E começo logo de manhã ao ouvir a Helena Garrido na Antena 1 a comentar estranhas coisas que devem ser objecto de reflexão governamental:
1) que a OCDE vem dizer que Portugal é dos países com salários mais baixos e insegurança no trabalho, quando tanto a OCDE (vidé Álvaro Santos Pereira...) como a própria Helena Garrido sempre defenderam a redução dos salários nominais e o despedimento livre como forma de modernização;
2) que defender a soberania nacional é populismo, algo só próprio do Estado Novo (sic!);
3) que já vimos onde foi parar esse nacionalismo populista, como no Reino Unido...
Não acredita? Eu também não quis acreditar quando ouvi, mas veja:
"Assistimos num novo tom de apelos ao nacionalismo e ao patriotismo, em que o governo e o Bloco de Esquerda assumem um protagonismo grande, em que nem consigo entender, uma vez que tudo isto tem raízes no Estado Novo e o PS foi um partido central com o PCP no combate a tudo o que de negativo tinha o Estado Novo que era colocar o país a preto e branco, isolado do resto do mundo. (...) O nacionalismo corre o risco de afastar mais investimento estrangeiro", etc., etc.A confusão pode ser fruto de muita coisa, nomeadamente da superficialidade de conhecimentos, em particular sobre o Estado Novo. Mas há algo de doentiamente enviesado na intelectualidade actual da direita ao defender que a soberania nacional é coisa do passado. Como se a sua bandeira fosse a levantada pela direita ordoliberal e todos estivessem bem juntos, como única salvaguarda de qualquer coisa.
Como dizia a Sophia: Quando, num casal, os dois pensam o mesmo, há um que não pensa.
13 comentários:
J. R. de Almeida:
O senhor é jornalista, deve conhecer muito bem o meio.
Quem pensar hoje «fora da caixa» em que jornais tem hipóteses de trabalhar?
Tem de ver as coisas também pelo lado prático da vida.
E a coerência nunca conviveu muito bem com o estômago.
A mediocridade da direita, da extrema-direita, da horda neoliberal está bem espelhada nos seus próceres.
Ao levantar da mão na saudação típica e aos berros do Angola é Nossa sucedem-se agora os "Deutschland über alles" . Às cerimónias da brigada do reumático rezando hipocritamente por quem ia matar e morrer em África, sucedem-se estas pantominices medíocres de coisas como a Helena Garrido (ou outro similar), em torno do elogio da globalização e do cosmopolitismo, de quem usa offshores como esconderijo dos ganhos dos seus "investimentos" .
Mas a ponta que une estes dois mundos é muito mais forte do que o que aparenta.
Tal como nos idos tempos do dito estado novo o que importava era o saque e os ganhos. Saque das colónias e saque das populações. Enriquecimento dos monopólios,. O país pertencia a meia dúzia de famílias, os donos de Portugal. E as fitas patrioteiras, as missas, as manifestações de braço estendido faziam parte duma liturgia em que se tentava demonstrar a superioridade - do homem branco- mas sobretudo do Capital.
Agora os seus descendentes, fazendo jus aos seus egrégios progenitores, seguem, por outro caminho , a mesma via de engrandecimento...do Capital. Para tal servem-se de tudo. Desde a mundivalência do lucro, até ao charme podre dos salteadores, como Barroso ou Borges. No fundo o que está em causa mantém-se: o lucro e a manutenção de taxas de lucro adequadas às suas actividades "empresariais"
Por isso as preces em torno de Portugal uno e indivisível foram substituídas pelos latidos em alemão e pelos rosnares globalizadores. Antes estes tipos diziam que a esquerda inventava Pátrias referindo-se às nossas ex-colónias. Agora simplesmente citam o último discurso de Schauble e salivam entre dentes que Portugal é uma Pátria inventada, esperando que tal entre no próximo discurso do ministro alemão.
É estranho que essa gente e a Helena Garrido, venha com demagogia querer "iluminar", quem na prática há muito tempo é internacionalista, anti-racista, aberto ao mundo e cosmopolita. Tudo isso, sem abdicar da sua dignidade, da sua soberania. Passar bem... E a antena1 continua a não fazer serviço público, não percebo porquê. Dias
Quando um Governo de Esquerda defende que o País não deve ser sujeito a sanções pela execução orçamental falhada de um Governo de Direita, que aplicou diligentemente (muito além da troika) a receita de Bruxelas, obviamente a dita Direita deveria neste caso particular e no seu próprio interesse e do País, apoiar tal linha de argumentação sem ambiguidades. Para pessoas inteligentes, isto deveria ser um 'no-brainer', até porque a aplicação de sanções não tornará certamente a UE mais popular em Portugal, e os partidos da Direita dizem-se europeístas. Sucede que eventuais sanções dariam muito jeito porque iriam criar um problema à coligação de Esquerda. Ou seja, sacrifica-se a estratégia em troca de vantagens políticas de curto prazo. Chama-se a isto a tática do 'quanto pior, melhor'. É triste, mas é infelizmente comum em política, as oposições só regressam ao poder se as coisas correrem mal aos governos. Compreendido isto, não há lugar para a ansiedade...
