sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Tudo, em alguns lados, ao mesmo tempo


«Quando confrontados com os efeitos das novas procuras especulativas na subida dos preços da habitação, indissociáveis da "transformação das casas num negócio", como assinalou Sam Tsemberis (criador do modelo Housing First) em entrevista recente ao Diário de Notícias, a direita política e agentes do setor imobiliário e do turismo procuram desvalorizar esses fatores, alegando, de forma sistemática, que os mesmos têm um peso residual. Isto é, que não é nestas novas procuras, associadas ao investimento estrangeiro e ao aumento do Alojamento Local, a par da procura de imóveis na lógica especulativa, que deve ser encontrada a razão de ser da atual crise de habitação.
O (...) problema da tese da "falta de casas", a que se recorre para desvalorizar as novas procuras, de natureza especulativa, que encaram a habitação como um simples "ativo financeiro", é que não atende à incidência territorial cumulativa dos investimentos imobiliários em questão. Isto é, apresenta o peso relativo do Alojamento Local e dos investimentos imobiliários no seu todo, como se a sua incidência fosse homogénea no território. O que está longe de ser assim.
»

O resto da crónica pode ser lido no Setenta e Quatro

6 comentários:

Anónimo disse...

Tem razão na incidência territorial cumulativa. Eu que o diga, tenho um apartamento em Lisboa e parte de um casarão na província. O casarão, todo, talvez dê para comprar um T1 em Lisboa, mas não nas freguesias mais caras. Razão? O pessoal da aldeia tem debandado. Tem hoje metade dos habitantes de décadas atrás. Porquê? Porque não há trabalho qualificado, fora algum serviço público, porque não há transporte público nem saúde decente. É muito bonito, é muito romântico, tem muito passarinho, muito cão a ladrar, mas não tem nem presente nem futuro.

Quanto a Lisboa, esse pico até pode existir na compra e venda de casa. Já com o alojamento local duvido que vá para arrendamento. Tal como estão as leis de arrendamento, é quase uma transferência de propriedade. Mais vale não mexer, deixar estar, meio a cair, e depois vender se necessário. É uma loucura, nem o proprietário tem rendimento nem se consegue arrendar casa. Funciona um pouco como os cordões de ouro de antigamente.

Está muito pior agora? Duvido. As expectativas é que são maiores. Quando vim para Lisboa décadas atrás tive de ir para um quarto que me comia um terço do ordenado. Quando quis arrendar casa, apareceu-me uma na Amadora que me comeria mais de metade do ordenado. Valeu-me a emigração.

Fora isso, convém não esquecer o custo acumulado do empobrecimento do país
Os salários não acompanharam o aumento dos preços dos bens; das torneiras, das sanitas, dos vidros...

Agora quanto aos tais picos, onde estão em Lisboa? Estrela, Musericórdia, Avenidas Novas, Campo de Ourique.

Anónimo disse...

"transformação das casas num negócio"
A casas não foram transformadas num negócio, nunca foram outra coisa. Primeiro deixa-se a construção de casas exclusivamente à iniciativa privada, depois chora-se porque os privados não estão interessados em perder dinheiro a construir habitação para uma população que ganha em média pouco mais de 1000 euros por mês.
Não creio que solução seja engodar os particulares com a promessa de lucros com a construção para AL e estrangeiros, a seguir nacionalizar os investimentos que foram feitos e pô-los a subsidiar as rendas a preços controlados.
Os seus mapas só dizem que onde há mais concentração de pessoas os problemas são maiores, o que não é uma grande descoberta.
As casa que estão feitas a mais não foram feitas para a nossa classe média pobre. A não ser que queira obrigar os condomínios de luxo a alugar por 500€/mês. Já tiveram a idéia peregrina que parando uma parte substancial do turismo e esblulhando o AL conseguem mais meia dúzia de casa a preços de roubo. Claro que isto só resulta, se resultar, uma vez. Acabaram com o único processo que permitiu reabilitar centro históricos em ruínas nas grandes cidades.

Anónimo disse...

Boa tarde. Consegue-se medir o impacto da procura de casa por imigrantes. Considerando falar-se em 400 mil brasileiros, como é que pode influenciar a análise?
Obrigado
Nuno

Anónimo disse...

A tese da falta de casas apesar de errada, e bastante sedutora dado a teoria economicamente dominante, talvez por isso não é suficiente refuta la pela dedução da oferta através da variação do número de casas por habitante. Não s eria melhor rejeita la pela variação de angariações visto que estas são a oferta?

António Alves Barros Lopes disse...

Que faltam casas em Portugal num é verdade. Para não dizer que é mentira!
Segundo os Census de 2021 há 730 000 alojamentos devolutos em Portugal. (diria um milhão)
Segundo as mesmas estatísticas
Portugal é dos países da europa com mais casas por família.
Há 1,4 casas por cada família.
O que quer dizer que por cada cinco famílias alojadas sobram duas casas.
Nos mapas apresentados falta um (pelo menos). Um mapa que apresentasse, concelho a concelho, a mancha das casas devolutas.

Anónimo disse...

Óptimo. Vamos redistribuir a população. Fazê-la sair de Lisboa e Porto e mandá-la para o Alentejo, Trás-os-Montes e Beira. Vão sobrar casas em Lisboa e no Porto.