quinta-feira, 11 de abril de 2019

Vinte anos

Neste mês de Abril completam-se 20 anos desde que, em Abril de 1999, começou a ser publicada de forma regular uma edição portuguesa deste jornal (existente em França desde 1954). Tinha havido antes uma experiência efémera de publicação do mensário O Mundo diplomático, pela Dom Quixote e com direcção de Snu Abecassis, iniciada em Janeiro de 1976 e que durou cerca de um ano. Mas o período pós-revolucionário ia já bem longe quando em 1999, coincidindo com os vinte e cinco anos do 25 de Abril, a equipa dirigida por António Borges Coelho, com Jorge Araújo e depois Edgar Coreia como editores, deu início a 20 anos de publicação regular de uma edição portuguesa, a partir de 2006 publicada pela cooperativa cultural Outro Modo, com mais componente redactorial portuguesa e já no quadro de um vasto conjunto de edições internacionais pelo mundo fora (em 2018 eram vinte e nove, publicadas em dezoito línguas) (...) Não nos escondemos atrás de uma concepção neoliberal dos media, nem da democracia, para achar que as nossas páginas são meros espaços onde cabe tudo, sejam opiniões infundadas ou comentários ofensivos e discriminatórios (racistas ou sexistas, mas também classistas…), sejam formas de corrosão da racionalidade pela arbitrariedade. Não somos um espaço, muito menos neutro. Somos um projecto, exigente com a verdade e respeitador do jornalismo como garante da democracia. É neste projecto que queremos continuar a contar os com nossos leitores.

Sandra Monteiro, A nossa informação, as vossas escolhas, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Abril de 2019.

Para lá de excertos do editorial da grande responsável pela longevidade deste projecto cooperativo, deixo-vos também o resumo de um número muito especial:

“Neste Abril assinalamos 20 anos de edição portuguesa do Le Monde diplomatique e oferecemos, na compra do jornal, um suplemento com artigos sobre Portugal que foram publicados antes de haver esta edição. Nas décadas de 70, 80 e 90 o jornal tratou, entre outros, os temas da Revolução de Abril, das duas intervenções do FMI, da adesão à CEE e da integração na globalização neoliberal. Um suplemento que começa a revelar um arquivo fundamental para compreender o mundo.

Na componente portuguesa, destaque para um outro balanço de 20 anos, os de Portugal na moeda única, entre o sonho e o pesadelo (Vicente Ferreira). Ana Jara analisa transformações em Lisboa, uma cidade cada vez mais retalhada e com novas lógicas para o espaço público. José Aranda da Silva reflecte sobre a importância de uma nova Lei de Bases da Saúde para inverter o rumo da anterior e João Luís Lisboa sobre o que nos dizem dos sentidos do presente as polémicas recentes em torno das comemorações da viagem de Fernão de Magalhães. O escritor José Luís Peixoto traz-nos, num conto, as ‘Vozes submersas’ dos mergulhadores-apanhadores de algas no concelho de Odemira.

No internacional, acompanhamos a contestação social na Argélia, as eleições em Espanha e a escalada repressiva em França. Procuramos compreender a geopolítica internacional presente na concorrência entre os Estados Unidos e a China, potência cada vez mais importante e mais apresentada como ameaça, bem como nos movimentos de negociação, separada, entre norte-americanos e russos com os talibãs, sobre o futuro do Afeganistão. A subcontratação da política de asilo e de refugiados na Austrália ou, noutro ‘continente’, a sociologia dos sítios de encontros na Internet ou a relação do digital com o espaço público, são também temas de destaque. E prossegue a série sobre as ‘fake news’.”

6 comentários:

Jose disse...

«Não nos escondemos atrás de uma concepção neoliberal dos media, nem da democracia, para achar que as nossas páginas são meros espaços onde cabe tudo, sejam opiniões infundadas ou comentários ofensivos e discriminatórios (racistas ou sexistas, mas também classistas…=.

Jornalismo de facção … é assim mesmo!
A clareza é sempre de louvar.

Anónimo disse...

A clareza ê sempre de louvar.

Tal como o direito de admissão é algo a prezar. Sobretudo quando o que está em causa é impedir ofensas e propaganda racista ou sexista. Ou propaganda fascista

Este sujeito das 20 e 24 enfiou a carapuça até às orelhas. A sua imagem ao espelho está aqui bem retratada. A dele e a de alguns provocadores profissionais

Lá iremos se for necessário.

Anónimo disse...

"«Não nos escondemos atrás de uma concepção neoliberal dos media, nem da democracia, para achar que as nossas páginas são meros espaços onde cabe tudo, sejam opiniões infundadas ou comentários ofensivos e discriminatórios (racistas ou sexistas, mas também classistas…"

Lapidar.

Mais uma vez um excelente texto

Jose disse...

«discriminatórios (racistas ou sexistas, mas também classistas…)»

O classista aparece mais como 'in memorium' de um tempo em que se lutava pela discriminação da classe operária, em que se lhe destinavam os poderes de uma ditadura.

Agora o 'racistas e sexistas' tem plena actualidade.
Os indignados negros são sempre vítimas em sobressalto cívico; já se brancos serão muito seguramente supremacistas.
Quanto aos humanos fêmea - fórmula segura de acertar no género - a campanha discriminatória em seu benefício está no seu zénite.

Anónimo disse...

O sujeito com a carapuça enfiada até à maçã de Adão insurge-se.

O classista passa-lhe ao lado. Como não percebeu, invoca o "in memorium".

Mas a manifestação racista típica está depois expressa. Uma espécie de raiva animalesca, mal oculta e que lhe sai aos borbotões. Como se sabe o "sobressalto cívico " é algo que lhe dá volta aos intestinos, vulgo caganeira. Não há melhor defesa para os racistas do que dizer que os outros é que o são. O "sempre" e o "seguramente" põe à vista os seus objectivos e justificam a sua saída para enfiar a carapuça de racista.

A generalização néscia tem destas coisas. Protege os criminosos para tentar ilibar as suas próprias sacanices. A Ku Klux Klan também agia contra as suas vítimas, demonizando-as na sua passagem de fdp sem lei

Bolsonaro, que o tipo da carapuça enfiada andou por aí a imitar, segue-lhes os passos

Anónimo disse...

Quanto aos "humanos fêmeas" e à sua "fórmula segura de acertar no género"

Comecemos por esta "fórmula segura". Provavelmente seria assim que acertava no género da sua própria mãe. Confessemos que é demasiado evidente o mau gosto e o nível de quem assim se expressa. Mas isso é uma questão colateral.

O principal é outra coisa. É o apontar da ignorância bestial com que o do carapuço enfrenta a palavra "sexista". Confunde-a provavelmente com movimentos como o "me Too", ou serve-se destes para mais uma vez cumprir o seu ritual

Vejamos. Sexismo é algo muito mais amplo e profundo. Abarca a denuncia dos marialvas impenitentes e o mais das vezes impotentes. Abarca a canalha que chafurdou nos Ballet Rose e que se serviu das mulheres e suas filhas como só canalhas ( ministros de sua Exa Oliveira Salazar, industriais, gente da nobreza) o podiam fazer. Abarca a disparidade de salários entre uns e outros. Abarca a forma como o patronato mais néscio considera os direitos das grávidas e das mulheres trabalhadoras.

Tudo coisas mais fundas e mais sérias do que as palhaçadas em torno de "campanhas discriminatórias". Algo que nos tempos de chumbo do passismo seria classificado por este como choradeira de coitadinho