quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Grécia


Há pelo menos um aspecto em que a Grécia não é Portugal. A maioria dos gregos já compreendeu que a austeridade imposta pelos credores não resolve nenhum problema – o défice e a dívida incluídos – e conduz ao colapso, não só económico e social, como do próprio Estado. A Grécia não cumpriu tudo o que lhe era exigido? Cumpriu mais do que se diz, e o que faria, se tivesse cumprido tudo. O que está a ser exigido à Grécia é o suicídio como país. Os gregos dizem basta, e basta é a palavra adequada.

A maioria dos gregos, a acreditar nas sondagens, parece inclinar-se para um “não aos sacrifícios sem sentido”. O “não” neste momento significaria uma moratória unilateral ao serviço da dívida, um Estado a funcionar nos estreitos limites das receitas fiscais, o pouco dinheiro que existe ao serviço das necessidades básicas do povo grego, não dos credores. Isto não implica uma declaração de saída unilateral da Grécia da zona euro ou da UE. À UE caberia descobrir o que fazer nesta eventualidade. Parece-me que a maioria dos gregos tem razão ao preferir a luta digna pela existência, ao suicídio colectivo. O governo e o parlamento gregos, que deixaram já de ser representativos, estão a encenar resistência e protesto. No final irão provavelmente capitular e a Grécia encontrar-se-á de novo à beira da bancarrota dentro de alguns meses só que dessa vez num quadro de colapso social completo.

José M. Castro Caldas, A Grécia aqui tão perto, no Público de hoje.

8 comentários:

António Carlos disse...

"... um Estado a funcionar nos estreitos limites das receitas fiscais..."
Sem défices orçamentais? Sem nova dívida? Excelente solução. Mas não é isso que os neoliberais querem e o novo pacto europeu advoga?

António Carlos disse...

Já agora uma questão que me suscitou uma reflexão.
Uma das medidas a que os Gregos se opõem é ao corte no seu salário mínimo.
Considerando que (segundo os media) o salário mínimo na Grécia (aprox. 750€) é cerca de 50% superior ao Português (aprox. 500€), como justificar essa discrepância no quadro actual (i.e., comparando a situação financeira dos dois países)?

Anónimo disse...

Os Srºs deviam colocar algo como Full Disclosure: Nós (blog) defendemos a saída da Grécia do Euro.

Assim pelo menos colocavam todos os vossos comentários em perspectiva. E, já agora, eram mais honestos.

Anónimo disse...

A imoralidade continua, os que tão no desemprego no desemprego vão ficar e os que recebem o ordenado mínimo vão ver baixar os seus rendimentos, ou seja os que menos têm com menos vão ficar ainda assim continuamos a assistir a comentários e comentadores imbecis, não há paciência para esta gente...

meirelesportuense disse...

Os indivíduos que fazem determinados comentários, querem lá saber dos que ganham ordenados mínimos ou dos salários cortados!...Estão noutra!
Só querem saber de filosofia económica.

José M. Castro Caldas disse...

O que aqui se "advoga" é que nenhum governo deve sobrepor o serviço da dívida à satisfação das necessidades básicas e direitos humanos do seu povo. Ou será que os direitos dos credores devem ter prioridade sobre todos os outros?

Uma moratória unilateral do serviço da dívida tem como consequência que o Estado grego passa a dispor apenas das suas receitas correntes enquanto decorrer a reestruturação da dívida a sério. Isto não é muito diferente do que acontece actualmente na Grécia. Segundo o Eurostat, em Dezembro de 2011, o deficit primário (sem juros) da Grécia era de mil e quinhentos milhões de euro. O pacote agora imposto à Grécia exige uma redução da despesa muito superior a isto.

Um deficit primário nulo nada tem que ver com um orçamento equilibrado para todo o sempre e sejam quais forem as circunstâncias como eles exigem no tratado que não querem referendar.

A Grécia sairia da zona euro? Que eu saiba os tratados europeus têm uma clausula de “no bailout”, mas não uma de expulsão (nem sequer em caso de incumprimento).

O salário mínimo grego é alto relativamente ao português? E o português não será alto relativamente ao chinês? Toca de alinhar por baixo? Para quê?

António Carlos disse...

"O salário mínimo grego é alto relativamente ao português? E o português não será alto relativamente ao chinês? Toca de alinhar por baixo? Para quê?"

O salário mínimo em cada país depende naturalmente da capacidade das empresas e do Estado para o pagarem. O que me deixa perplexo (mas não sou economista) é que, considerando a situação da economia grega e a portuguesa (e partilhando as duas a mesma moeda), a diferença seja de 50%.

drmaybe disse...

o que me deixa perplexo, e não sou economista, é que numa união económica e monetária haja Estados que querem reservar para si superavits à custa do déficit dos outros. custe o que custar.