«São eles, os pobres, os desempregados, os desapossados, os “parasitas”, na figura da família que nos é apresentada nas cenas iniciais. Vivem numa cave atravancada, com uma janelinha ao nível da rua aonde os bêbedos vêm urinar, e dedicam-se àquele “parasitismo” comum dos tempos modernos que consiste em tentar aproveitar o wi-fi dos vizinhos. (...) Os parasitas parasitam, mas não há lugar para todos parasitarem ao mesmo tempo e por isso têm que se eliminar uns aos outros. (...) O alto e o baixo, a luz e os subterrâneos, a vida à superfície (os privilegiados) e a vida nas profundezas, numa espécie de invisibilidade (os “parasitas”) são elementos que pontuam o filme, visualmente, num extravasar de significados que não chegam a ser “metafóricos”. O domínio do sensível impera — não há apontamento mais cruel, nem mais humilhante, do que aquele em que o pai da família rica se queixa de que o motorista (que é o pai da família “parasita”) cheira a “rabanete velho”, que é o cheiro que se sente “nas pessoas que andam de metro”. Todos os complexos de classe (para cima ou para baixo) se resumem nessa frase e nessa ideia, a de um cheiro que “cruza a linha” (como diz o pai rico). (...) Não há verdadeiramente vilões, a família abastada é feita de gente simpática e de comportamentos ou preocupações apenas levemente caricaturais. Se a violência os toca, é quase como um ricochete: são os pobres, os parasitas, que se matam uns aos outros por um lugar na cave dos ricos.»
Da crítica de Luís Miguel Oliveira, O cheiro a rabanete velho, ao Parasitas.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
É um incremento notável, o cheiro a rabanete velho.
Aqui há tempos encontrei num autocarro um cheiro mais antigo, o cheiro a não-lavado; esse era o verdadeiro cheiro da miséria.
O cheiro a enxofre dos trolls Nazis consegue escapar a rede digital e contaminar o espaço pessoal de outros que entrem em contacto com as suas bojardas fascistas...
a miséria tem muitos cheiros, alguns dos miseráveis até estão bem lavadinhos e não deixam por isso de ser miseráveis
Enviar um comentário