segunda-feira, 18 de maio de 2009

Nota de rodapé a propósito da "deslocação geopolítica mundial"



Há algum tempo atrás, noticiava o “Jornal de Negócios” (“Empresas”, 2 de Dezembro de 2008) que os monges do Templo Shaolin se converteram à gestão capitalista, tendo agora um “abade director-geral”, ou “Shaolin CEO”, encarregue de conduzir os destinos desta lendária instituição, para o que conta com a devida marca registada, cadeia de lojas franchisadas em vários países europeus, site na internet e lojas on-line onde qualquer profano – aliás, consumidor – pode adquirir o antigo, secreto e pretigiado manual de Kung-Fu de Shaolin pela módica quantia de 9.999 yuan (cerca de 860€).

Recentemente, a edição portuguesa do “Courrier Internacional” (nº 159, deste mesmo mês de Maio) revelou-nos que na China, o mundo da finança, dos banqueiros e dos investidores, faz depender muitas das suas decisões dos vaticínios dos mestres de Feng Shui. E há até instituições bancárias que têm um mestre de feng-shui interino. Mais do que aquilo a que certos economistas nos habituaram, estes “mestres” e aqueles que os seguem julgam-se pois capazes de antecipar o comportamento dos mercados e, assim, gerar riqueza (suspeito que, em primeiro lugar, para si próprios)…

Parece que, tal como se lê no mais recente Global Europe Antecipation Bulletin, a partir de agora, «os indicadores que cada um tem o hábito de utilizar para as suas decisões de investimento, de rentabilidade, de localização, de parceria, etc... tornaram-se obsoletos e (…) doravante é preciso procurar alhures os índices pertinentes se se quiser evitar a tomada de decisões desastrosas».

E é neste “alhures” que está o busílis. Por cá, parece que já muitos ganham a vidinha com o “tarot empresarial”, o “eneagrama” e outras baboseiras do género, gozando de uma credibilidade inquietante - pelo menos, junto de vários daqueles únicos académicos que fabricam e seguem gurus, que são os da área da Gestão, e também entre todos aqueles que os promovem e publicitam.

E ainda que tudo isto possa surgir travestido de "sucesso" e “racionalidade alternativa”, a mim parece-me puro obscurantismo. Não sei o que dizem os astros, mas cheira-me que haverá cada vez mais oportunidades para o desafio de vender estes produtos. E não sabemos até quando os mercados que absorvem tão fantásticas mercadorias se mostrarão resilientes.

PS: Nada disto tem a ver com o primo de José Sócrates

5 comentários:

L. Rodrigues disse...

Tenho um amigo que trabalha numa agência de comunicação e, além de ser ele próprio virado para uma certa transcendência, garantiu-me que muito gestor da nossa praça não dá um passo sem consultar este ou aquele oráculo.
(na altura falávamos de um especifico, chinês, cujo nome me escapa).
Interrogo-me se algum deles previu a "crise que ninguém podia prever".

Anónimo disse...

Amigo., E porque não esta cena do "Shaolin ?". Acredito mais nela que em todas as patranhas nos ensinam desde a mais tenra idade nas escolas e só dá empresários e banqueiros corruptos. O.K.,o "Shalin ?", não resolve, mas se calhar não faz mal. Já o sistema estabelecido ! Valha-nos .....

Anónimo disse...

Excelente post e o remate final é delicioso.
Deve ser por estas e outras que Mintzberg diz que a gestão é mais arte que técnica.

Miguel Fabiana disse...

...é a chamada abordagem "holística" !

De buzzword em buzzword, de "manual" em "manual" os produtos do conhecimento neoantigo (©Nuba) vão fazendo furor entre o middle-management ... mas um dia destes, se não concretizarmos as oportunidades que inegavelmente hoje nos são OFERECIDAS, os gurus neoantigos (©Nuba) voltam à carga com os kung-fus deles!...ai voltam, VOLTAM!!!

Como diz a minha Mãe: fia-te na virgem e não corras...vais ver que te apanham !

anderson disse...

interessante