sexta-feira, 1 de julho de 2016

Europeísmo, Federalismo e Ordoliberalismo


Hoje, é preciso lembrar que o ordoliberalismo germânico - a doutrina que preconizava a subtracção da economia aos decisores políticos mediante a fixação de regras jurídicas organizadoras da economia capitalista que seriam imunes aos efeitos das eleições - fazia parte do ideário de alguns dos mais influentes federalistas europeus do pós-guerra, como Altiero Spinelli. Quando ouço na televisão os suspiros desalentados dos federalistas dos nossos dias, fico perplexo com tanta ignorância sobre as implicações de uma moeda única para a Europa.

Ainda hoje nos querem impingir a mentira de que a ascensão de Hitler se deveu à hiperinflação dos anos vinte quando, de facto, ela já estava ultrapassada há muito. Pelo contrário, foi a espiral da austeridade deflacionista, levada a cabo pelo Chanceler Brüning, a partir de 1930, para responder aos efeitos da Grande Depressão nos EUA, no quadro do padrão-ouro, que gerou o desemprego de massa e criou o ambiente de conflitualidade social e política que catapultou Hitler para o poder. Tal como hoje, nesses anos de crise, a social-democracia apoiava as políticas de rigor orçamental, com excepção da Suécia.

Nessa época, a defesa da paridade com o ouro – câmbios fixos – obrigava todos os governos a adoptar as políticas de austeridade que bem conhecemos. Os desequilíbrios externos não podiam ser resolvidos através de correcções nas taxas de câmbio e só restava produzir uma recessão pelos cortes na despesa pública, para fazer baixar os salários, o que reduzia as importações e tornava mais competitivas as exportações. A taxa de juro também era aumentada para atrair capitais/ouro, o que agravava a recessão. Hoje, estamos a sofrer os efeitos da mesma política orçamental, em nome da moeda única e do sinistro projecto europeu sonhado por seguidores da doutrina ordoliberal.

Leiam o texto abaixo e tirem as vossas conclusões sobre o projecto destes federalistas europeus do pós-guerra.

Algumas considerações do economista italiano e federalista europeu Luigi Einaudi. Sócio fundador da Sociedade Mont Pèlerin, amigo de Lionel Robbins, Wilhelm Röpke e Friedrich von Hayek, entre outros, Einaudi foi figura de referência de Ernesto Rossi – também economista liberal que, com Altiero Spinelli, redigiu o famoso “Manifesto De Ventotene”.

“A vantagem do sistema [de uma moeda única europeia] não residiria apenas na contabilidade e na comodidade dos pagamentos e transacções entre estados. Apesar de enorme, esta vantagem seria pequena em comparação com outra, muito superior, a da abolição da soberania monetária de cada Nação. Quem se lembrar do mau uso que muitos Estados fizeram e fazem do direito de criar moeda, não pode ter qualquer dúvida sobre a urgência de lhes retirar este direito, o qual se reduziu essencialmente a falsificar a moeda, ou seja, a impor aos povos o pior dos impostos, e pior porque despercebido, e mais oneroso para os pobres do que para os ricos, promotor de enriquecimento para poucos e de empobrecimento para todos os outros, fermento de descontentamento entre classes e de desordem social. A desvalorização da lira italiana e do marco alemão, que arruinou a classe média e desagradou à classe operária, foi uma das causas do surgimento de bandos de intelectuais desempregados e arruaceiros que deram o poder aos ditadores.

Se a Federação Europeia retirar aos seus Estados membros a possibilidade de enfrentarem a despesa pública imprimindo moeda, e se obrigar esses Estados a recorrer unicamente aos impostos e a empréstimos voluntários, terá, só com isso, alcançado um grande resultado. Um exemplo de democracia saudável e eficaz, porque os governantes dos estados federados já não poderão ludibriar os povos com a miragem de obras realizadas sem custos, graças ao milagre da impressão de notas; em vez disso terão que demonstrar, para obter aprovação para novos impostos, ou crédito para novos empréstimos, que estão a disponibilizar serviços reais aos cidadãos.”

