sábado, 1 de maio de 2010

1º de Maio solidário


Somos os que não contam para as estatísticas. Os que não recebem subsídios nos quais o governo possa cortar. Os que têm de pagar por si e por quem tiver a 'boa vontade' de os (mal)empregar, se e quando lhes der na veneta. Somos os que não têm férias. Somos os que não têm filhos nem família nem casa nem ficam doentes nem tratam de burocracias nem vão ao banco nem às compras nem andam de transportes nem pagam as contas nem usam os serviços. Somos os que não progridem na carreira. Somos os que não têm carreira. Somos os que nem desempregados são. Somos os tapa-buracos. Somos os trabalhadores de segunda, de terceira, os que não têm classificação, os que não fazem parte nem integram não têm espírito de equipa nem são corpo de coisa alguma. Somos os trabalhadores de segunda, de terceira. Os colaboradores. Os paus para toda a obra.

14 comentários:

Caporegime disse...

Estão mal?!

Conquistem os vossos próprios direitos às vossas próprias custas!

Juntem-se e criem as vossas próprias empresas! Ninguém tem a obrigação de vos garantir tudo o que "não podem fazer". Conquistem-no pela acção e não pela reacção!

A esmagadora maioria das empresas deste país foram criadas por muita gente em condições iguais ou piores às vossas. É cada vez mais difícil criar uma empresa própria? É! Mas sabem porquê? Por causa de todas as exigências que se faz às empresas logo que nascem. São impostos, são contratos vitalícios para quem entra nos quadros e pelos quais são cobradas taxas de SS estupidamente elevadas.
Todas estas condições, altamente defendidas pelos "senhores" deste blog, têm o efeito perverso de condenar à morte ou ao aborto precoce, muitas empresas que o POVO poderia criar, negam o capitalismo ao povo e mantêm-no nas mãos dos únicos senhores que as podem pagar.
Mas hei.. os senhores deste blog estão na verdade marimbando para o povo.. o importante é criar mais e mais medidas que lixem o Belmiro e o Amorim.. a classe opressora.. esquecendo-se que 99% das empresas portuguesas são PME's... são empresas do próprio povo...
É de facto necessário combater os trabalhos ultra-precários de alguns? É! Mas paralelamente tem de haver um diminuição da rigidez do modelo geral. Faça-se um modelo mais equilibrado para todos! Até lá.. vamos continuar nos extremos.. uns com contratos vitalícios e outros presos por um fio!

Caporegime disse...

Aliás,

Se fosse fácil para o povo criar empresas.. como é que os senhores deste blog iriam continuar a vender a sopa demagógica, cozinhada nos seus confortáveis gabinetes de académicos que não conhecem a vida real, nem a de quem trabalha nem a de quem tenta criar o seu negócio...

Prole disse...

Os dois comentários anteriores provam que se derrotou o regime fascista em Portugal, mas não se derrubou o pensamento fascista nos portugueses.

Anónimo disse...

Excelente, cara Chico, continua!
AF

Caporegime disse...

Fascista? Se eu sou fascista você é um ignorante de primeira!
Ora faça lá um exercício de comparar as políticas económicas entre o fascismo e o liberalismo, e entre o fascismo e o "socialismo" do Louçã e do Alegre... Verá que no primeiro cenário facilmente encontra diferenças e no segundo facilmente encontra semelhanças.. vá lá estudar um bocadinho e depois volte aqui para reiterar o meu "fascismo"... enfim..

Já ouviu falar na Godwin's Law? quem num debate já não tem argumentos, usa em desespero a carta do fascismo..

Prole disse...

No fascismo não existiam direitos dos trabalhadores, que foi o que você advogou a favor do todo-poderoso Mercado Livre. E essa teoria de que o Capitalismo puro e duro é o paraíso das pequenas empresas está muito enganado. O rumo natural do Capitalismo é a acumulação de riqueza até que um sector seja propriedade de uns poucos consórcios empresariais. O fascismo é a tomada do Estado de uma forma ditatorial por alguns capitalistas que querem cristalizar-se no poder.

Amanhã tenho de apanhar um transporte público para uma cidade onde trabalho como estagiário não-renumerado e tenho de inventar dinheiro nas próximas horas para conseguir viajar para lá.

Como eu, muitos jovens, mas os «moderados», os «empreendedores», os «adeptos do mercado», os «sofisticados» e os da «liberdade de escolha» acham que gente como eu até deve agradecer ao patrão pela vida que levo e deixar de pagar impostos para serviços sociais e começar a pagar impostos para pôr mais polícia na rua, daqueles que não hesitam em dar com a cacetete caso eu me lembre de sair do estado de bovinidade geral em que se encontram os trabalhadores.

Os jovens precários e os trabalhadores explorados são obra de quem andou a prometer mundos e fundos com o Mercado Livre. Esses hão-de ver o mundo deles esmagado sobre os pés de quem é explorado.

Caporegime disse...

