Wolfgang Münchau, alemão, prestigiado jornalista de economia do Financial Times, disse há uns meses:
"Depois de olhar para isto [Fundo Europeu de Estabilização Financeira] com alguma atenção, acho difícil imaginar uma situação em que um país possa receber empréstimos do FEEF e a partir daí viver feliz para sempre."
De facto, embora inferior ao das emissões mais recentes, a taxa de juro a que o FEEF financiará Portugal será sempre incomportável pela muito evidente razão de a nossa economia passar a estar em permanente recessão com as políticas fixadas no "memorando de entendimento" do empréstimo.
Ou seja, mesmo que o défice orçamental venha a descer abaixo dos 3%, a dinâmica dos juros acompanhada da quebra do Produto farão subir de forma continuada o peso da dívida no PIB. Os mercados já sabem isso e, por conseguinte, vão continuar a fazer um largo desconto no valor da dívida portuguesa transaccionada no mercados.
Pior ainda, como sabem que o mecanismo europeu permanente (após 2013) penalizará os privados com um corte no valor dos títulos no caso de ser necessário reestruturar a dívida de um país financiado pelo FEEF/FMI, no futuro ninguém vai querer comprar dívida portuguesa.
Assim, teremos a Grécia, Irlanda e Portugal para sempre amarrados à austeridade permanente e sem acesso a taxas de juro comportáveis? A resposta é Não. Pelo menos por duas razões: 1) Porque a seguir vem a Espanha, uma outra dimensão financeira, e os cidadãos alemães por essa altura já estarão fartos de pagar impostos para manter o euro. 2) Porque, num contexto de convulsão social e política inevitável, um ou mais destes países amarrados ao FEEF/FMI acabará por reestruturar a sua dívida e sair do euro.
Sinceramente, gostava que Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, após a sua reunião de amanhã, nos viessem propor uma grande candidatura de «Convergência e Alternativa» que trave o caminho para o abismo em que o País vai lançado.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
20 comentários:
Um exercício que vos proponho, a que o Miguel Madeira atendeu em tempos no vias de facto: (http://viasfacto.blogspot.com/2011/01/problemas-de-sair-do-euro-eou-de.html)
O mocinho de recados já tem ideias:
PSD quer "parceria" entre oferta pública e privada na educação, saúde e acção social
Ontem
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, defendeu, quinta-feira, que deve haver o que apelidou de "parceria" entra a oferta pública e a oferta privada nos sectores da educação, saúde e acção social.
Durante uma conferência na Universidade Lusófona, Passos Coelho deu como exemplo o que se passa actualmente com os alunos que optam pelo ensino superior privado, que considerou ser uma injustiça.
"Aqueles que hoje estão no ensino público beneficiam de um custo, porque têm um pagamento beneficiado pelo Estado, que aqueles que precisam de recorrer ao ensino não público têm de enfrentar", apontou.
"E então o absurdo é que Estado, em nome da igualdade de oportunidades e da garantia de que o próprio Estado deve dar de uma rede pública de ensino para que todos possam aceder à formação, acaba por estar a transferir dos impostos" de todos um benefício para alguns, disse, acrescentando: "é uma perversão" e "tem de ser alterado".
Mais à frente na sua intervenção o presidente do PSD defendeu que deve haver "um contrato de parceria com a sociedade" e que essa "parceria" deve partir do princípio de que os serviços públicos não têm de ser desempenhados pelo Estado.
Segundo Passos Coelho, na educação deve haver "uma rede nacional de ensino" que inclua as escolas públicas e as privadas, sendo essa oferta "vista em conjunto".
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1825453
XXXXXXXXX
cOLÉÉÉÉÉÉÉÉÉ gas...
O que é isso de Parcerias é uma metáfora, eufemismo, "analfase"???
Se uma pessoa quiser ir para a privada por opção então que a pague. Queria ir para uma pública tivesse estudado mais. Então agora temos de andar a pagar aos privados para cobrir a falta de estudo de alguns? Passos Coelho também tirou o curso numa Universidade privada, a Lusófona. Sentiu-se injustiçado foi? É como eu já disse: Tivesse estudado mais. Não venha agora prejudicar os mais trabalhadores, que tiveram melhores notas do que o senhor dando os nossos impostos a privados que muitas vezes não fornecem o ensino de qualidade para o merecerem.