Luigi Einaudi, “Os problemas económicos da Federação Europeia”, ensaio escrito para o Movimento Federalista Europeu e publicado por “Nuove edizioni di Capolago, Lugano”, em 1944; hoje publicado também em “La guerra e l’unità europea”, Edizioni di Comunità, Milão, 1950.

“Os exportadores ilegais de capitais são benfeitores da Pátria, porque os capitais fogem quando governos insensatos e despesistas os desperdiçam; assim, levando-os para outro lugar, salvam-nos da chacina e preservam-nos para utilização futura, quando o bom senso tiver regressado.”

Luigi Einaudi, “Prediche inutili”, 1956-59, editora Giulio Einaudi. 

(Tradução de Pier Paolo Rotondo e Soledade Diamantino Santos, associados da DS – Democracia Solidária, associação política).

21 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado por este post.Por este muito excelente post. Porque a pesporrência ideológica se mistura com a "falta de memória". Ambas afinal se potenciam. Ou servem de pretexto uma à outra

E obrigado por lembrar que "foi a espiral da austeridade deflacionista, levada a cabo pelo Chanceler Brüning, a partir de 1930, para responder aos efeitos da Grande Depressão nos EUA, no quadro do padrão-ouro, que gerou o desemprego de massa e criou o ambiente de conflitualidade social e política que catapultou Hitler para o poder. Tal como hoje, nesses anos de crise, a social-democracia apoiava as políticas de rigor orçamental, com excepção da Suécia".

Entretanto foram os grandes interesses ecnómicos que viabilizaram e promoveram o rearmamento da Alemanha para cumprir os designios do III Reich.

Anónimo disse...

Talvez fosse bom que as elites alemãs parassem de vez de tentar aniquilar a Europa!?

Já é a 3ª vez que o tentam em 100 anos!

Jaime Santos disse...

O período de hiperinflação terminou em 1924, e a Alemanha conheceu um desenvolvimento económico significativo até 1929 graças aos planos Dawes e Young, através dos quais recebeu empréstimos dos Estados Unidos (creio que há uma boa discussão disto no livro de Blyth). Com a crise financeira de 1929, este período chegou ao fim, uma vez que a torneira do crédito se fechou. A política de austeridade de Bruening (o chanceler da fome) só piorou as coisas. Nesse aspeto, o que se passou a partir de 2008 não difere muito desse período. Mas há um pequeno pormenor que o Jorge Bateira não referiu. Em primeiro lugar, a hiperinflação é causada pela falta de 'hard-currency' para pagar as dívidas de guerra. Em segundo lugar, o período até 1924 foi um período de violência, instabilidade política e penúria na Alemanha. Ou seja, na minha modesta opinião, isto mostra na perfeição o que poderia acontecer a um País como Portugal se saísse do Euro sem reservas significativas de moeda estrangeira (vide a minha pergunta anterior). Presumo que as reservas de Euros dos bancos passariam para o Estado, mas como sabemos, o setor bancário é talvez o principal calcanhar de Aquiles da nossa Economia (tal como no caso grego no ano passado). E com uma boa parte da nossas reservas em ouro depositadas no Estrangeiro, nem essas nos poderiam valer. Como alguém dizia no Guardian com grande eloquência, não vale a pena retomar o controlo, se aquilo sobre o qual se retoma o controlo se transformou num deserto (wasteland). Por isso é que estas questões têm que ser consideradas em pormenor e fazê-lo seria um serviço ao País, já que existe uma boa probabilidade de sermos empurrados para fora da zona Euro, e convinha que estivéssemos preparados. Pela minha parte, prefiro agarrar-me a soluções que restaurem um módico de decência na vida das pessoas comuns através da devolução de salários e pensões e do fim do assalto à propriedade pública e ao meio ambiente protagonizado pela PàF de 2011-2015. Pode parecer pouco, mas não é todo...

