terça-feira, 25 de agosto de 2020

Sem programa, e embalados por sondagens (I)

Para lá das margens de sintonia programática, e do contributo irresponsável para a normalização da extrema-direita (a que o João Rodrigues e o João Ramos de Almeida já fizeram referência neste blogue), há no perigoso caminho que Rui Rio parece disposto a trilhar - ao abrir a possibilidade de «conversar» com o Chega (reiterada por David Justino, para quem no PSD «não há cordões sanitários») - uma indisfarçável dose de despudorado calculismo eleitoral.

Face à dificuldade de afirmação, em termos de intenções de voto, PSD e CDS-PP deparam-se ainda com o crescimento gradual dos novos partidos de direita com representação parlamentar. Desde outubro de 2019, de facto, as intenções de voto no Chega e na Inicativa Liberal passaram de 3% para 11%, ao inverso do que sucedeu com o PAN e o Livre, que caem de 8% para 3%. Isto é, se a esquerda convencional consolidou o seu peso relativo, PSD e CDS-PP encontram-se cada vez mais acantonados perante o crescimento da IL e do Chega. Sem estes partidos, a direita representa 29% das intenções de voto. Cooptando-os, pode aspirar a uma representação na ordem dos 40%.


O problema de fundo, sobretudo no caso de Rui Rio, é porém outro. A rutura com a austeridade desvairada de Passos, aliada à incapacidade de fixar um programa alternativo consistente (e que não se preste a confusões com o PS), colocaram o atual líder do PSD num beco sem saída. Se por um lado conteve a queda do PSD, por outro não dispõe de condições que lhe permitam afirmar-se como alternativa. Rio sabe disso, vendo na aproximação ao Chega a derradeira hipótese de romper com o limbo em que se encontra. Já não se trata propriamente de «testar Trump», como fez Passos em Loures. Agora é sobretudo o desespero, irresponsável e imprudente, de quem acha que pode cruzar uma linha vermelha, saindo ileso e sem ter nada a perder.

9 comentários:

Anónimo disse...

Está por apurar se o peso do chega nas sondagens não são apenas votos transferidos do CDS e do PPD/PSD.
Os media estão TODOS empenhados em dar cobertura ao chega, a que se juntam as EMPRESAS de sondagens, cuja sobrevivência depende da faturação e que sabem a quem fazer as sondagens, quando as estatísticas servem para encher primeiras páginas.
Se nos lembrarmos que o "criador" da "criatura" foi líder de uma empresa de sondagens, ligada a uma universidade que vendia licenciaturas, podemos estimar o que valem as sondagens.
Neste momento e para além do desaparecimento do CDS, temos a perspetiva de cisão entre o PPD e o PSD.
Quantos votos do centro vão parar ao chega, ainda se está para ver.
A Insignificância Liberal provavelmente perderá o lugar de deputado para o chega nas próximas eleições e irá fazer companhia à alianca na prateleira de aberrações políticas portuguesas do sec. XXI.
A ver vamos...

Carlos disse...

É possível. Mas não se pode juntar o PS ao BE e à CDU, sob o argumento que é tudo esquerda!

Jaime Santos disse...

Ora aqui está uma análise sóbria que não encosta o PSD às posições de um Lord Hallifax :) . Assino por baixo...

Jose disse...

«contributo irresponsável para a normalização da ext rema-direita»

Tudo que ameace a 'doutrina dos coitadinhos', peça essencial à suposta bondade irremediável da esquerda, é imediatamente rotulado de extrema-direita.

A alternativa à esquerda sempre será à sua direita; à medida que a esquerda suporta uma governação 'socialista' predadora, a direita crescerá.

Anónimo disse...

PS forever, Mexico style!!!!!!

Anónimo disse...

1) Entre votar no Chega ou no Costa, eu engulo um charco inteiro de sapos, e voto no Costa. Prefiro um país falido e governado por corruptos demagogos, que é a essência que define o PS, a ter um país governando por xenófobos e racistas. A história dá-me razão: no primeiro caso o país vai para a pobreza e marasmo, no segundo normalmente vai para a guerra e termina tudo em colapso. 2) Tenho alertado há muito tempo que a comunicação social e os políticos andam num estado de sonambulismo, e os indicadores são claros: dívida pública já acima de 130% do PIB, aumento brutal da despesa pública em layoff e prestações sociais, diminuição brutal da receita devido à quebra da atividade económica, o Costa já prometeu ainda mais apoios sociais, e com o Titanic a afundar, a classe política dá-nos música.

JE disse...

Temos portanto as empresas de sondagens no centro das análises politicas. Mais a preocupação com os votos no centro.

Se juntarmos a isso as somas das esquerdas sob o argumento que tudo é tonto.

Temos uma espécie de coisa mas não de México style ( essa de considerar a nossa governação como uma espécie de México europeu diz bem do desnorte da banda passista).

Uma espécie de holandês style. Mas travestido

JE disse...

Jose tem gostos

Por exemplo não gosta que lhe lembrem o "contributo irresponsável para a normalização da extrema-direita" por parte de Rio

Gosta portanto desse contributo de Rio

Não se sabe uma coisa. Se esse gosto deriva do gosto de ver Rio a navegar para a extrema-direita. Ou de ver o Chega a engordar daquela forma que tem como "útil"

E para disfarçar a coisa, levanta o missário e entoa a "doutrina dos coitadinhos"

Suspeita-se que jose goste mesmo desta. Tem bons mestres. Os eugenistas e os seus teóricos.

E claro, de Bolsonaro

"Tudo é coitadismo’, diz Bolsonaro sobre negros, mulheres e nordestinos

Os gostos do jose estão a ficar a cada dia que passa mais refinados

JE disse...

"29 de agosto de 2020 às 10:41"

Aprecie-se o estilo do homem. De mão no gatilho

Ele já nos "tinha avisado"

Ele é ele. Mas quem é ele?

Ele também já tinha alertado.Os politicos pois então. E ainda por cima o Costa prometeu AINDA mais apoios sociais. Ainda MAIS. E a "classe política" a dar-nos musica

De como se mistura políticos com políticos e classe política com classe política. E os AINDA mais apoios sociais, porque os que há fazem a revolta de qualquer sabugo neoliberal

Os milionários que financiam o Chega fazem parte da mesma elite que financia o PS, o PSD e o CDS-PP e que sabem a importância de terem alguém que instrumentalize o descontentamento social... Foi assim nos anos 20 e 30, é assim agora.

joão pimentel ferreira faz o que pode