terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Não deveria a oferta de habitação ajustar-se à procura?

O Idealista comparou recentemente o valor dos imóveis à venda entre o 3º trimestre de 2020 e de 2025, concluindo que «há cada vez menos casas no mercado que as famílias podem pagar sem ultrapassar os seus limites de esforço». De facto, em cinco anos, o número de casas à venda com valores até 200 mil€ caiu 73%, registando-se um aumento de 42% no universo de casas com valores acima de 500 mil€.


O Idealista estima ainda, para 2025, a distribuição da oferta por escalões. Apenas em cinco distritos do continente (Bragança, Guarda, Castelo Branco, Portalegre e Beja) as casas até 200 mil€ representam mais de metade da oferta, contrastando com os distritos de Lisboa, Faro, Porto, Aveiro e Setúbal, nos quais a oferta de casas até este valor é inferior a 10% do total. Neste universo, destaque para Lisboa e Faro, com valores de apenas 2% e 3%, respetivamente.

Considerando o volume de transações na Grande Lisboa em 2025 (INE), e a variação apurada pelo Idealista, é possível estimar, de forma aproximada, a distribuição de casas à venda, por escalões, em 2020. Nestes termos, a oferta até 300 mil€ cai de cerca de 33% para 9% do total, ao mesmo tempo que a proporção de imóveis acima dos 500 mil€ aumenta de cerca de 49% para 63%, entre 2020 e 2025.


Confirmando o aumento galopante dos preços - que «descolam» dos rendimentos das famílias - estes dados desafiam ainda a análise convencional entre oferta e procura. De facto, num contexto em que o rácio de alojamentos por família quase não se alterou, não era suposto que os comparativamente baixos rendimentos das famílias levassem à descida dos preços? Ou será que são as novas procuras - que encaram a habitação numa lógica de investimento, com elevada capacidade aquisitiva - a explicar a quebra de relação entre preços das casas e rendimentos das famílias?