Anónimo disse...

Sob as ruinas de uma Europa destruída nasce aquilo a que deram o nome de Tratado de Roma CEE-UE , não para mais justiça social, mas para dar vida aos sonhos de Winston Churchill & Cia - os “Estados Unidos da Europa”, portanto, uma Confederação com capital talvez em Londres ou Paris.
De raiz anticomunista, portanto, antidemocrática e apoiada pelos USA, ver Plano Marshall- Eurodólar - que serviria de barragem a´ “ ameaça” da ideologia materialista da então U. Soviética. Ainda hoje se observa que os pulmões da OTAN dão vida ao caos de que resultou esta U.E., em toda a Europa e Bacia mediterrânica em geral. De Adelino Silva

Jorge Bateira disse...

Caro Jaime, quando sairmos do euro - ou mais provavelmente, quando o euro acabar - devido à prolongada estagnação o país tem as importações próximas das exportações. Apenas precisa de uma reserva em dólares para cerca de 18 meses destinada a enfrentar as necessidades de importações não cobertas por exportações, e que aumentarão com o relançamento da procura interna. Essas necessidades podem ser facilmente cobertas pelas reservas de ouro (uma parte está no BdP e outra está na nossa velha aliada, a Inglaterra). Se não quisermos hipotecá-las, podemos pedir um pequeno empréstimo ao Banco de Desenvolvimento dos BRIC (creio que Angola já despediu o FMI e imagino qual será a alternativa).

Quanto aos bancos, fora do euro ficam automaticamente estabilizados e recapitalizados. A entrada do Estado no seu capital corresponderá a uma nacionalização que o povo sentira como um alívio. O dinheiro é digital e entra nos balanços dos bancos com um registo nos computadores. As reservas dos bancos também são dinheiro digital e a liquidez - essa sim em notas e moedas de euros - continua nos bancos como parte do seu balanço e não deve ser entregue aos balcões. Isso faz parte do controlo de saída de capitais que é instituído no mesmo momento e que terá de funcionar até haver um ambiente estabilizado (ver Islândia).

As suas profissões de fé na catástrofe da saída do euro não passam disso mesmo, fé. Assim, não temos base para conversar. Pelo meu lado, para discutir uma situação histórica de grande incerteza como aquela que estamos a viver, agarro-me à realidade histórica, à teoria económica validada pelos factos e à racionalidade dos argumentos da comunidade científica. É isto que conta e não os artigos de opinião dos opinion makers em pânico.

Um governo fora do euro adoptará a estratégia do actual: estímulo à procura interna. E terá boas condições para ser bem sucedido porque, ao contrário do actual, pode gastar em salários, despesa útil em infraestruturas de saúde, educação, cultura e outras de apoio à actividade produtiva, para além de criar uma bolsa de emprego público em actividades socialmente úteis para quem está no desemprego de longa duração.

Os défices públicos, na etapa pós-saída do euro, devem ser grandes para injectar rendimento na procura interna e não devemos temer efeitos inflacionistas. Estes serão originados pela desvalorização da moeda (lado da oferta) e não pela procura.
Numa economia muitíssimo longe do pleno emprego - e com emigrantes a regressar - não há espiral inflacionista. Os recentes exemplos da Islândia e da Rússia mostram que a inflação importada se reduz muito em pouco tempo no quadro de uma política económica adequada.

Não estamos a viver tempos normais. Estamos a viver a agonia do neoliberalismo e, por isso, as estratégias de gradualismo ficam rapidamente confrontadas com os seus limites e o actual governo já percebeu muito bem o que isso significa. Resta saber se António Costa está disposto a responder à altura do que a História lhe vai exigir, ou se quer ser o Tsipras_2.

Jaime Santos disse...