O mocinho de recados já tem ideias:
PSD quer "parceria" entre oferta pública e privada na educação, saúde e acção social
Ontem
O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, defendeu, quinta-feira, que deve haver o que apelidou de "parceria" entra a oferta pública e a oferta privada nos sectores da educação, saúde e acção social.
Durante uma conferência na Universidade Lusófona, Passos Coelho deu como exemplo o que se passa actualmente com os alunos que optam pelo ensino superior privado, que considerou ser uma injustiça.
"Aqueles que hoje estão no ensino público beneficiam de um custo, porque têm um pagamento beneficiado pelo Estado, que aqueles que precisam de recorrer ao ensino não público têm de enfrentar", apontou.
"E então o absurdo é que Estado, em nome da igualdade de oportunidades e da garantia de que o próprio Estado deve dar de uma rede pública de ensino para que todos possam aceder à formação, acaba por estar a transferir dos impostos" de todos um benefício para alguns, disse, acrescentando: "é uma perversão" e "tem de ser alterado".
Mais à frente na sua intervenção o presidente do PSD defendeu que deve haver "um contrato de parceria com a sociedade" e que essa "parceria" deve partir do princípio de que os serviços públicos não têm de ser desempenhados pelo Estado.
Segundo Passos Coelho, na educação deve haver "uma rede nacional de ensino" que inclua as escolas públicas e as privadas, sendo essa oferta "vista em conjunto".
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1825453
XXXXXXXXX
cOLÉÉÉÉÉÉÉÉÉ gas...
O que é isso de Parcerias é uma metáfora, eufemismo, "analfase"???
Se uma pessoa quiser ir para a privada por opção então que a pague. Queria ir para uma pública tivesse estudado mais. Então agora temos de andar a pagar aos privados para cobrir a falta de estudo de alguns? Passos Coelho também tirou o curso numa Universidade privada, a Lusófona. Sentiu-se injustiçado foi? É como eu já disse: Tivesse estudado mais. Não venha agora prejudicar os mais trabalhadores, que tiveram melhores notas do que o senhor dando os nossos impostos a privados que muitas vezes não fornecem o ensino de qualidade para o merecerem.
Os desejosos de ver este prestidigitador do Sócrates pelas costas (onde me incluo, embora não deseje o que, pelas sondagens, se avizinha) ainda hão-de ter saudades das suas pulhices quando comparadas com as que este bando de irresponsáveis neo-liberais, ávidos de deitar a mão ao pote, nos reserva. O que nos vai suceder só vai ser comparável à acção de espoliação do erário público do grupo de bandidos do BPN. Veremos em breve, mas os anúncios já estão a ser feitos.
Agora a brincar: depois do pântano, da tanga, agora da forca, só um governo «sério» nos poderá, finalmente, salvar: com o senhor Oliveira e Costa como ministro das Finanças, é fácil de encontrar pois tem residência fixada pela justiça, e o conselheiro Dias Loureiro, que para se escapar aos pingos da chuva foi para Cabo Verde, onde não chove há vários anos, como superministro da Economia.
Dada a dimensão da escala, eles facilmente deixarão um buraco nas contas europeias de 85/90 mil milhões de euros, que é o nosso buraco actual. Os europeus nacionalizam Portugal (como o actual governo fez ao BPN) e nós safamo-nos desta embrulhada.
M. H. F.
Após ter lido o texto de João Teixeira Lopes (do qual discordo completamente no sentido de oportunidade, e em parte do seu conteúdo) e a crónica para a que Antena 1 (que me parece sensata)do Miguel Portas, creio que já seria um bom sinal se da reunião BE/PCP começassem a surgir iniciativas negociais conjuntas, textos comuns e uma mesma proposta subscrita pelos dois partidos, nas novas medidas que vão ser agora estabelecidas como contrapartida pelo empréstimo FEED/FMI, e o mesmo poderá começar a acontecer na nova legislatura, com uma só proposta alternativa ''de esquerda'' ao próximo orçamento de estado. Isto é, começarem os dois partidos a construir uma coligação a partir dos seus fundamentos, se não dá para fazerem listas conjuntas para as próximas legislativas, poderiam começar a viver em ''economia comum''.
