quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
Uma reveladora economia política
Desde pelo menos José Sócrates que as entrevistas ou declarações mais reveladoras, em termos de economia política, de um Primeiro-Ministro desta periferia são dadas à comunicação social da finança internacional.
António Costa não é diferente, revelando à Bloomberg, fundada por um fulano com esse apelido e que agora quer comprar a presidência dos EUA, a já famosa resiliência do consenso neoliberal. Afinal de contas, afiança Costa, é sempre “necessário dar maior confiança aos proprietários e aos mercados”.
António Costa não quer nada com as experiências da capital alemã, apoiadas pela social-democracia, em matéria de controlo político da especulação imobiliária. Lisboa pode ser mais cara do que Berlim para arrendar uma casa, mas da Alemanha António Costa só importa mesmo o fetiche anti-keynesiano do equilíbrio orçamental. Por cá, nem investimento público, nem controlo da especulação, nem nada.
António Costa até responsabiliza as taxas de juro baixas pela situação no imobiliário, esquecendo-se que o problema não está numa pequena parte de qualquer solução, mas sim numa finança internacional sem controlos nacionais, seja no sistema bancário, seja na forma como condiciona sistemas de provisão vitais para a vida.
O último refúgio de um neoliberal nacional em matéria de habitação é, claro, o eterno mito das rendas congeladas, já aqui tantas vezes desmontado. Também aí, António Costa não é diferente.
É como vos digo: revelador, tristemente revelador.
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8 comentários:
Em matéria de habitação, não tem estatuto moral para falar em mercado quem não aceitar dois princípios.
- O inquilino que não paga a renda, sai da casa.
- O inquilino que deixa a casa, entrega-a na condição em que a recebeu.
A partir daí falem de condições e provisões e do mais que lhes pareça.
Pode ate ser um fetiche, mas não e anti-keynesiano, Keynes defendia o equilibrio orçamental ao longo do ciclo economico. A 'economia de guerra permanente' e uma criação posterior a Keynes, que morreu em 1946. Não confunda pos-keynesianismo com keynesianismo ou neo-keynesianismo (que surgiu quando se percebeu que inflação e estagnação podiam andar juntas), se faz favor.
Mas eu volto à minha eterna pergunta, João Rodrigues. Se tudo e tristemente revelador, por que razão não defende uma moção de censura ao Governo do PS? Se calhar porque o PCP, la bem no fundo, como se viu com o Orçamento, sabe muito bem que enquanto a nossa divida for o que e (e esqueça a renegociação que se faz sempre nas condições dos credores), não ha soberania que nos sobre, com ou sem Euro.
Da jeito ter um neoliberal para fazer o trabalho sujo e arcar com as culpas, não e?
Um primeiro ministro que utiliza a "capa" socialista para manter e fazer passar politicas neoliberais não pode ser gente séria. Um país que tem este tipo de gente como líder obviamente é um país condenado.
Sabe, Jaime Santos, o seu aprisionamento dogmático num raciocínio fechado, de círculo vicioso,fá-lo precipitar-se invariavelmente na mais perniciosa das conclusões: a de que não há alternativa ou (conclusão tão nefasta como a primeira) a de que havendo-a, ela é sempre pior do que aquilo que agora temos. Foi precisamente essa ideologia das inevitabilidades (alavancada, é certo, pelo aparelho ideológico, espremido até ao tutano), que permitiu que um governo como o de Passos Coelho, estivesse a um passinho de se perpetuar de 2015 a 2019, dando sequência ao desmantelamento iniciado quatro anos antes. E aqui, cabe lavrar duas notas. A primeira é de carácter circunstancial e serve apenas para dizer que a sua conclusão de que dá sempre jeito um neo-liberal para fazer o trabalho sujo, talvez seja um bocadinho precipitada, pelo menos no que toca ao PCP, a quem dirigiu essas setas, já que, com o insofismável peso da verdade histórica, quando Costa e os seus pares já ajoelhavam perante o Suserano, foi precisamente esse PCP que reivindicando haver políticas alternativas possíveis e necessárias, disse também que para tanto seria possível haver alternativas políticas, que, como concordará, aquele Partido impulsionou de forma pioneira na noite eleitoral e viabilizou corajosamente durante a legislatura, batendo-se não apenas contra os sectores mais retrógrados da direita tradicional (de que Cavaco Silva, foi um triste símbolo, nomeadamente com a birra da tomada de posse do então novo governo), mas também de muitos sectores retrógrados do PS, corporizados por exemplo em figuras mesquinhas como Francisco Assis.
