«O trabalho assalariado perdeu estabilidade, centralidade e viu-se despojado de muitos dos direitos a ele associados. Porém, à medida que tal tendência se acentuou, foi-se percebendo que não era tanto “o trabalho” per se que perdia importância. Havia, sim, uma necessidade sistémica de estimular a competitividade com base na redução dos custos salariais, ou seja, uma resposta do capitalismo global, que procurava aperfeiçoar o seu metabolismo no sentido de assegurar novas atividades lucrativas, baseadas na especulação, à custa da desvalorização da economia produtiva, da destruição generalizada dos direitos laborais e do regresso a novas formas de servilismo e de escravatura dos trabalhadores. (…) Na verdade, a desvalorização do trabalho e o aumento do desemprego evidenciam hoje o triunfo do mercantilismo sobre a democracia, ou, se quisermos, da barbárie sobre a civilização.»
Elísio Estanque, O desemprego é uma oportunidade?
«Se a uma empresa convém pagar um salário mais baixo aos seus trabalhadores, essa medida só lhe é útil se for a única a aplicá-la, porque no dia em que todas as empresas reduzam os salários, a procura interna vai diminuir, dado que são esses rendimentos dos trabalhadores que pagam o consumo dos produtos produzidos por todas estas empresas. De facto, a teoria da redução dos salários ignora a sua consequência imediata: a diminuição da procura dirigida às empresas pequenas e médias, que são as que criam mais emprego em Portugal. A recessão que se viveu em Portugal em 2012, e que se está a agravar em 2013, é sobretudo o efeito da queda da procura interna. A redução dos salários é um fator indesmentível da crise.»
Francisco Louçã, Baixar os salários é o caminho para salvar a economia?
«O problema da nossa legislação não é por isso o de garantir demasiados direitos. Por um lado, a legislação que existe tem permitido multiplicar as formas precárias de emprego. Por outro lado, o peso da economia informal e subterrânea - e a persistência de traços característicos dos regimes pré-fordistas de organização do trabalho - não são em Portugal um mero resquício do passado, mas antes um fator estrutural e estruturante das relações económicas e sociais. (…) O que a realidade nos vem demonstrando é que a precariedade é, na verdade, a antecâmara do desemprego: quanto mais precário é o emprego, mais vulneráveis ficam os trabalhadores ao desemprego, mesmo em empresas que dão lucros. A precariedade não evita o desemprego: promove-o.»
José Soeiro, Os direitos dos mais velhos estão a bloquear os dos mais novos?
«O pano de fundo de tudo isto é a ameaça: “Não quer? Vá-se embora e deixe trabalhar quem está disposto a tudo no desespero das fileiras do desemprego.” Cereja em cima do bolo: “Está desempregado? Tire um curso de empreendedorismo. A seguir monte um negócio, uma microempresa, uma coisa qualquer - de preferência, claro, inovadora. Não consegue ter clientes? Ainda não tem as competências necessárias. Mas não desista, os empreendedores são aqueles que nunca desistem, não desista da aprendizagem ao longo da vida - faça outro curso de empreendedorismo.»
Luís Fernandes, O que faz falta é sermos empreendedores?
Em dia Primeiro de Maio, a referência a quatro textos que integram o livro «Não acredite em tudo o que pensa - Mitos do senso comum na era da austeridade», editado pela Tinta da China e que estará disponível nas livrarias a partir do próximo dia 3, sexta-feira.
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2 comentários:
e não dava para pôr uma parte do texto dos ciganos, confesso-me curioso com a argumentação.
Atrevo-me a recomendar um livro escrito por um sul coreano, Ha-Joon Chang.
O livro intitula.se "23 Things They Don't Tell You About Capitalism" e devia ser de leitura obrigatória para todos os membros do governo, deputados e comentadores do estilo do Camilo Lourenço.
Sobre o trabalho é interessante a parte em que coloca um mistério, porque é que os condutores de autocarros de Estocolmo ganham mais do que os de Mumbai (Bombaim) quando estes têm muito mais trabalho, ruas esburacadas, trânsito caótico, passageiros indisciplinados, etc.
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