Sim, é um sacrifício grande ouvir Helena Garrido. Eu faço uma coisa simples porque não sou masoquista. Na semana HG mudo para a TSF.
Dolores Cabral
Caro Manuel,
Realmente, fui jornalista durante muitos anos. E conheço a Helena Garrido há quase tantos anos como isso. E sou amigo dela. Não creio que o caso da Helena seja aquela que retrata. É, na minha opinião, outra coisa: quando a realidade se exacerba, as posições extremam-se e as cabeças mostram-se pouco capazes de olhar fria e menos emotivamente para os problemas.
A Helena tem crenças muito fortes, formadas sobretudo pela Universidade Nova. Tem um olhar do mundo e adapta-o às circunstâncias. Ainda num debate recente em que foi apresentado um trabalho do Observatório sobre as Crises e Alternativas relativamente à imprensa económica - em que ela esteve presente, bem como o Nicolau Santos, e o João Vieira Pereira - foi isso mesmo que a Helena disse, quando confrontada com a responsabilidade social dos jornalistas ao defender a aplicação do Memorando. E em momentos de confronto - porque cada vez mais, desde 2011, é isso que se verifica nos nossos tempos - nem sempre é fácil mudar de crenças. E isso fica patente nas crónicas da Antena 1.
Este mecanismo intelectual obviamente não é exclusivo da Direita, se bem que sejam as ideias da Direita que tenham dominado desde os anos 90. Mas todos temos responsabilidades - e às vezes contra mim falo, quando lhe mando comentários ao que diz e defende - em fazer com que seja fácil às pessoas mudar de opinião e não acantoná-las em atitude de defesa permanente. Que é, na minha opinião, claramente a atitude da Helena agora que as suas ideias são questionadas todos os dias.
Dito isto, claro que as redacções estão progressivamente a ser chefiadas por pessoal com ideias de direita, mas isso é outro assunto.
Fica-me a estranha sensação que os portadores do sonho, os idealistas munidos de instrumentos de análise científica irrecusável (marxismo), perderam a noção de que os enunciados para serem tese têm que ser demonstrados.
A geringonça especializou-se - e foi esforço demorado e meritório - em enunciados, mas sempre recusa revê-los face aos factos. E esta acredito ser a razão maior das perplexidades dos seus seguidores e da impaciência dos seus opositores!
O governo anterior foi além da troika, e não chegou?
A troika fez um mau trabalho e geriu um mau plano, e não é esse o cerne da questão e da acção de demonstração do injustificado das sanções?
O Plano do Governo é o caminho correcto, fruto de uma cuidada e informada análise de cinco anos de protestos e originalíssima congregação de esforços, e ninguém vê os resultados?
E não me devolvem as massas do IRS? Já mo reino da Dinamarca...
Os portadores do sonho, os idealistas etc e tal ...pelos vistos são marxistas?
Ainda bem que há quem se reivindique de portador do sonho. Um poeta ( não do SNI) dizia que o sonho comanda a vida. Antes isso do que Vampiro.
Ou entusiasmado defensor da vampiragem , chamando à pressa as melgas para ver se disfarça o cheiro.
"As massas do IRS" chora desalmandamente um que anda com uma agenda dos coitadinhos no bolso
Mas qual IRS? Já lhe vasculharam as rendas? É que este afirmou alto e bom som que os offshores lhe serviam de escape para o produto do saque
Veja-se como o rótulo de vende-pátrias lhe serve que nem uma luva: saliva pelas sanções.E como levanta a mão em protesto contra os protestos que enfrentaram os vampiros que nos governaram.
Percebe-se porquê Era um dos que gritava e berrava pela ida além da troika.
"Claro que as redacções estão progressivamente a ser chefiadas por pessoal com ideias de direita,"
Esses tempos verbais, JRA, esses tempos verbais.
Cuco, esse teu problema de transformar ideias em cheiros merece avaliação especializada...
Cheiros ou cucos.
Tudo serve.
Mas,deixando de lado o problema familiar dos cucos a depositarem ovos em ninho alheio, não nos afastemos da questão:
A Helena garrido e a comunicação social que temos
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