Caro Jorge Bateira, Eu não faço profissões de fé em catástrofes, eu tenho é medo (uma emoção importante) delas. Quando diz que precisamos de reservas em dólares para 18 meses, eu pergunto-me se as temos (de quanto é que falamos?) e se a Inglaterra será assim tão nossa velha aliada quando decidirmos que vamos entrar em default. Tal como a 'special relationship', o Tratado de Windsor é tão especial que parece que só nós é que sabemos que existe. E ainda não percebi como vai substituir o dinheiro em circulação por Escudos e evitar que as pessoas guardem os Euros, mas se calhar isso sou só eu. E gostava de saber se levou em conta o abrandamento da atividade económica temporária derivada da saída do Euro, que julgo que qualquer pessoa honesta terá que admitir que será bem provável, no seu cálculo das reservas necessárias. Depois, há outra questão que coloca que é interessante. Se a UE se desagregar, teremos igualmente que lidar com o regresso de parte dos nossos emigrantes e isto fará o regresso dos portugueses de Angola parecer pouco em comparação. Note que há candidatos à liderança do Partido Conservador que já sugeriram (ver aqui http://www.theguardian.com/politics/2016/jul/01/cecilia-malmstrom-eu-trade-commissioner-brexit-uk-wto) que se a UE não conceder acesso ao Mercado Unido ao RU nas condições desejadas pelos Britânicos, o RU pode expulsar os nacionais de estados da UE. Não que eu acredite que se chegue a tanto, até porque há vozes do lado europeu (Merkel e Kohl, por exemplo) que aconselham que se permita que ao RU algum tempo para clarificar a sua situação política e como deseja sair da UE (Johnson et al não tinham qualquer plano B, como bem denunciou Theresa May num discurso durante a campanha). Mas que isto indica o nível de xenofobia no discurso político que se tornou aceitável na Grã-Bretanha (e que não começou com a campanha do Brexit), lá isso indica. Enfim, só problemas. Sabe, o insuspeito Silva Peneda dizia ontem na televisão que se quiserem criar um núcleo duro e nos perdoarem a dívida externa para sermos excluídos dele, ele aceita logo. Eu também. Parafraseando Jorge Sampaio, meus senhores se quiserem o Euro, levem-no. Resta só saber em que condições. E aí, lamento dizê-lo, mas as suas explicações não me deixam convencido. Como lhe disse, cuidado com o que deseja...

Jaime Santos disse...

Já agora, se me permite, tenho ainda algo a dizer em relação ao seu comentário sobre Costa e Tsipras. Tsipras revelou-se um líder hesitante, impreparado, que convocou um referendo de forma incompreensível e que, de repente, não soube o que fazer com a sua vitória. Como não dispunha de nenhuma estratégia para retirar a Grécia do Euro, olhou para o abismo e recusou-se a dar um passo em frente. Capitulou de forma humilhante, mas mostrou uma coisa que se não faz um Líder, faz um Homem. Foi capaz de colocar o bem-estar dos seus concidadãos à frente dos seus princípios ideológicos. Compare-se esse bom senso e humanidade com a ausência total de escrúpulos de um Johnson ou de um Gove e verificamos que entre o primeiro e os segundos existe um oceano de diferença (ver https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jul/01/boris-johnson-and-michael-gove-betrayed-britain-over-brexit). E será com esta espécie de gente que teremos provavelmente que lidar a partir de agora. Parabéns pelo Brexit!

Anónimo disse...

Chapeau ao comentário do Jorge Bateira

Anónimo disse...

Tsipras foi simplesmente um cobarde. Um cobarde e, pior do que isso. um traidor.
O "bem-estar dos seus cidadãos", que disse que foi a sua preocupação, está-se a ver ao que está a dar.
A Grécia num beco sem saída e a cada dia que passa pior. Com o futuro que esta União lhe reserva.

A pergunta pela meia dúzia de cêntimos é esta. Porque motivo a convocação do referendo foi incompreensível? Por ter dado a oportunidade à maioria do povo grego de fazer um manguito a esta UE?
Oportunidade que não foi aproveitada por Tsipras , que preferiu trair e comportar-se como um poltrão ao serviço dos seus amos e senhores.
Há por aí uma fotografia de um Tsipras a reconfortar um Cameron que diz tudo

Anónimo disse...