Caro Jorge
Obrigado pelo post. Quanto à divida externa, e para leigos, é simples: se a taxa de juro a que se fica comprometido for maior do que o previsível ritmo de crescimento do produto mais a inflação, estamos pura e simplesmente tramados. Não haverá pilim para ir pagando logo, de maneira a conseguir diluir o peso do que se deve, pelo que se fica em regime de "bola de neve". É quanto pior, pior ainda depois. Pagamos... para nem sequer ir pagando os juros, ter de ir pedir mais, etc.
Na delirante estrutura mítica neoliberal isto tem uma importante consequência prática: é pôr Passos Coelho a dizer que a economia tem de crescer a 3 e meio por cento ao ano, as galinhas têm de ter dentes e etc. por aí fora...
Como entretanto os efeitos da austeridade são de maior recessão, já se está a ver: "we're on a road to nowhere..." Ou melhor: para algum lado há-de ser, mas para onde? Implosão social generalizada: desemprego, miséria, fome, criminalidade (esperem por um aumento da violenta), álcool, benzodiazepinas, prozac - e a nova geração, a mais qualificada de todas, a dizer "bye-bye Portugal"... enquanto a mais antiga, bom, talvez também dê o seu contributo modesto para a resolução do magno problema da "sustentabilidade financeira" da segurança social, "indo-se embora" mais cedo...
E é triste, ao fim e ao cabo, o processo de denegação colectiva, de ensandecimento colectivo, que nos impediu, no meio de tanta sofisticação de análise (mesmo a tantos economistas XPTO, ou sobretudo o esses, de direita e de esquerda), de "ver" uma coisa tão singela: temos uma moeda severamente sobrevalorizada, logo o problema do défice externo vai manter-se, logo também o da dívida externa, pelo que antes de mais TEMOS DE DESVALORIZAR A MOEDA! Nem pensar em ir lá sem isso, só com paliativos... Este género de financiamentos é ele próprio de qualquer forma assassino, claro, mas em todo o caso temos de encontrar uma saída para nós que não passe por sucessivos financiamentos. E isso impõe desvalorizar, deixando funcionar a taxa de câmbio como regulador "automático" das contas externas (é aliás para isso que ela basicamente existe, será que ainda se lembram?)
Quanto ao BE e ao PC, digamos que é loucura rematada, de parte a parte, impedir que uma visão de conjunto da gravidade do impasse colectivo em que estamos determine - mas determine JÁ! - a formação duma coligação.
É absolutamente crucial IMPEDIR QUE NA PRÓXIMA AR HAJA MAIORIAS ABSOLUTAS, seja do PS seja do PSD+PP (a quem não percebe porquê, creio que já não tenho sinceramente mais nada a dizer).
Para isso, é necessário que apareça A ESQUERDA (BE+CDU) como factor de aglutinação e resistência, com base no qual se articulará a lenta mas incontornável compreensão à escala do país, antes de mais nos seus dirigentes políticos, da NECESSIDADE DE SE ABANDONAR QUANTO ANTES O EURO, desvalorizar, entrar em default, nacionalizar a banca, etc.
Rui Santos, a que artigo de JTL se refere? presumo que ao último publicado no Esquerda.net. Se é, concordo consigo.
Jorge Bateira, permita-me uma lapalissada: como nada fica concluído no encontro de hoje, o que resultar desta frincha na porta da esquerda, até às eleições, depende muito de nós, forçando as duas direções a pensarem que há muita esquerda para além deles, aparelhos. Por exemplo, mesmo que "territórios" pequenos, os blogues
Mas não exageremos. Fica mesmo desiludido se não houver a "grande candidatura" e se se ficar por alguma coisa que ao menos abra perspetivas futuras, desde que não futuro das calendas gregas? Entre 8 e 80...