E achas que Portugal é o paraíso do mercado livre? Um país onde o estado representa mais de metade da economia? Um país onde quem cria uma empresa tem de pagar 23,75% de taxa social sobre 14 salários de cada trabalhador, quando este só trabalha 11? Paga IMI, IMT, ISP. Depois disto tudo ainda pagar 27,5% de IRC sobre o que sobra, e disso paga 20% de IRS, e depois vai gastar o que sobrou e paga 20% IVA para não falar no ISP. Dá mesmo muita vontade de se arriscar na criação de uma empresa.

Sabes o que acontece depois? Não há investimento, não há geração de novas oportunidades, o número de pessoas com o teu curso é superior às oportunidades geradas, e têm de competir entre si pelo trabalho chegando ao ponto de trabalhar sem remuneração. Mas uma coisa é factual, se lá estás é porque julgas que estás a beneficiar de alguma coisa, é porque foi a melhor oportunidade que te apareceu. Ou seja, esses senhores, de facto foram quem te apresentou a melhor oportunidade até ao momento, não fui eu nem foi o Carvalho da Silva, o Louçã ou o Francisco Oneto. Esses simplesmente dizem-te umas palavras bonitas.. gratuitas também.

Para além disso há a geração da oferta. Ou seja, tu escolheste o teu curso livremente. Se, em parte, fizeste uma má aposta, assume a tua quota parte de responsabilidade e não culpes tudo no “sistema”. Culpa ainda o MCTES que não deveria provavelmente ter aberto tantas vagas para formar pessoas condenadas ao desemprego, desperdiçando dinheiro dos contribuintes que poderia ter sido aplicado noutros cursos.

Tens muito por onde culpar antes de chegar ao mercado.

E não te esqueças de uma coisa, esses pseudo "direitos" divinos, em prol do teu conforto e estabilidade, consistem numa machadada nas liberdades dos outros, sejam eles o Belmiro ou o sr.Zé da mercearia.

Achas-te no direito de exigir que alguém te ame mais do que está disposto a amar? Achas-te no direito de exigir que algúem te ame durante a vida toda mesmo que essa pessoa não o pretenda? Não pois não? Se numa relação amorosa as pessoas têm de ter o direito à sua liberdade, porque raio é que numa relação económica assim não o deverá ser?
Compreendo que esteja frustrado e queiras arranjar um bode espiatório, e os cantos de sereia desses profetas do mundo ideal te soem bastante bem, mas pergunto-te: até que ponto o teu desejo de ter tudo de mão beijada e garantidinho numa lei laboral, te legitíma a dar machadadas na liberdade dos outros? sejam eles muito ricos ou não...

Prole disse...

A economia não é constituida de liberdades individuais, mas de necessidades sociais.

A necessidade de habitação não deve estar sob o domínio da razão dos imobiliários, empreiteiros e banqueiros.

A necessidade de transporte não deve estar dependente dos fabricantes de viaturas e seus comerciantes.

A necessidade de comida não deve estar dependente da produção privada.

Você pode não gostar das palavras de quem critica o Mercado Livre e acredita noutro sistema, mas elas são um rebate de verdade num país (tal como no resto do mundo) em que as sacanices do Mercado são consideradas como naturais desenvolvimentos da História.

Sim, claro que Portugal vive num sistema de Mercado Livre, o facto do Estado ter dado milhões à banca e subsidiar a empresa do sr. Belmiro para empregar por 6 meses um jovem com o primeiro emprego e depois este é posto fora da rua sem contracto renovado é a prova mais vida do triunfo do Mercado na "democracia". Assim, também eu tenho lucros e sou um grande gestor.

Outra coisa, o dono da pequena empresa tem mais a ver comigo do que com o grande capitalista. O que é preciso é um Estado que apoie o pleno emprego, os assalariados e garanta que quem tem uma pequena empresa não seja esmagado pelos mais fortes.

O Estado não tem um tamanho, tem uma natureza. Por isso, ou existe um Estado Capitalista que trucida a arraia miúda, ou um Estado que represente essa arraia miúda.

Gosto muito dessa ideia de que se tornarmos a lei mais precária para os trabalhadores, por obra e graça de sabe-se lá quem, os trabalhadores vão melhorar a sua condição no trabalho. Quanto pior, melhor. E numa relação de trabalho assalariada, a "liberdade" está toda do lado do patrão, se nada proteger o assalariado, acredite que não vai ser a compaixão do patrão que vai melhorar a minha condição laboral.

No Mercado Livre só existe liberdade para os capitalistas, nenhuma para o trabalhador. Corte a eito o Estado Social e verá um fascismo na prática, escondido sob a capa de uma democracia esquartejada pelos «gestores» e políticos que os apoiam.

Mas não se preocupe, os jornalistas, os economistas, os politólogos e os entertainers já encarneiraram de tal modo a minha geração que os meus netos hão-de estar a viver no Século 19 quando eu estiver para bater as botas.

Se acredita tanto no Mercado Livre vai ver no que deu as reformas de Mercado Livre nas ditaduras da Operação Condor e nos países asiáticos que recorreram ao FMI nos finais dos anos 90. O Chile de Pinochet só quando nacionalizou as minas de cobre é que estabilizou a economia, após o desastre encomendado pelo Milton Friedman.

antónio m p disse...

