sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Portugal é o "bom aluno" de que escola?

No mais recente relatório publicado sobre o cenário macroeconómico da zona euro, o Banco Central Europeu analisa a previsão dos orçamentos dos países pertencentes à moeda única e destaca a tendência de consolidação orçamental no próximo ano. O BCE alerta que esta "pode acentuar a atual situação económica", isto é, agravar a recessão que a região atravessa, pelo efeito pró-cíclico da restrição da despesa e investimento públicos. A recomendação de uma política expansionista em resposta à crise encontra-se, de resto, em linha com o que tem sido dito pelo Fundo Monetário Internacional, que estimou que um aumento de 1% do PIB no nível de investimento público pode levar a um crescimento de 2,7% do PIB em dois anos.

É também o que tem sido dito por vários dos economistas para os quais, nos últimos anos, a intervenção do Estado na economia costumava ser encarada com desconfiança. No Financial Times, Martin Wolf escreveu recentemente que "os governos podem dar-se ao luxo de gastar. Aquilo a que não se podem dar ao luxo é não o fazer, deixando que as economias vacilem, que as pessoas se sintam abandonadas, que as cicatrizes económicas se agravem e que as economias se vejam presas numa trajetória permanente de crescimento inferior". Longe de ser ineficiente, a política orçamental é decisiva para enfrentar uma recessão como a atual, pelo efeito multiplicador no rendimento agregado e pelo papel impulsionador da atividade económica. Sobretudo no atual contexto em que, com taxas de juro baixíssimas devido à atuação do BCE, dificilmente podia ser melhor altura para orçamentos expansionistas.

O problema é que as últimas estimativas apontam para que Portugal seja um dos países que menos gasta em políticas estruturais para combater a crise (isto é, além da despesa relacionada com medidas de emergência). Na verdade, excluindo as medidas provisórias, o OE2021 é de contração, algo que só acontece também na Bélgica e na Finlândia. Ou seja, o governo decide contrariar as recomendações que até já são defendidas pelas instituições mais ortodoxas e quer recolocar o país no grupo dos que mais restringem a política orçamental na Europa, precisamente no contexto em que a única opção sensata é evitá-lo. A última crise financeira deixou claros os enormes custos sociais desta estratégia. Essa lição parece cada vez mais esquecida.

7 comentários:

Paulo Marques disse...

Portanto, a única "instituição" "governamental" que continua sem dúvidas que tudo deve continuar como sempre é o conselho europeu. Rápido, alguém que ligue dois fios ao túmulo do Voltaire, ele deve dar tantas voltas no dito que temos energia infinita.

Geringonço disse...

Portugal é o país que menos investe, Portugal faz parte do grupo dos austeros e "fiscalmente responsáveis"...

Mas a austeridade não tinha acabado com o Santo António Poucochinho Costa?

Aliás, o P.M. Poucochinho e outros "socialistas" insistem "afinal havia alternativa" à PAF, é o que os oiço dizer!
Mas qual alternativa?

Não Há Alternativa na neoliberal antidemocrática União Europeia.

Mais uma década perdida e o facho Chega a crescer!
Mas "mais Europa" e Bom Natal!!

Anónimo disse...

Como é que um País sem industria, com uma função pública povoada por assistentes operacionais e sem quadros técnicos suficientes (e muitos deles tarefeiros), dominado por oligarquias parasitas, vai conseguir investir em algo que promova o aumento da produtividade?
O estudo do amigo do António Costa?
Já está arrumado na gaveta!
Lembram-se dos 10 estádios de futebol, da expo 98, do ccb, das autoestradas paralelas a outras autoestradas, dos 3 hospitais PPP, do aeroporto de Beja, etc, etc, etc?
Pois, parece que já é assim há muitos anos.
OK, agora vão ouvir o Sousa Tavares dizer que os funcionários públicos são preguiçosos e que o melhor seria entregar esses serviços (especialmente o SNS) à família dele.

Jose disse...

As crises é que têm culpa: os bancos, os vírus são tão maus!
Não deixam os Estados endividarem-se à vontade.
Não deixam os partidos comprarem votos.
Não deixam os benefícios sociais anteciparem-se a produção.
Não deixam as pessoas serem felizes.

Anónimo disse...

Mais uma vez o poucochinho a fazer o seu papel de poucochinho TINA. Estás geringonças

JE disse...

Jose compara assim bancos com vírus

...onde andam as suas odes aos banqueiros? Até onde vai a impotência argumentativa para assim se ver reduzido a estes processos de comparação cabotinos...

e tão deliciosamente anti-virais


Mas cá para nós, não deixa de ser divertido ver um austeritário passisto-cavaquista-portista, daqueles do "mais além do que a troika" e se for preciso "levante-se da tumba Salazar", contrapor ao post sereno de Vicente Ferreira, estas pérolas sobre as crises, os bancos, os vírus,os partidos, os benefícios sociais.

E até sobre a felicidade, em jeito de "martelo dos hereges", qual Torquemada em acção

Enfim um Torquemada hodierno a arengar pelos negócios da grande banca, da dívida, da compra de votos ( até isso, Senhor...depois será a abolição destes?) e do enterro do Estado Social.

Mas da autêntica coça ao processo austeritário que aqui mais uma vez se evidencia... nem um pio que motive algo mais de jose, do que este seu reflexo de Pavlov

JE disse...

Já agora

Sabemos que a "última crise financeira deixou claro os enormes custos sociais desta estratégia". E trouxe ganhos para tubarões de alta calibragem.

Talvez isso justifique a ode que este Jose agora dedica a estas crises. Qual verdadeiro pinga-amores em busca de mais austeridade... e de mais proventos para os porno-ricos.

Tudo (ainda) mais claro