Caros todos
A propósito dos dois documentos referidos (que ainda não tinha visto):
1) É saudável ouvir Miguel Portas falar de "protectorado", de "colonialismo", etc. Acho que ele está a começar a perceber...
2) Face a uma eleição reconhecidamente roubada, que finalmente se resume a um referendo sob chantagem, Miguel Portas continua a achar inevitável que se apresentem ao eleitorado 3 variedades de Sim (cerca de 80 por cento em conjunto) e 2 variedades de Não (aliás claramente minoritárias, talvez 20 por cento)... Reconheça-se que é, pelo menos, desalentador.
3) João Teixeira Lopes indica uma completa, radical, absoluta ausência de lucidez face ao que está em jogo. Estamos na UE, na NATO... mas para JTL o que é necessário discutir com o PC é a China e a Coreia do Norte... Mas, por favor, se JTL se preocupa verdadeiramente com questões de direito humanos, porque não começar "em casa"? Porque não discutir o que está ao nosso alcance: a Líbia, o Iraque, o Afeganistão, o Kosovo, a Bósnia... Aí está a NATO, logo estamos nós! Se alguma vez chegarmos a ter responsabilidades governativas, será importante discutir directamente esses assuntos, bem mais do que a China!
E depois, em matéria de UE, chega a ser doloroso ver JTL já tão completamente rendido ele próprio à retórica que se sabe constituir a legitimação do "protectorado", do "colonialismo", etc.! Será que no tal referendo ainda são três votos Sim e dois Não? Ou, via JTL, são de facto (sob o manto da necessidade, do "europeísmo", dos direitos humanos e blablabla, claro) já quatro votos Sim?
Sinceramente (e contendo-me, para não me tornar inconveniente), é patético e seria preocupante... se não fosse já comatoso.
não
obrigar a poupar alguns dos escalões mais perdulários do funcionalismo e das empresas públicas pagando com obrigações do tesouro não resgatáveis
reduzir o consumo de 200mil carros importados por ano
7 mil milhões em ´maquinaria de luxo por ano
etc
comprar menos fruta importada
300 mil tones de hortifluricultura por ano
dá 30 kilos por português
há tanto que se podia fazer
obviamente conversas derrotistas e excesso de consumo rendem mais
Não vejo no blogue a consideração sobre a reestruturação da dívida a a partir de 2013. Este programa é transitório. Não deviam comentar isso? Não existe nenhuma reestruturação proposta pelos devedores.Isso é sonhar com ladrões. É o que fazem aqui.
Jorge Rocha
Já não há boas notícias, leram o último post do Krugman?
http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/04/08/why-people-say-eeh-when-they-learn-about-the-ecb/
But what the ECB is in effect signaling is that no inflation in Germany will be tolerated, placing all of the burden of adjustment on deflation in the periphery. From the beginning, euroskeptics worried about one-size-fits-all monetary policy; but what we’re getting is worse: one-size-fits-one, Germany first and only.
That’s a recipe for a prolonged, painful slump in the periphery; large defaults, almost surely; a great deal of bitterness; and a significantly increased probability of a euro crackup.
Sim, era ao último artigo do J. Teixeira Lopes em esquerda.net (http://www.esquerda.net/opiniao/o-bloco-de-esquerda-e-o-pcp) que me referia.
Mas, após o encontro do final da manhã, o que pelo menos eu acho que seria importante era o BE e o PCP começarem a organizar - também como forma de marcar a agenda política e alargar o debate e as questões em discussão - colóquios, encontros conjuntos, abertos à sociedade civil, sobre políticas económicas, políticas sociais, política europeia. Entre os economistas que colaboram
neste blog, outros como aqueles que agora apresentaram o processo contra as agências de rating, vemos várias linhas e tentativas de oposição às políticas macroeconómicas dominantes no bloco central e na União Europeia, mas vejo igualmente várias dissonâncias, e seria interessante criar-se propostas comuns de maneira a que todos os dias não se veja neste blog e noutros sítios novas ideias para resolução da crise actual. No fim de contas, entre as hipóteses da ''renegociação da dívida'', ''saída temporária do euro'', e outras de que tenho ouvido falar aqui, não era possível que economistas como Octávio Teixeira, Carlos Carvalhas, José Reis, Francisco Louçã, João Ferreira do Amaral, José Castro Caldas - só para dizer alguns nomes de entre economistas que escapam às doutrinas neoliberais, se entendessem e dessem ideias para um programa económico de esquerda comum? Isto mesmo que cada um dos partidos corra na sua bicicleta, pelo menos até 5 de junho...
