quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Quando é o nosso país


Desiludo-me mais quando é o meu país. A negligência, a desorganização, o abandono, os contrastes entre belo e feio, triste e alegre, pobre e menos pobre, que observo quando ando na estrada, ferem-me como não acontece se viajo em países distantes em que as falhas me podem suscitar curiosidade ou até mesmo emoção, mas não me interpelam directamente. Pergunto-me, inevitavelmente, o que posso fazer. Pergunto-me o que diz sobre mim o facto de amar esta paisagem. 

Palavras corajosas, retiradas do último livro de não-ficção literária da autoria de Susana Moreira Marques, mais no espírito de Maria Lamas do que no espírito do tempo. Prolonga o argumento que escreveu e protagonizou para o maravilhoso documentário – Um nome para o que sou –, realizado por Marta Pessoa. 

É sobre a descoberta, por esse país afora, do que ficou de As Mulheres do meu País, mas também do muito que mudou desde aí: “Mas são talvez as tuas mãos vazias – os largos períodos de mãos vazias – a maior prova do progresso”. 

Um livro depurado, entre o melancólico e o esperançoso, que nos ajuda a pensar sobre as mãos visíveis e invisíveis das mulheres deste país.

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