Ó gente da minha terra... O que o articulista nos conta sobre a condição do trabalhador em regime precário é um testemunho pessoal e é disso que nós todos precisamos, tão intoxicados que somos pelos analistas teóricos. Bem haja.

Quando ele diz que o Caporegime exprime um pensamento fascista, não é porque o C. seja fascista, é porque reproduz um pensamento que, certamente sem intenção sua, assimilou do discurso liberal que nesta matéria coincide com o que fazia escola no tempo de Salazar.

Em última análise a indignação de Oneto é inteiramente legítima visto que as condições de trabalho e remuneração dos que produzem a riqueza - os trabalhadores - são determinadas com grande crueldade pelos grandes acumuladores de fortunas. Ele não se queixa do merceeiro da esquina, é do regime político e económico que o explora a ele e provavelmente ao merceeeiro também. O resto são questões de linguagem.

Caporegime disse...

"A economia não é constituida de liberdades individuais, mas de necessidades sociais"

Foi dita por si.. mas não estranharia nada que fosse uma citação de Hitler ou Mussolini... depois o fascista sou eu...

"condições de trabalho e remuneração dos que produzem a riqueza - os trabalhadores - são determinadas com grande crueldade pelos grandes acumuladores de fortunas"

As condições de trabalho são definidas pelos patrões? Então na Alemanha são altas porque os patrões assim o definiram.. e na Bulgária são mais baixas porque os patrões de lá assim o definiram... faz sentido.. as baixas qualificações, o estado balofo e ineficiente, a justiça ineficaz, um ensino superior desenquadrado da realidade, o consumismo irresponsável das pessoas... tudo isso são meros detalhes...

Miguel Rocha disse...

O debate está vivo e interessante...

Não há consenso porque as teorias estão fundamentadas segundo pressupostos diferentes...

O caporegime (epah, o nome não ajuda a distanciar-te do fascismo) pressupõe que todos os trabalhadores trabalham de má fé e as pessoas adquirem riqueza devido aos seus méritos. O prole afirma que os patrões querem maximizar a sua riqueza também à custa dos trabalhadores e a maior parte das pessoas ganha riqueza através de heranças e outros fenómenos que tais.

Para já, em relação ao IVA, é o consumidor final que o paga portanto não o encaro como uma despesa das empresas.

Ó capo, porque é que os trabalhadores portugueses têm baixas qualificações? E baixos salários?

Uma coisa digo-te: os empresários portugueses são bons para mandar mas não sabem liderar. Para já encaram-me sempre como se eu queira roubar a empresa e encaram-me como um custo e não como um investimento. Para além de, em certas alturas, me tratarem bastante mal...não sei, talvez porque sintam que eu preciso do emprego para viver...só tenho a minha força de trabalho para vender...portanto posso dizer que o pessoal com mais riqueza tem mais liberdade do que eu...além de que a grande maior parte dos dirigentes terem formação inferior (neste momento) aos trabalhadores assalariados...

Disseste que a taxa de imposto elevada é punitiva mas os escandinavos não se queixam disso...grande qualidade de vida e as cargas de imposto das mais elevadas do Mundo...

A.KÜTTNER disse...

O conteúdo deste comentários é bastante interessante e é uma oportunidade de se sentirem várias opiniões e talvez de não se ficar sempre, sempre e só, numa de vitimização e ser possivel vislumbrar alternativas.


Sendo que se for possivel, cada comentador ter o cuidado de se fixar na crítica à mensagem e NUNCA ao mensageiro, talvez seja mais util...


E quantas mais sugestões melhor, ficar SÓ a olhar para trás....não dá!!

Anónimo disse...

Caporegime, "o fascista (mas um ignorante dos quatro costados...) de serviço".
Deves estar á espera de receber umas coroas dos teus senhores, deves, ó caporegime.!
Mas, bem podes agarrar-te ó malho porque os fulanos esmifram-te todo e não te pagam a ponta dum corno.

Miguel Lopes disse...

"Se numa relação amorosa as pessoas têm de ter o direito à sua liberdade, porque raio é que numa relação económica assim não o deverá ser?"

E é exactamente neste ponto que encalha o debate. Já noutro postal nos tínhamos deparado com a dificuldade do comentador Caporegime em perceber que nós não vivemos numa espécie de mutualismo mercantil, onde o que se dá e o que se recebe é directamente proporcional ao "esforço", "mérito", "trabalho" ou o que se lhe queira chamar. Ele ainda não percebeu o que são forças coactoras, daí este paralelismo com o amor, que é uma relação de igual para igual (por vezes com algum poder informal, concedo...), que difere das relações económicas que não são de igual para igual, porque as partes não têm todas o mesmo poder.
Ele chama "liberdade" às formas modernas e descentralizadas que o Estado usa na defesa da classe dominante. Ele esquece-se que o Estado está por baixo disso, com todo o seu aparelho legal, repressivo e burocrático.
Isto é, o aumento do campo das possibilidades dos capitais na capacidade de apropriação, é uma imposição do Estado contra as minhas liberdades, nomeadamente a minha liberdade em não ser coagido pelo capital, ou a minha liberdade em não aceitar a exploração como forma de acumulação.