Porque é que os media silenciam a Revolução na Islândia?
.
RESPOSTA: Porque a superclasse (alta finança - capital global; nota: controlam os media) está interessada em Democracias facilmente manobráveis por lobbys...
A superclasse não está interessada em Democracias aonde os cidadãos exijam, não só maior transparência aos governos, como também o Direito de VETAR as 'manobras' com as quais não concordam.
.
.
ANEXO:
A limitação do número de mandatos dos políticos é um álibi/truque para reivindicar reformas antecipadas... e... para dar uma ilusão de controlo!...
Ora, os políticos não deverão ter o número de mandatos limitado... mas em contrapartida, esses mandatos deverão estar sujeitos a uma muito maior vigilância/controlo por parte dos cidadãos (ex: o Direito ao Veto do Contribuinte) - blog: Fim da Cidadania Infantil; e os políticos deverão ter uma idade de reforma igual à do regime geral!
.
.
P.S.
A superclasse não só pretende conduzir os países à implosão da sua Identidade... como também... pretende conduzir os países à implosão economica/financeira...
De facto: superclasse ambiciona um Neofeudalismo - uma Nova Ordem a seguir ao caos...
.
P.S.2.
Existe algo que cada vez é mais óbvio: a voragem do capital global contra o Estado-Nação!...
Na voragem... os governos fragilizados (pela actuação de 'bilderbergos' infiltrados nos governos, nos partidos, nos sindicatos, etc)... são depois pressionados/empurrados (de várias formas) no sentido de que sejam vendidos activos dos Estados.
[nota: leia-se - delapidar os sectores estrategicos, privatizar as joias de ouro, decapitar qualquer força opositora (no caso de Portugal a PJ e o Exercito) e depois criar uma policia privada mercenaria e um gigantesco complexo de vigilancia electronica]
.
P.S.3.
O Estado tem muitos defeitos... mas permite-nos participar (e procurar melhorar as coisas)... MAS... quem quiser ficar à mercê dos globalistas maçonicos do clube bilderberg (etc), ou seja, ser UM SERVO de senhores neofeudais…... tchau: que faça bom proveito!...
Gostaria de saber como é que a saída do euro poderia beneficiar a economia e o desenvolvimento do país, a médio longo prazo? Depois da desvalorização da moeda, o que se seguira, ou o que é, segundo o autor, deveria seguir-se para por fim recuperarmos das dívidas e estagnação crónicas, e finalmente crescermos? Teríamos realmente possibilidade de sobreviver isolados dos "parceiros" europeus? Obrigado.
Boa tarde!
Sim, quanto à pergunta de JVC, era a esse artigo em esquerda.net que eu me referia.
No que poderia ser um contributo fundamental à convergência das esquerdas, não seria possível fazer convergir as ideias de alguns destes economistas que colaboram nos ladrões de bicicletas (Castro Caldas, Nuno Teles), juntamente com outros afectos ao PCP como Octávio Teixeira ou Carlos Carvalhas, ou ainda João Ferreira do Amaral ou José Reis, de forma a que de entre as ideias que diversos economistas têm apresentado diariamente - reavaliação da dívida, saída provisória do euro, incentivo à economia interna e ao mercado interno - saísse um programa de acção a nível económico que pudesse ser comum ao BE e ao PCP?
Caro anónimo
Quanto à possível saída do euro, a ideia, sinteticamente, é que sem esse "estabilizador automático" da balança externa que é a taxa de câmbio, acabámos por acumular dívida externa, a qual está no origem dos problemas actuais.