Quanto ao Johnson e ao Gove e a outros que tais...
Qual o motivo pelos quais os devemos respeitar e considerar?
Esta mania de considerar que o voto no Brexit ou a sua defesa implica qualquer tolerância com a extrema-direita ou com o racismo é tão despropositada como o de tentar meter tudo no mesmo saco.

Lá está. É um favor que se faz à extrema-direita identificar o descontentamento face à Europa com posições dessa mesma extrema.

E só não vê quem for cego ou quiser fazer o papel de cego

Anónimo disse...

O exaltante das 13 e 51 é o exaltante do costume.
Um tipo ao serviço de uma ideologia que tem no credor e no agiota o agente de serviço para fazer cumprir o saque dos saqueadores.
Sabe de que lado está.
Também o Vasconcelos o sabia

Anónimo disse...

Convínhamos que e´ muito difícil dar opinião acertada no meio de tanta argumentação contraditória mas certamente pertinente…
Tenta-se evitar o inevitável – os sacrifícios necessários dos portugueses - quer se fique quer se saia.
Por mim, estou pela saída. E conto com mais sacrifícios.
Simplesmente, nunca em tempo algum vivi sem sacrifícios.
Para quem nasceu em casa com chão de terra batida, mas pretendendo a liberdade, e não em vistoso palacete mas condicionado ao capital…
Não que não seja bom viver em palacete, mas prefiro a liberdade com trabalho produtivo. De Adelino Silva

Jaime Santos disse...

Caros anónimos, Eu gosto sempre que me deem oportunidade de esclarecer as minhas posições, mesmo àqueles que me insultam.

Será que é crime de traição à Pátria pedir ao Jorge Bateira que nos esclareça sobre as hipóteses subjacentes ao seu modelo económico? Os ladrões criticaram e bem o FMI pelas hipóteses que considerou durante a conceção do programa de austeridade. Em particular, lembro-me de um dado multiplicador que descrevia a relação entre a contração da despesa pública e a queda do produto que se verificou ser 3 vezes superior ao que foi assumido. O Jorge Bateira remete-me para uma comunicação de 2012 em que afirma que a Economia irá começar a crescer ao fim de poucos meses após uma saída do Euro, ao mesmo tempo que afirma que existe um risco de falência de muitas empresas, o que me parece contraditório. Ele agora esclarece que podemos usar as nossas reservas em ouro para cobrir as necessidades de divisas estrangeiras durante 18 meses, admitamos que as podemos reaver e vender rapidamente no Mercado Internacional (o que eu duvido, até porque há regras para isso). Em que condições de crescimento económico é que essas reservas chegariam (vide dúvida acima)? Depois, ele parece que tem muita confiança no aliado britânico. Eu discordo e estou bem acompanhado: http://duas-ou-tres.blogspot.pt/2016/07/para-ingles-ver.html, até porque, se Portugal declarar default, é possível que os tribunais britânicos determinem o arresto das reservas em ouro que estão na Grã-Bretanha a pedido dos nossos credores (ver http://www.buenosairesherald.com/article/181926/uk-court-says-english-law-applies-to-eurodenominated-argentinian-debt e ver ainda http://expresso.sapo.pt/economia/2016-05-16-Reservas-de-ouro-do-Banco-de-Portugal-valem-menos-devido-ao-euro). Eu gostava pois de conhecer o estudo detalhado que permitiu ao Jorge Bateira chegar às conclusões da sua comunicação e se ele fez uma análise de risco. Não me chegam argumentos de autoridade, embora ele seja Economista e eu não.

Quanto à questão do referendo grego ter sido incompreensível, notem que Varoufakis confessou a posteriori que o Governo do Syriza nunca considerou seriamente a saída da Grécia do Euro (porque Tsipras não quis). Se se vai puxar pela corda, é preciso estar preparado para que ela parta, e Tsipras não estava. Logo, o referendo é, nessa perspetiva, incompreensível.

