quarta-feira, 27 de abril de 2011
Da violência
As propostas do “Compromisso Portugal”, agora transformado em “Mais Sociedade” porque o dicionário da novilíngua neoliberal tem de ser rentabilizado, são apenas a expressão intelectual, abertamente mais violenta, da coligação interna e externa que conduz a austeridade em curso: usar a oportunidade do desemprego de massas, criada pela crise e pelas actuais políticas recessivas, para organizar a redução de salários directos e indirectos (contribuições e prestações sociais, serviços públicos), tentando legitimar este projecto de regressão através de um intenso moralismo, o contrário de qualquer noção básica de moralidade. Os desempregados, que precisariam de “incentivos” porque, na realidade, não querem trabalhar, e os pobres, aldrabões até prova em contrário, prova que até poderia ser feita com um cartão concebido para o efeito, são alguns dos alvos de uma casta de gestores e outros intelectuais orgânicos que quer consolidar em definitivo a captura e subversão do Estado.
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20 comentários:
E um dia ainda fazem a proposta de ser colocada uma estrelinha amarela no peito dos pobres e desempregados para assim poderem ser mais facilmente identificados...
Caro carl, Nao e preciso, entao V.Exa nao sabe que os pobres e os desempregados sao todos gente suja e mal cheirosa e que portanto so servem para trabalhar no fundo de minas de carvao? E o regresso ao sec. XIX e nao aos anos 30 que estes individuos desejam... Claro, com os disparates que eles proprios tem engendrado e com o crescimento do populismo que isso acarreta, somos bem capazes de mais depressa ir parar a 1933 do que a 1848... E desta vez sem uma Social Democracia sequer que nos defenda...
Já tinhamos quem nos desgoverasse
agora pagamos
para nos sepultarem vivos
O problema é que esse tipo de discurso ("os desempregados não querem trabalhar", "os beneficiários do RSI são uns aldrabões e vivem à custa dos outros") também se encontra entre os remediados: já ouvi muita gente que ganha os seus €700 e menos a dizer esse tipo de imbecilidades.
É autêntico tiro no pé para o remediado que pensa assim, e, sinceramente, altamente desesperante para aqueles que pretendem lutar contra este estado de coisas: como se pode fazer o que quer que seja quando as classes dominadas fazem seu o discurso das classes dominantes?
Meu caro Xavier, Acho que foi o Camus que disse que quem nao tem alguem que possa dominar e abusar, arranja um cao para fazer isso. E infelizmente um aspecto deprimente da natureza humana que somos sempre fortes com o fraco e fracos com o forte. Mais depressa se critica um suposto abusador do RMI ('os ciganos dos RM') do que se criticam os Srs Oliveira e Costa, Dias Loureiro ou Rendeiro (a esses o povo teme-os e secretamente inveja) pelas negocios que fazem a custa de todos. Ou como diz o antigo poema Ingles:
The law doth punish man or woman
That steals the goose from off the common,
But lets the greater felon loose
That steals the common from the goose.
É possível indicar onde é que alguém diz que os desempregados não querem trabalhar e que os pobres são aldrabões? Em alternativa, caso não o consiga, pode indicar onde é que alguém sugere que os desempregados não querem trabalhar e que os pobres são aldrabões? Já agora, o que tem o termo "novilingua" a ver com o termo "neoliberal"? Em que aspecto considera que a sociedade retratada no 1984 é uma sociedade liberal? Obrigado
Meu caro Eduardo, Para alguem que se diz liberal, voce e um pouco literal... Como sabe, o 1984 foi escrito como Satira ao Estalinismo (e saliento a palavra Satira), mas conceitos como o de 'buraco da memoria' ou da 'novilingua' aplicam-se igualmente a outros sistemas totalitarios e ao discurso politico em democracia. Se quer um exemplo recente do primeiro, que tal a invasao do Iraque que era supostamente para desarmar Saddam e passou depois a ser para implantar a democracia quando nao se encontraram nenhumas ADM? Em relacao ao segundo, nao va mais longe do que dois posts deste blog (ver substituicao de capitalismo por economia na traducao do livro do Chang...). Ja quanto ao comentario do Xavier, ve-se que voce nao anda de autocarro, pois nao?
Alguns do "alguéns" de quem falo são pessoas com quem convivo no dia-a-dia.
Um exemplo recente daquilo de que falo são as tiradas recentes do oligarca Diogo Leite Campos: «Há muita gente que recebe subsídio para a renda ou abono de família e depois gasta o dinheiro noutras coisas»; «o actual sistema não é só quem mais precisa que recebe benefícios sociais, são os mais espertos e os aldrabões».
Retirado do Sol: http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=17186
http://ladraralua.blogspot.com/2011/04/o-triunfo-dos-agiotas-uma-historia-de.html
@xavier
A grande vitória política deste grupo foi ter conseguido por, pela via da falsa moralidade, o pobre contra o miserável.
