No dia em que o Governo pediu ajuda financeira à (des)União Europeia importa perguntar: a quem serão pedidos (ainda) mais sacrifícios?
Uma elementar noção de justiça diz-nos que devem ser os que recebem anualmente mais rendimento e têm mais património. Mas há boas razões para recear que, uma vez mais, serão os muitos que detêm a menor parcela do rendimento os escolhidos para suportar a maior parte do fardo da política que nos vai levar a mais recessão, mais cortes na despesa, mais recessão, mais ... até descermos à rua e fizermos um novo 25 de Abril.
A menos que as esquerdas ainda nos surpreendam e, erguendo-se à altura da situação que o País vive, apresentem aos cidadãos uma candidatura da «esquerda grande», da esquerda que está em condições de governar em ruptura com a austeridade. E não a promessa de alguma convergência para depois do voto.
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12 comentários:
Pelos que põe o sangue, o corpo, isso seria o melhor que poderia acontecer.
Não há União europeia, há comunidade política de estados independentes. Não existe uma "união europeia", ninguém aprovou uma constituição europeia nem federação. União é só um nome e assim deve ser. Não é defeito é mesmo feitio. Alguns estados perderam soberania, temporariamente, devido ao endividamento excessivo.
Os povos da Holanda e da França pronunciaram-se claramente contra as fantasias federalista e isso acabou. Só pode haver coordenação. O resto é vacuidade e ópio dos intelectuais.
Jorge Rocha
Quando o povo sair à rua para fazer um "novo" 25 de Abril, mal vai a coisa se ainda pensarmos em termos de esquerdas e de direitas. A questão é quem ganhou e o quê com este regime cleptocrático.
Caro Jorge
Bem dito! Deixo-te um pequeno contributo "politológico". O sistema eleitoral português, apesar de proporcional, padece dum vício que consiste no facto de os círculos serem na sua maioria muito pequenos. Assim, a vida política está em cerca de metade deles limitada já, de facto, a um duelo PS-PSD. É assim em quase todo o interior, nas ilhas, na emigração...
Quer o BE quer a CDU conseguem eleger deputados em menos de metade dos círculos. Todavia, a mera adição dos votos teria já permitido, nas eleições anteriores, um aumento considerável de deputados, havendo eleitos onde nenhuma das formações hoje "entra" (exemplo: Viseu) e elegendo ambas onde hoje só uma elege (exemplos: Aveiro, onde o BE elege 1 e a CDU zero, uma lista com a soma dos votos teria eleito 2; em Braga é simétrico). Creio que é dispensável continuar.
O efeito de ímpeto, de mobilização colectiva resultante da assunção da coligação, está todavia muito para além destes cálculos. É razoável, portanto, "augurar" pelo menos 3 deputados para a "Frente Ampla" (já a baptizei) em Braga e outros 3 em Aveiro...
E, por favor (por favor!), não se responda que fazer cálculos é mesquinho e que patati, patata...
Não, não é! De todo, não é!
Pelo contrário, não fazer é que é mesquinho. É importantíssimo que destas eleições saia um quadro parlamentar em que nem o PS nem o PSD+PP tenham maioria absoluta! Se isso se verificar, teremos talvez um governo "à alemã", um governo de "grande centrão", dito de "salvação nacional" ou algo semelhante. Mas a nossa situação económica não é a da Alemanha!...
A Frente Ampla poderá, nesse caso, marcar activamente a agenda oposicionista e condicionar então a evolução subsequente da área sociológica do PS...
Isso são voos mais amplos, claro. Mas convém não perder essa previsível trajectória de vista.
A situação vai ser de catástrofe económica - uma espécie de medina-carreirismo colectivo em profecia auto-realizada - e é crucial que a Esquerda (com E maiúsculo) esteja à altura disso!
