quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Pão e circo

Se há herança imensamente perdulária da governação socialista dos tempos do engenheiro António Guterres, ela consubstancia-se nos vários estádios de futebol construídos por esse país fora, muitos deles verdadeiros elefantes brancos que pouco ou nada servem para o fim desejado (veja-se o exemplo de Coimbra onde a função essencial da coisa parece ser albergar um enorme centro comercial), para efeitos da realização do Campeonato Europeu de Futebol de 2004. (Entre parentesis recorde-se que o primeiro ministro actual foi um dos principais artifices da coisa, na altura…)

Num país pobre e com tantas coisas prioritárias a necessitar de investimento (público, do governo central e local, mas também privado), até mesmo a (re-)construção de dois estádios faustosos em cada uma das duas maiores cidades do país, sobretudo com generosos apoios públicos…, parece um exagero desmedido, perdulário e, dadas as condições do país, ofensivo.

Pois de novo com o país (agora ainda mais) endividado e a precisar de tantos e tão prioritários investimentos (em infraestruturas, nos serviços públicos, etc.), um outro governo socialista está de novo a dar prioridade ao circo em detrimento do pão e, assim, apoiando institucionalmente a drenagem de milhões (necessários noutras áreas...) para a organização (em parceria com Espanha) do Campeonato Mundial de Futebol.

Claro que neste caso como no anterior seria uma brutal injustiça não referir o beneplácito de toda (!) a oposição a estes faustosos e perdulários investimentos… no circo. Que vozes minimamente audíveis (do CDS ao BE) se fizeram ouvir para criticar tais investimentos no circo? Minimamente audiveis, eu diria que nenhumas!

8 comentários:

Anónimo disse...

chama-se a isso o circulo vicioso da pobreza. faz lembrar os de parcos recursos com 2 ou 3 telemóveis , que gastam o salário no dia em que o recebem em palermices que dão na tv , e sem jantar em casa , pois faz.
A massificação da classe política não trouxe nada de bom ao mundo , de facto. curto prazo , a mentalidade desses moços (moços , porque moças há poucas , infelizmente : preocupam-se quase sempre com o jantar dos filhos)

Diogo disse...

Existe um crime de Administração Danosa que dá cadeia. Quando é que a colocamos em prática?

Nuno Santos Silva disse...

Caro André,
Não confunda estádios privados, pagos pelos clubes proprietários e seus sócios, com estádios municipais, pagos por nós todos.
São (talvez com a excepção do Bessa)municipais os estádios que estão a dar prejuízo...

Anónimo disse...

Caro Nuno,

Mas todos foram construídos com generosos apoios públicos (nacionais e/ou locais) e isso é que é escandaloso.
Além disso, num país com muito escassos recursos mesmo a drenagem de recursos privados para actividades espúrias é um escândalo. Os sistemas de incentivos/desincentivos estatais deviam tornar isso demasiado oneroso para evitar tais aventuras...
Além de que, sublinho de novo, há sempre generosos apoios públicos por detrás (fiscais, terrenos, etc.) Tem alguma dúvida?
Note aliás que esses tais clubes privados com actividades pagas pelos sócios são muitas vezes como "empresas" falidas que só sobrevivem por causa dos apoios públicos que recebem (quanto mais não seja com um fechar de olhos a incumprimentos fiscais, segurança social, etc.).
Concluindo, no final há sempre muito dinheiro dos contribuintes mal gasto...
André Freire

Zé Neves disse...

Caro andré freire,

Tenho quase a certez que o BE foi contra o Euro2004.

Mas, sobretudo, queria chamar a tua atenção para uma coisa: não deitar fora o menino com a água do banho, como já alguém disse. Isto é: o circo do futebol sobrevive - felizmente - sem os grandes estádios dos grandes clubes e sem os grandes clubes. E o circo não é mau, é bom. O BE tinha um cartaz em relação ao Euro04, creio, que dizia: o voto que não vai em futebóis. Estando eu contra o Euro2004, não posso, porém, aceitar frases deste género, que reflectem um preconceito geral face a uma área da cultura popular e de massas de grande importância para a felicidade dos homens (mas também de algumas mulheres) e dos povos, como se dizia no antigamente. Por isso, também, o teu "pão e circo" parece-me que poderia ser evitado, independentemente de eu concordar por inteiro com a tua posição... Mas repara que o grande combate não é apenas retirar dinheiro ao desporto para dar a outras coisas. O grande combate é, também, para que, do dinheiro de todos nós que vai parar aos grandes clubes, a maior parte passe a ir parar ao desporto escolar, ao associativismo popular, etc. E que da monocultura futebolística se passe para um regime mais plurar em termos de apoio a modalidades.

saudações de um benfiquistas de base

António de Almeida disse...

Nesta discussão sobre o Euro 2004 vejo muitas vezes críticas vindas de quem esteve calado na época, talvez porque o país estava mobilizado com a ideia, não dúvido. Mas há uma questão que raramente vejo referida, a UEFA permite organizar a competição em apenas 8 estádios, tenho até dúvidas se não poderão ser menos, mas pelo menos 8 podem, basta consultar o Euro 2008 que decorreu em 4 estádios na Áustria e outros tantos na Suíça. Por cá teria de ser em grande, foram 10 porque julgo que não poderiam ser mais, recordo que na altura Viseu, Madeira e Açores também queriam entrar no festim, e já se sabe que ninguém tem coragem para travar o poder autárquico. Isso implica que Portugal construiu pelo menos 2 estádios a mais do que lhe fora exigido para organizar o evento, dinheiro público jogado na rua...

LA disse...

Na altura só eram precisos 6 estádios e construímos 10, foi um erro grave.
Mas agora que já estão feitos, porque não aproveitar para os fazer render dinheiro com um Mundial?
Nunca cheguei a saber se o Euro deu lucro? Será que o prejuizo foi mesmo muito ou vocês estão a exagerar?

Ana A. disse...

Parece que agora vamos também gastar os poucos tostões públicos que sobram a destruir dois deles, o de Aveiro e o de Leiria.