Quanto à questão de a situação na Grécia ir de mal a pior agora, com certeza, mas Tsipras capitulou para evitar uma catástrofe a curto prazo (a UE já preparava ajuda de emergência à Grécia). Não se pode sair do Euro só porque nos apetece, é preciso preparar a saída. E é aí que a porca torce o rabo e isto tanto vale para a Grécia como para Portugal. Não vale a pena travar batalhas que não se podem ganhar.

Quanto à questão do apoio ao Brexit, eu acuso as pessoas de Esquerda que fizeram campanha pela saída de terem cometido um erro tático terrível, não as acuso de colaboracionismo com a Extrema-Direita (que foi quem realmente ganhou o referendo), sei bem que as razões de Farage não são as da Esquerda soberanista. Mas, para verem como param as modas, desde a vitória do Brexit e de acordo com o artigo de Freedland que citei acima, o número de ataques xenófobos aumentou 500% na Grã-Bretanha e candidatos à liderança dos Conservadores ameaçam expulsar cidadãos da UE se não conseguirem o que querem em futuras negociações. E acham que a condição das classes trabalhadoras vai mesmo melhorar sob um Governo mais à Direita do que o de Thatcher, sem as (poucas) proteções sociais que a leis europeias garantiam e sem os fundos que eram atribuídos a àreas geográficas deprimidas? Good luck with it...

Anónimo disse...

Tsipras foi assim não só um traidor e um cobarde como também um oportunista.
Ou seja o que vimos com a convocação do referendo foi um gesto que desqualifica aquele sujeito.
Mas nao desqualifica nem o referendo nem o seu resultado.

Anónimo disse...

Ou seja a convocação do referendo só foi incompreensivel para os que trairam o povo grego e pelos que foram derrotados pelo povo grego.

Anónimo disse...

Tsipras nao capitulou porque quis salvar o povo grego. Capitulou para salvar os seus interesses e os intereses que serve. O povo grego deu.lhe um nandato e estava disposto a responder pelas suas consequências. Todas elas. Tsipras nem sequer preparou a saída nem a fuga de capitais. Tsipraa nao só foi oportunista como foi desonesto. E foi um cobarde. Traindo o seu povo e sujeitando-o a piores condições no futuuro. Rendeu.se ao directório.
E as batalhas que nao se podem ganhar são precisamente as que Tsipras tem pela frente. É tambem aí que a porca torce o rabo

Anónimo disse...

Quanto ao Brexit parece-me desagradável ir buscar citações de Jaime Santos sobre ele. Já lá iremos ao Brexit. Mas registar que o Brexit foi a vitória dos que querem reaver a democracia. Dos que querem um outro caminho. Dos que sabem que o racismo era uma trave mestra de Cameron. Dos que sabem que se combate a extrema.direita em todas as frentes e dos que querem dignificar as pessoas e os povos.
Quanto a este ser um governo pior do que os de Thatcher...uma ilusão de optica ou uma apreciação enfeudada ao idolo do neoliberalismo

Anónimo disse...

Quanto a quem foi de facto derrotado é ver como reagiu o directorio, os patrões do mundo, o FMI, a Nato, os falcões, os Soros, os agiotas, as agências de rating, o grande Capital.

E ver como a extrema- direita avança a cada declaraçao a favor da perda de soberania ou da rendiçao aos senhores da UE

Jaime Santos disse...