Pois, venho corroborar aquilo que já vários têm dito aqui. Se o que sair da conversa de amanhã entre o BE e o PCP é uma espécie de convergência depois das eleições, ela só será relevante se se traduzir em algo de palpável, reduzida a um acordo escrito (a um projecto, a um programa político). Se for apenas para verificar os pontos em que ambos concordam e que os separa do bloco central nada tem de novo, e de facto, para quem tem estado atento isos não trará novidade nenhuma. Sendo realista, eu não creio que vá haver uma coligação entre BE-PCP e independentes de esquerda. Agora não creio que vá acontecer. Mas é importante que o passo que amanhã vai ser dado não tenho retrocesso e é obrigação dos dois partidos - obrigação face à miséria das alternativas políticas que PS-PSD e CDS se preparam para nos oferecer - dar alguma expectativa concreta a todo um eleitorado que não sabemos agora se neste momento são 18% ou 20% ou 25% da população, ou mais ainda, e que não quer mais ser presenteado com argutas análises macroeconómicas, com clarividentes teorias sobre o capitalismo actual, mas quer simplesmente poder encarar políticas alternativas nas quais valha a pena votar. Não é a mim, que sou eleitor normal do BE (mas que poderia votar, igualmente, caso o BE não existisse, no PCP) que é preciso conquistar o voto, mas à maioria da população. E a maior parte da população não quer que lhe seja explicada porque se deve votar contra o PEC IV ou ser contra esta ajuda que o Governo acaba de pedir, mas antes quer saber (ser informada) de alternativas.
VIDEOS:
1ª PARTE
http://www.youtube.com/watch?v=ZUJts90HIHc
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2ª PARTE
http://www.youtube.com/watch?v=wj7LKI8rIUo
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POEMA:
Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida. Um pedaço um pouco especial. Trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de '79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não seja muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura sem ter modificado nada. Por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam já não ser muito actuais e que isso não contribuia para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial deste texto. Chama-se FMI. (Pausa.) Quer dizer Fundo Monetário Internacional. (Risos) Não sei por que é que se riem, é uma organização democrática dos países todos que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos e no fim tomar as decisões que interessam a todos. (Voz no público: Todos, eles.) É o internacionalismo monetário. (Risos.)
Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimore do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attache case' sai a solução!
FMI não há graça que não faça o FMI
FMI o bombástico de plástico para si
FMI não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder!
Batendo o pé na casa e o espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI não há truque que não lucre ao FMI
FMI o heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI não há lenha que detenha o FMI
FMI não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalte-quer, messe gigantesca, vem-te bem, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro,
(...)
Tio Aurélio
eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se ele tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... mãe, não quero pensar mais... mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viagem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grândola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
Poema total em
http://fora-de-cena.blogs.sapo.pt/158725.html
uanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, hã? Sempre a merda do futuro, e eu que me quilhe, pois pá, sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu hã? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega,
The Executive Committee and Editorial Board are elected by the membership at our Annual General Meeting.
The Executive Committee members are: Kate Begley, Andrew McCulloch, Gerry Strange, Julian Wells, and Owen Worth.
The Editorial Board members are: Owen Worth, John Callaghan, Greig Charnock, Ian Fitzgerald, Steve Fleetwood, Jamie Gough, Carmen Kuhling, J McBride, Phoebe Moore, Adam David Morton, Nick Potts, Barry J Ryan, Stuart Shields, Gerry Strange, Jules Townshend, and Julian Wells.
Não têm nada a perder nestas eleições, uma união que signifique uma reformulação dos dois partidos e não somente uma junção tem que ser tentada devido ao abandono da ideologia de esquerda do PS em favor da conquista do centro direita e devido à polarização para a direita dos outros dois partidos.
Devia chamar-se algo como Esquerda Real, ou somente a Esquerda.
A Analogia da Torneira
Imaginem uma torneira grande de onde sai água em quantidade para uma horta. Nalguns sítios a água chega e apenas molha a terra ; noutros o ímpeto da água faz estragos. O camponês desesperado tenta evitar os estragos; abre regos, , tenta desviar a agua mas a torrente continua, e os estragos já estão à vista. Surge então uma criança de 5 anos e simplesmente…fecha um pouco a torneira. E acabam-se os estragos.
Na governação acontece o mesmo: quem está de fora só com um árduo trabalho evita os estragos de decisões erradas; quem está dentro, com muito mais eficácia e menos esforço…regula a torneira.
Foi isto que o PCP e O BE ainda não perceberam, ao contrário dos outros partidos europeus: fazer acordos de governação permite um controlo que a força bruta não consegue alcançar, e mesmo com fracas forças se condicionam grandes partidos. De fora pouco se consegue fazer, a não ser dar espectáculo de luta sem tréguas nem resultados.
Até uma criança de 5 anos percebe isso.
J Cavalheiro
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