Divide and conquer...
PS. Mais alguém tem um problema incrível de spam vindo dos comentários do blogue?
Muito bem observado, João.
Aliás, quando ouvi as proposta da "mais sociedade" pensei que faria mais sentido chamar-se "menos sociedade".
Mentalidade bacoca como tem sempre havido. Basta atentar no que o presidente da CIP disse e o que fez na sua empresa. Criticou a tolerância de ponto da tarde de quinta e deu o dia todo aos seus empregados. Justificação: "poupa-se na água e na luz". E no Estado? A poupança não acontece?
O problema do país é a desorganização interna das empresas. Não são os trabalhadores.
Tenho dito!
Cumprimentos
eu desempregado...aqui me confesso
ir a entrevistas tira a alma ó homi
e de resto quando vou trabalhar via despesas de alimentação transporte
ganho menos do que estando com o cu sentado em casa
isso é um facto
porque convenhamos para dezenas de milhares de desempregados o subsídio é um maná
que evita trabalhos desagradáveis e mal pagos como apanhador de vegetais ou de lixo
ou emprego numa fábrica a 800 ou 900 euros por mês
e quando somos mais velhinhos
há sempre um trabalhador esforçado numa dessas empresas que diz
o chefe contratar velhadas para eu ter de fazer o trabalho deles
vão-se catar ó empregados sem desemprego
assinado 3 vezes desempregado nos últimos 240 dias
6 vezes nos últimos 7 anos
com um subsídio razoável que é pago a intervalos longos mercê das interrupções
e dá uma trabalheira requerer subsídio ou recomeço do subsídio
hoy foram 7 horas
repetir isto de mês a mês
é gastar 12 dias por ano em recomeços burocráticos
capisce ó maralhada
estar desempregado chateia
depois uma pessoa habitua-se
e 3 vezes o salário mínimo ou 2 vezes é dinheirinho
já metade 60% ou 70% do salário mínimo é poucochito para dar
de subsídio
mas sempre é mais do que 15 dias à jorna de 30 euros por dia
ou com azar 25 por 8 a 10 horitas de labuta
resumindo eu desempregado me confesso
um tecto de 2 salários mínimos para o subsídio
e trabalho cívico voluntário para todos os que recebem o subsídio
seria bem vindo
estar sem fazer nada cansa
e tira a auto-estima
não conduz ao suicídio
mas causa alterações de humor
e da motilidade intestinal
Estes indivíduos são assassinos. Na falta duma instância que nos defenda das suas políticas homicidas, entendo que é a população civil que deve passar ao ataque. Procurando-os e eliminando-os.
É chegar a um género de conversa com que é melhor a gente rir-se, francamente... Tanto mais que a do "fair day's work for a fair day's..." (2:26) é tirada de um discurso da Thatcher creio que poucos meses anterior a este filme, de 1979:
http://www.youtube.com/watch?v=8EI7p2p1QJI
Por isso, na verdade, nunca se sabe. O melhor mesmo é estar preparado para tudo ("optimismo da vontade, pessimismo do intelecto", não é como se diz?)
A coisa está a ficar interessante.
Finalmente, a máscara está a cair. A corda está prestes a partir.
Essa gente é politicamente ignorante.
Tenho vergonha desta gente.
São pessoas que tanto a pertam a mão a uma pessoa como lhe apertam o pescoço.
Não há dúvida que isto tem de levar uma volta mas não é com o Passos Coelho e sua trupe de malandros(vg. compromisso portugal, agora mais sociedade (esta é só para rir...).
Como é que este país algum dia há-de dar uma vida digna aos seus cidadãos quando tem malandragem desta a fazer e a tentar implementar as maiores patifarias.
Estes fulanos deviam era ter vergonha na cara.
O grande problema continua a ser a geração dos 60/70 anos que por aí anda a "botar faladura" depois de se ter instalado em condições opíparas, para si e para os seus, em tudo o que era Aparelho do Estado desde há pelo menos 30 anos; os gajos estragaram tudo e agora peroram acerca dos sacrifícios que nós, os dos 40 anos, temos de fazer para salvar Portugal. Falta dizer que a salvação proposta por estes "monos" assenta, segundo eles (nem é preciso chamar os bois pelos nomes, basta consultar o elenco de notáveis que se passeiam nos media...), na manutenção dos direitos adquiridos deles e na aceitação da pobreza por todos os outros.
Tudo o resto são faits-divers que já nem "aquentam" nem "arrefentam" por aí além...são fruta da época.
ABRS e excelente dia do trabalhador p/ti e p/os teus do
Socorro.!!!!!!!!!!!!!!!
Quem é que nos salva destes fulanos (e da UE/FMI/BCE).????
Telefonem para a ONU; para a NATO.!!!!!!!! Telefonem para alguém que nos venha salvar desta gente porque senão, qualquer dia, adormecemos livres e acordamos escravos( se é que já não somos).
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