quarta-feira, 3 de julho de 2013

O impasse


Esta crise política é inerente ao processo de degradação a que o país está sujeito enquanto membro periférico da Zona Euro em crise. Nunca é demais dizê-lo, estamos a viver uma crise terminal do núcleo central da União Europeia sendo Portugal um dos principais focos desta crise.

A estratégia de “desvalorização interna” com “reformas estruturais” (demolição do Estado social) está a produzir o desastre que, à luz da economia política mais fundamentada, seria de esperar. Vítor Gaspar sai porque percebeu que afinal não tem condições políticas para conduzir um “ajustamento” a ferro e fogo à maneira de Domingo Cavallo na Argentina amarrada ao dólar. Por seu lado, Paulo Portas percebeu já há alguns meses que esta política é insustentável. Tudo ponderado, decidiu que era chegado o momento de abandonar o navio até porque a nova ministra não representa qualquer mudança na política económica. No fundo, Portas concorda com Seguro. É preciso tempo para conseguir um equilíbrio nas contas públicas que seja apoiado por crescimento económico, sendo este promovido apenas pelo lado da oferta como está instituído nos tratados da UE.

O teatro de baixa política a que o país está a assistir, com um Presidente da República aparentemente alienado, é indissociável da degradação que a Zona Euro impôs à democracia nos estados membros. Para salvar uma integração monetária que pôs os estados europeus nas mãos do sistema financeiro e dos capitais especulativos mas não criou – nem teria condições políticas e culturais para criar – um estado federal democrático dotado de política orçamental que responda perante as regiões mais frágeis, só resta ao poder central (Bruxelas-Berlim-Frankfurt) subjugar os povos e travar eleições abertas, com alternativas e não apenas alternâncias, porque são um risco, o da eleição de um governo que ouse defender o interesse nacional rompendo com o sufoco do euro.

Mais tarde ou mais cedo haverá eleições e o tempo do desengano conhecerá uma nova etapa. Um futuro governo presidido por António José Seguro será bem acolhido. Preparando o caminho, já telefonou a gente da finança para ganhar respeitabilidade. Fala também da importância da credibilidade. Uma vez eleito, e após um incidente inicial para mostrar que pelo menos tentou, prosseguirá na via sacra do segundo resgate porque as regras da moeda única são para cumprir, pelos vistos a qualquer preço.

Como tenho defendido, para sair deste impasse é preciso sair do euro. Porém, ainda nos falta criar a proposta política que vai liderar este processo de libertação, incluindo a libertação do medo com que muitos economistas querem paralisar os portugueses. É urgente dar razões de esperança aos portugueses.

2 comentários:

João Carlos Graça disse...

Viva, Jorge!
Um brinde por ti, homem. Um brinde para quem, no meio deste descalabro geral e deste teatro de muito baixa política (em que, no fundo, Portas concorda com Seguro... e Louçã com ambos), diz o que fundamentalmente deve ser dito.
De novo, e para que fique bem claro: temos de sair do Euro, e quanto antes!

brancaleone disse...

A direita francesa da Marine Le Pen está a avançar imenso nas sondagens e a coisa mais "absurda" é que esta a basear o próprio programa economico nos estudos de um economista marxista(!!!), o prof. J.Sapir, a voz mais importantes do debate economico anti-euro em França. As esquerdas europeas estão a perder definitivamente a oportunidade de guiar os paises em crise fora deste pesadelo macroeconomico de fascismo financeiro. Depois da queda do muro venderam-se ao capital, as ideias liberistas, aceitaram numa mixtura de cumplcidade e ignorancia os vinculos politicos e economicos externos vindos de Bruxelas como instrumento para "educar" e disciplinar o "povo". Soltam economistas e comentaristas para a quotidiana dose de terrorismo mediatico, com mentiras sobre os excessos de despesa que é preciso cortar, a ineficiencia dos serviços públicos que é preciso privatizar, e no fim as consequencias catastroficas de uma saida do euro, num delirio em que chegam a confundir ou equiparar desvalorização, inflação e poder de compra etc...
É triste mas acho que este país, tal como o meu (a Itália) vão ainda sufrer muito antes de sair desta situação, e como todos os economistas (aqueles sérios) afirmam: Quanto mais tarde pior. As economias reais estão a entrar em colapso esmagadas pelo poder financeiro que continua a engordar com os juros extorquidos aos contribuintes atraves dos titulos de divida que sem bancos centrais a intervir transformaram-se de instrumentos de poupança em grandes oportunidades de investimento e especulação...

Pode parecer ironico mas o FN Frances parece-me neste momento a unica possibilidade que a Europa tem para voltar a democracia.