sexta-feira, 30 de junho de 2023

Enviesamento do debate português sobre inflação: um singelo exemplo


Por vezes, tenho dificuldade em explicar o quão enviesado no sentido conservador é o debate português sobre a inflação comparado com o quadro internacional, mesmo este sendo pouco plural.

Mas aqui fica um exemplo claro.

Luís Aguiar Conraria (economista que os incautos tomam como sendo de centro-esquerda) defendeu, no Negócios da Semana (aqui), que seria uma medida irresponsável o BCE rever a sua meta de inflação em sentido ascendente, já que poria em causa a sua credibilidade e poderia agravar a inflação. O BCE deve, pois, continuar a subir os juros, não interessa a que custo. Sem surpresa, num painel de convidados que contava com António Nogueira Leite e João Confraria (apesar de tudo, o mais polido e equilibrado na sua forma de debater), não houve ninguém que fizesse oposição a esta posição. Para o telespetador, fica a mensagem implícita de que se trata de um consenso dentro da profissão. É o que os especialistas” pensam sobre o assunto. 

No entanto, em sentido bem inverso, Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI, e insuspeito esquerdista, publicou em Novembro passado um artigo no Financial Times (aqui), onde sugeria ser virtuoso que os bancos centrais decidissem rever a sua meta de inflação para 3%, evitando custos económicos e sociais desnecessários no controlo da inflação.

Isto não significa que eu concorde com a posição de Blanchard no que respeita às origens e soluções para lidar com a inflação.Mas este é um exemplo do quão encostado à direita e refém de um falso consenso técnico está hoje, como há dez anos, o debate económico português.

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