A segunda observação, é de carácter mais amplo e poderá ser interpretada como um sumário executivo relativamente ao papel da social-democracia efectivamente existente no que toca ao desenvolvimento(entusiástico, para além do mais) de políticas neo-liberais, mas também como essa tem sido a principal porta de entrada para o tenebroso avanço da extrema-direita, fenómeno a que, ao contrário do que muitos alegavam, Portugal não está, obviamente, imune. O papel dos vários governos europeus comandados por partidos que a si mesmos se apelidam de socialistas, é a raíz por onde corre a seiva que alimenta a penetração dos ideais simplificadores da extrema-direita, que se limita a capitalizar para si o descontentamento latente daqueles a quem é dito, dia após dia, que se correrem um bocadinho mais, vão mesmo alcançar a cenoura, estrategicamente colocada à distância certa de ser vista mais jamais comida pelo pobre animal que a persegue, alienado e inconsciente do destino que para ele foi traçado.
Nem Keynes estava à vontade com a concessão a algo que não encaixava, nem o keynesiasmo se resume a Keynes. Keynes não terminou o trabalho, mas Ruml, Kalecki ou Lerner fizeram as suas contribuições até chegarmos a Mosler e Mitchell. Qualquer um deles come os disparates do Jaime ao pequeno almoço, que há de morrer sentado à espera da inflação e falência Japonesa e Americana.
Afinal é por pura desonestidade intelectual que Jaime Santos não reconhece o quão destrutiva é a política de equilibrio orçamental imposta pela EU é para o nosso país.
"Pode ate ser um fetiche, mas não e anti-keynesiano, Keynes defendia o equilibrio orçamental ao longo do ciclo economico."
Se Jaime Santos fosse honesto reconheceria que Keynes estava certo quando defendia que quando a taxa de juro natural estava próximo do zero apenas a política fiscal poderia ser eficaz para tirar a economia da crise. Passados quase 12 (doze!) anos sobre o eclodir da crise parece que a procissão ainda não saiu do adro. O QE, como seria de esperar, revelou-se ineficaz para gerar um mínimo de inflação e crescimento.
Se Jaime Santos fosse minimamente honesto reconheceria que ainda estamos numa fase do ciclo económico em que o equilíbrio orçamental é contrário ao crescimento e bem-estar da população portuguesa e europeia. Por maioria de razão os excedentes orçamentais requeridos pela EU são uma cavalidade em termos económicos.
Só quando o ciclo económico estiver numa fase de crescimento, pleno emprego e prosperidade deveria ser procurado o equilíbrio orçamental ou até o excedente, mas Jaime Santos e os seus apaniguados estão com pressa, não podem esperar. O resultado é que a economia no seu conjunto continua esganada pelo miserabilismo de quem lucra com a miséria alheia.
É pena que quando o país se endividava como resultado directo de tratados e regulamentos injustos e criminosos Jaime Santos não tenha lavrado a sua oposição.
Mas Jaime Santos não pode escamotear a realidade de uma política perversa e contrária às boas práticas económicas, e isso deve ficar registado e explicitado.
Se não forem dadas condições para que o ciclo económico mude com mais inflação e mais crescimento nunca a divida poderá ser paga. Nestas condições a dívida será eterna e Portugal será dela escravo ad aeternum. Mas parece que o objectivo de Jaime Santos é que Portugal continue a ser uma "debt bitch" da sacrossanta EU.
Quando se verifica um impasse na evolução económica de um país ou de uma zona económica, manda a razão que se procurem alternativas credíveis, insistir no erro é criminoso.
Errare humanum est perseverare diabolicum est
@João
Ninguém quer saber do "estatuto moral".
Faz mais sentido simplesmente proibir-se senhorios. As casas deviam ser ou de quem lá vivem ou do estado que deve saber gerir.
É para @Jose*
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