Caros anónimos, Não discuto o direito do povo grego de ser consultado quanto ao seu futuro. Discuto o facto de que Tsipras não deveria ter convocado aquele referendo naquele momento, porque não saberia o que fazer se o ganhasse. Um de vocês até concorda comigo que Tsipras não preparou a saída do Euro de todo (consequência inevitável da recusa de aplicação de mais austeridade). Quanto às batalhas atuais, de facto Tsipras não as pode ganhar, mas pode ganhar tempo, que era algo de que ele não dispunha na altura, com a Grécia à beira do colapso económico, com falta de bens de primeira necessidade e com a Comissão a preparar ajuda humanitária de emergência. Não brinquemos com isso, na decisão política responsável não há lugar para fanfarronadas e para planeamentos feitos por meia dúzia de pessoas à porta fechada (vide as declarações de Varoufakis). E, já agora, Tsipras até ganhou uma eleição depois da humilhação. Vocês vão dizer o quê? Que os gregos são estúpidos e cobardes e se deixaram manipular pela aliança Syriza+UE+capitalismo internacional? Tretas, eles perdoaram Tsipras porque este escolheu o mal menor. Quanto ao Brexit, lamento, mas o Governo de Cameron está demissionário. De todos os candidatos à liderança do Partido Conservador, os socialmente mais à 'esquerda' são Crabb e Gove (espanto!) e não parecem ter chances. Será com o Governo de Theresa May ou de Andrea Leadsom que os Britânicos terão provavelmente que lidar. P.S. Reconheço (mas não sem algum gozo) que me enganei quanto ao destino de Johnson e Gove, mas nunca esperei que o segundo apunhalasse o primeiro pelas costas. Mas a farsa em que se tornou essa traição mostra bem a total falta de escrúpulos e preparação dos principais (sublimo principais) líderes da campanha pelo Brexit... Os que a ganharam...

Anónimo disse...

O referendo serviu de muito.
Serviu para medir o pulso à vontade do povo grego sobre o que à UE diz respeito
Só não vê quem não quer ver.

Tsipras ganhou uma eleição depois da"humilhação" ( humilhação? Isso é um puro eufemismo). E o que tem isso a ver com o desastre há muito anunciado? Quer que lhe diga os vencedores das eleições gregas desde a instalação da crise grega em todo o seu esplendor?
Tsipras vai implodir ou explodir. É apenas uma questão de tempo. Qual perdão nem meio perdão. De resto ele sabe que Roma não paga a traidores. E também do seu primitivo lado começa a ser visto como o que é. Nem teve coragem de aparecer por cá.
Tão só uma questao de tempo

Anónimo disse...

A ajuda da comissão foi uma fraude. Não era isto que os gregos queriam. A chantagem sobre a Grécia foi inqualificável e, francamente, a caridadezinha oferecida pela dita foi mais lenha para aumentar a pressão sobre o país. Para instalar mais o pânico.
A saída do Euro devia ter sido equacionada da forma séria a partir do momento em que se levou à prática o referendo. A necessidade de um plano B detalhado era imprescindível. Não foi feito. Bem pode Tsipras limpar as mãos à parede. Bem podem dizer que ganhou algum tempo. Ganhou algum tempo apenas para ele.
O resto são tretas para justificar o injustificável.
Quanto ao Brexit e o partido conservador. Uma farsa. Do partido conservador não há que esperar nada e a luta entre estes não interessa mesmo para nada a menos que seja para se auto-degladiarem.
E não se fale em falta de escrúpulos dos principais líderes da campanha pelo Brexit. Confundir mais uma vez os principais líderes do Brexit com meio partido conservador vem na mesma onda que os folhetinescos episódios da extrema-direita ter ganho o referendo. Porque se vamos por aí a falta de escrúpulos do Remain passa por Cameron e por Blair. E por toda a chantagem sobre o povo do RU por parte de todo o Capital e de toda a máfia organizada em Bancos, em agência de Rating, em G7 em FMIs e coisas do género. Francamente será que pensam que somos parvos? Até se utilizaram do Game of Thrones. Disseram que os impostos iam disparar e o financiamento do SNS estaria em perigo.
A falta de escrúpulos do Remain foi tal que muitos observadores independentes chamaram a atenção para a desajustada campanha dos seus dirigentes- uma campanha baseada no medo e em nome do medo.
Por isso o Brexit foi acima uma vitoria sobre o medo. E por arrasto sobre a extrema-direita e sobre os mandadores do mundo