(É claro que eles são imensamente agravados com este último "pacote", etc. Essa já é outra discussão.) Em suma, a nossa moeda está claramente sobrevalorizada.
Em todo o caso, necessitamos de regular a nossa situação na própria sede dos problemas (défice externo). Se não o fizermos via desvalorização, como aliás foi sobretudo em 1983 (esse remédio foi de facto na altura muito mais importante do que a restante panóplia), a alternativa é deflação pura e dura. Isto é, entrada "à bruta": reduções dos salários nominais e à grande. (Ao pé do que vem aí, os 5-10% últimos ainda são um piquenique).
Claro está, isso induz recessão por contracção da procura interna, pelo que na verdade agrava os problemas e acaba por implicar novos cortes... De facto, na "UE" fomos/somos todos induzidos a contar com as exportações para os mercados dos demais... O que é uma circularidade e um vício argumentativo, evidentemente.
Assim não dá, em suma.
Ah, mas reparem que, se não gostarem disto, a porta da emigração continua aberta para todos nós. E depois da reunião BE-PC de hoje, claro, ainda muito mais...(O problema é que, ao contrário do que se passava com o outro, nem sequer dá para "querer ser espanhol"... porque agora a seguir a coisa vai previsivelmente cair também para o lado deles, não é assim?...)
Agradeço a pronta resposta. O problema é que não sendo economista, nem político, mas um cidadão vulgar, verifico que teria de tirar um curso de Economia para conseguir o que pretendo: defender com consciência e com bons argumentos um ou outro partido, um ou outro rumo, e.g., a saída, ou não, do euro (a desvalorização da moeda resolveria o a causa do problema da dívida externa e sobreendividamento público? Se sim, porque é que não resolveu antes de aderirmos à moeda única e porque é que a Dinarmaca, que não aderiu, não tem os problemas que nós já tínhamos antes da adesão ao euro?).
Enfim, um desabafo de alguém que, apesar dos esforços dispendidos para se orientar no discurso público e político, acaba por não conseguir se pronunciar contra ou a favor das medidas que os outros países europeus, nomeadamente a Alemanha (cujo superavit é um cartão de visita de peso, literalmente) anunciam como inevitáveis para Portugal não delclarar a bancarrota, e.g., a famosa liberalização do mercado de trabalho, as privatizações da maioria das empresas pública com sobreednvidamente crónico, e sei lá mais o quê que o FMI imporará a este país desgovernado há tanto tempo. (A lógica parece, do ponto de vista do vulgar cidadão, simplesmente não se aplicar aos assuntos económicos, cujas análises não procedem do princípio da não contradição, mas de previsões erráticas e contraditórias). Gostaria de me empenhar civicamente, e julgo que a situação crítica do país o exige. O problema é que eu, e julgo que muitos outros portugueses politicamente descrentes, não sabem em quem ou em quê acreditar e o argumento relativista (é tudo a mesma coisa, tudo depende do momento e do recorte ideológico) contribui para a inércia.
Queria acrescentar um comentário adicional, não sei se na lógica do comentário anterior - as propostas económicas que nos estão a ser apresentadas (a que irá ser levada a cabo pelos ''partidos do arco governativo'') e as propostas mais ou menos avulsas ou sistémicas que encontramos à esquerda e que se contrapõe à lógica liberalizante, diminuição do peso do Estado, cortes nos apoios sociais, manutenção do peso da esfera financeira (e bancária) sobre a economia produtiva, não parecem jogar sobre o mesmo tabuleiro. Isto é, muito simplesmente, sem nenhum processo quase-revolucionário, de recusa quase-sistémica pelo menos da União Europeia, são possíveis políticas económicas de esquerda? Pelo que leio e procuro saber, a resposta que encontro é não. Ainda há dias lia um artigo de João Ferreira do Amaral que explicava que apesar de ele concordar com os partidos de esquerda em que os sucessivos PECs eram de direita, ele terminava por dizer que na actual União Europeia, desde o Tratado de Mastricht e daí em diante, as políticas económicas possíveis por governos que adiram à moeda única são políticas macroeconómicas de direita. [ o texto de JFA a que me refiro é este: http://www.rr.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=101&did=96308]
Por isso, mais uma vez a pergunta, seria possível que um futuro governo de esquerda (pondo apenas a hipótese académica de uma coligação futura de esquerda ganhar as eleições e governar) adoptasse uma política económica de esquerda? E qual é que esta poderia ser?
