de dias de emprego). A estagnação ou declínio dos salários reais numa situação de ascensão da produtividade do trabalho resulta numa ascensão da fatia de excedente no produto. Uma vez que o excedente, mesmo que assumamos ser plenamente realizado (isto é, que não há problemas de procura agregada deficiente), é tipicamente gastos em commodities as quais são menos geradoras de emprego interno do que aquelas nos quais são gastos rendimentos salariais, tal comutação de salários para excedente tem um efeito ulterior de contração do emprego e, portanto, contribui ainda mais para uma ascensão da dimensão relativa das reservas de trabalho e para ainda mais comutação de salários para excedente; e assim por diante.

Este círculo vicioso, que se agrava ainda mais quando se verifica uma crise (porque as reservas de trabalho em relação à força de trabalho então incham ainda mais), implica que o efeito da globalização em acentuar a pobreza absoluta visita os trabalhadores também em economias do terceiro mundo e não está confinado apenas a trabalhadores metropolitanos tal como economistas liberais como Samuelson imaginaram"

Há mais. Os "centos de milhões" referidos não passam assim de propaganda néscia dos mesmos que nos andaram a vender as vantagens do neoliberalismo e da globalização. Percebe-se porquê. Há sempre quem fica a ganhar com esta dança toda. Olhe-se para quem tem contas em offshores e reflicta-se um pouco.

Jose disse...

À atenção de treteiros e esquerdalhos (os esquerdopatas ficam dispensados por inútil ser o esforço)

«a riqueza mundial cresceu em média a um ritmo de 2% por ano desde o início do milénio. No entanto, a tendência verificada em Portugal é inversa, fazendo parte do grupo de seis países que registam um valor negativo neste indicador.» Público 13-10-2015.

There has been marked progress on reducing poverty over the past decades. The world attained the first Millennium Development Goal target—to cut the 1990 poverty rate in half by 2015—five years ahead of schedule, in 2010. In October 2015, the World Bank projected for the first-time, that the number of people living in extreme poverty was expected to have fallen below ten percent. Despite this progress, the number of people living in extreme poverty globally remains unacceptably high.
http://www.worldbank.org/en/topic/poverty/overview

Anónimo disse...

A riqueza mundial cresceu diz o das 12 e 21, mantendo o silêncio cobarde e necessário sobre tudo o já aqui dito e sobre os disparates que disse

Cresceu, pois então não cresceu?
Sobretudo para o bolso dos tais 1%

Ó Herr jose, não tem vergonha desta mediocridade medíocre ou não sabe mesmo ler?
Não se lembra do seu comentário idiota sobre o "aumentam as desigualdades!...Todos beneficiam do acréscimo de riqueza"?

Ora e que tal ler outra vez, mas agora mais devagar?

Anónimo disse...

Com o devido respeito e respeitando o silêncio do das 12 e 21 sobre o muito aqui enunciado, sinal de liberdade do sujeito mas também evidência maior de uma impotência argumentativa surpreendente, verificamos que os centos de milhões ficaram reduzidos a uma transcrição dum relatório do banco mundial.

Não nos debrucemos agora sobre esta instituição

Mas verificamos que sobre a globalização ...nada.

A menos que nos queiram fazer engolir a tese que tal período corresponda ao das últimas décadas quando se sabe que o período de políticas neoliberais associadas à globalização reside sobretudo a partir dos anos 2009-2010

Para deixarmos bem claros os conceitos e utilizando a vulgar wikipedia:

A globalização é um dos processos de aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e política,[1][2] que teria sido impulsionado pela redução de custos dos meios de transporte e comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI.[

À globalização foram atribuídas virtudes imensas ( centos de milhões disseram)
Afinal tudo não passa de aldrabice e de propaganda um tanto desesperada na defesa duma sociedade corrupta e sem futuro.

Anónimo disse...

O "todos beneficiam do aumento da riqueza" é assim a marca de água dum antro ideológico. A evitar porque é aldrabice, com toda a certeza. Mas a estigmatizar porque é desonesto e contribui para deturpar por completo a realidade. Ou seja favorece os que se apropriam da riqueza e que tentam perpetuar fazendo crer que o fazem para benefício de todos os restantes

Comprovou-se que a globalização piorou as condições dos trabalhadores nos países ditos metropolitanos. Um facto que mais não merece que o silêncio concordante dos demais interventores nesta discussão.

Pelo que se percebe que a defesa do neoliberalismo e da globalização, do capitalismo em geral, está dependente da mentira e da deturpação dos dados. O que nos espera a manter-se esta situação, é o descrito de forma tão clara pelo economista indiano. Um trajecto descendente irreversível, com a concentração da riqueza num número cada vez menor de pessoas.

A realidade é tão esmagadora que mesmo um partidário fervoroso da exploração e da miséria é obrigado a escrever aqui neste mesmo blog, mesmo neste texto que "aumentam as desigualdades".

Anónimo disse...

Vimos assim que o trabalhador dos EUA, da França, da Grã-Bretanha, de Portugal vê piorar o seu nível de vida com a globalização e com as políticas neoliberais. Vê piorar tudo: a saúde, a educação, o emprego, os salários, as reformas, o direito ao lazer, o tempo de férias, o tempo de vida.

E o que se passa nos países do terceiro mundo?
A resposta foi dada duma forma precisa aí em cima. Com um enorme desgosto para um ou outro, enfeudado à acumulação da riqueza nos tais 1%

"Os dias tranquilos do neoliberalismo estão acabados, o que portanto traz para a agenda histórica uma luta pela sua transcendência. Isto pode ser uma luta combinada, dos trabalhadores que têm sido suas vítimas, e de segmentos da classe média que até agora tinham sido seus beneficiários mas que actualmente estão à beira de tempos árduos. Mas precisamente por causa desta possibilidade, o capitalismo neoliberal também promoverá tendências fascistas e semi-fascistas a fim de dividir o povo. Reagir a estas tendências é o meio pelo qual a esquerda e as forças democráticas podem avançar".

Nem mais.