Numa altura em que o número de greves e manifestações tem aumentado face à crise do custo de vida, vale a pena olhar para os resultados da sondagem recente do ICS-ISCTE: 74% dos inquiridos dizem que as greves não têm afetado particularmente o seu dia-a-dia e a esmagadora maioria (87%) considera-as tão ou mais necessárias do que no passado para defender os direitos dos trabalhadores.
A mobilização coletiva dos trabalhadores tem feito muita falta: nas últimas décadas, enquanto a taxa de sindicalização caía de forma acentuada na maioria dos países ocidentais, a parte dos salários no PIB - isto é, a fatia do rendimento produzido que é entregue a quem trabalha - reduziu-se bastante, como mostram os dados do Banco Central Europeu. Com a sindicalização em mínimos históricos, os trabalhadores têm cada vez menos poder para negociar aumentos salariais (em muitos países nem sequer têm acompanhado a evolução da produtividade). Quem beneficia são as empresas, que recebem uma fatia cada vez maior do bolo.A tendência agravou-se com o regresso da inflação e com as políticas económicas das principais instituições: de um lado, a subida das taxas de juro por parte do BCE, cujo objetivo é comprimir a procura agregada e o emprego, e, de outro, as medidas de contenção salarial de governos como o português, que definem atualizações salariais e de pensões muito abaixo da inflação.
Para combater esta transferência de rendimento da base para o topo, a mobilização coletiva faz hoje tanta falta como no passado. Ao contrário do discurso de quem vê em cada greve uma oportunidade para explorar divisões entre trabalhadores de diferentes setores, o impacto que as greves têm na vida das pessoas é um bom indicador de que os serviços em causa são importantes para a sociedade e de que os trabalhadores que garantem, todos os dias, o seu funcionamento merecem o nosso apoio na defesa de condições de trabalho e remunerações mais justas. Só as empresas é que ganham com a ausência de greves.
1 comentário:
As greves têm sido, de tal forma, vulgarizadas pelos sindicatos que a população vai adaptando as sua vida, de forma a ter sempre uma alternativa. De resto, as greves são feitas principalmente em empresas do Estado, logo daquelas onde há sempre por trás o dinheiro dos Contribuintes. É por isso que se impõe a privatização da sua grande maioria. A rede de transportes pode ser concessionada a privados que eles eliminarão os permanentes prejuízos e sucessivas injeções de dinheiro. A TAP, a CP, a Transtejo e outras são autênticos sorvedouros de dinheiro do Estado.
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