Perante as notícias que todo o santo dia nos falam da inevitabilidade de um novo plano de austeridade que irá ser apresentado pouco tempo depois das próximas eleições não ser possível à esquerda que se acordasse um contra-plano que fosse subscrito pelo PCP, pelo BE, e por outros economistas de esquerda? De forma a que os eleitores de 5 de junho não tivessem que escolher entre aquilo que inevitavelmente vão ter e uma resistência sine die?
Rui Santos
Caro Rui Santos
Caro Anónimo
Peço desculpa se fui pouco claro. Vou tentar sê-lo mais agora. Mas posso apenas falar por mim, como é óbvio:
1)A união monetária tal como está desenhada é, sim, um tremendo colete de forças que impede políticas económicas de esquerda em qualquer dos estados envolvidos; donde
2) Ou renegociar a UEM, o que me cheira a improbabilíssimo (para dizer pouco), a menos que algum dos "pesos pesados" (a Espanha, a Itália?) comece também a arder, caso em que a sineta de alarme talvez toque no centro, ou
3) Sair do euro e desvalorizar. Aliás, por princípio e por uma questão de saúde democrática, sem as tais alterações institucionais enormes na UE (probabilidade próxima de 0) deve mesmo ser assim, repito, por princípio (mas isto é, obviamente, um juízo eminentemente político da minha parte!)
4) Porquê desvalorizar? Porque contribui decisivamente para resolver o nosso problema de base, o défice das contas externas. É essa a ideia mesmo de existir uma taxa de câmbio variável: haver um regulador para o que entra e o que sai do país, em dinheiro e em mercadorias. Quando entrámos no euro deixámos de ter este regulador, mas na altura este foi um problema em geral galhardamente ignorado no debate político. Foi um erro e um erro gravíssimo? Sim, claro que foi! Todavia,
5) Neste momento temos, em cima de tudo o mais, a questão da dívida. Esta deverá ser renegociada, com ou sem desvalorização. Ao juro a que estamos (mais do que a soma da taxa de inflação com a taxa de crescimento do PIB), estamos inequivocamente fritos. Pedimos mais emprestado... para pagar os juros do empréstimo anterior, e não chega; nunca chega... Impõe-se pois a renegociação a bem ou "a mal" (default), opção essa, a última, que a desvalorização facilita.
6) Existem alternativas a esta estratégia de desvalorização-cum- default? Em princípio, seria possível por via da deflação, mas é muito mais à bruta. Em vez de desvalorização de 15 por cento (p. ex.), temos corte de 30 por cento nos salários nominais - o que dá o mesmo resultado em matéria de embaratecimento das nossas exportações, preços em moeda estrangeira, se os custos salariais forem 50 por cento dos inputs nos sectores exportadores. O problema adicional com a deflação é que, para além de brutamontes em matéria de distribuição do rendimento, é também extremamente indutora de recessão. Isto é, o PIB fica a patinar ou a encolher, pelo que
7) Entramos em ciclo vicioso. A menos que o "milagre do crescimento pelas exportações" ocorra (e sem desvalorização isso é menos provável ainda, claro!), o que permitiria os tais delirantes 3 e meio por cento de Passos Coelho depois de se meter nos cogumelos, podemos só voltar a crescer depois dum ciclo enorme, no final do qual estaremos muito, mas mesmo muito mais pobres ainda do que agora. Tarde ou cedo, isso deverá aliás acabar por acontecer. Acontece sempre, mesmo nos piores casos. Mas pode ser que seja só com muita, muita emigração, e "no longo prazo", isto é, quando todos nós estivermos mortos - o que aliás a seu modo facilita sempre as coisas, aliviando o serviço nacional de saúde e a segurança social...
Enviar um comentário