No âmbito dos acordos de Bretton Woods, os países impunham restrições aos movimentos de capitais, o que lhes permitia executar uma política monetária eficaz e manter alguma estabilidade da taxa de câmbio.
Com a revolução neoliberal, a ideologia e os interesses comerciais e financeiros acederam ao poder e impuseram a liberalização financeira e a livre circulação de capitais. Os anos oitenta e noventa foram esclarecedores quanto aos efeitos desta política. As crises financeiras na América Latina e na Ásia, com ondas de choque que se estenderam ao resto do mundo, mostraram o poder desestabilizador dos capitais especulativos. Jagdish Bhagwaty, um notável defensor do livre comércio, acabou por escrever um texto notável de crítica demolidora dos argumentos em defesa da livre circulação de capitais.
Joseph Stiglitz defende há muito tempo a necessidade de os países reduzirem a volatilidade do câmbio e o risco de bolhas especulativas através do controlo dos movimentos de capitais de curto prazo. Desde a mais recente crise financeira que a sua posição se tornou mais insistente (ver aqui).
O reverso da entrada de capital num país é o seu endividamento em moeda estrangeira, o que tem consequências devastadoras quando se verifica uma crise de confiança, caso em que a especulação contra a moeda produz uma desvalorização que o stock de divisas não consegue travar e, em consequência, aumenta drasticamente o serviço da dívida em moeda nacional. A Turquia é apenas um caso recente. Face às consequências da crise financeira de 2007-8, até o FMI já aceita o controlo dos movimentos de capitais como instrumento de uma política económica respeitável.
Porém, nada disto se aplica à Zona Euro. Como afirmo no vídeo, as bolhas do imobiliário que estão em crescimento na Europa, e também em Portugal, acabarão por rebentar e produzir os estragos que já conhecemos. É o preço de termos abdicado da soberania para estarmos numa zona onde o capital tem toda a liberdade para circular e especular. Toda a liberdade para sujeitar a sociedade aos seus desvarios e para impor a socialização dos estragos que produz.
11 comentários:
"A periferia teve um crescimento por via de um crédito fácil que gerou endividamento". Ainda veremos o Bateira a defender o Tratado Orçamental!
Aónio disse:
""A periferia teve um crescimento por via de um crédito fácil que gerou endividamento". Ainda veremos o Bateira a defender o Tratado Orçamental!"
Comentário ao comentário:
Comprova-se mais uma vez que o Aónio não percebe ou finge não perceber nada de economia nem das origens da crise. SEMPRE foi diagnóstico de todos os economistas dignos dessa qualificação de que o problema foi as taxas de juro demasiado baixas para as necessidades dos países da periferia mas que muito convinham à Alemanha, a braços com os custos da reunificação. Como a EMU não é uma zona monetária óptima não era e não é possível adaptar as taxas de juro às necessidades de cada país. É um defeito estrutural do Euro
Como o Tratado Orçamental proíbe explícitamente o controle de capitais e a repressão financeira o endividamento era e é inevitável.
Só que o ignoramus do Aónio, não percebe, não sabe, e depois escreve as bacoradas que se vêm. É bom que assim os leitores vejam a massa de que são feitos os europeístas, mas é uma tristeza que venham poluir o post do prof. Bateira.
S.T.
Um texto recente no Social Europe abordava a MMT, que me parece ser o ponto de vista que o Jorge Bateira advoga, o Banco Central imprime dinheiro para financiar diretamente os gastos estatais: https://www.socialeurope.eu/modern-monetary-theory. Sucede que o autor distingue duas condições para a aplicação de tais políticas: 'the deficit-spending concept of MMT is only applicable to very large economies with a flexible exchange-rate regime.' Ou seja, não basta ser capaz de desvalorizar moeda, é preciso ter tamanho para que isso sirva para alguma coisa.
O Ricardo Paes Mamede apontou aqui atrasado outras limitações da Economia Portuguesa, além da manifesta falta de tamanho, o modelo produtivo baseado em baixa qualificações e baixos salários e a falta de capital endógeno.
Se não temos capacidade para fazer o que os EUA e o RU fizeram, nem tão pouco somos a Dinamarca (que estando fora do Euro até mantém uma taxa de câmbio estável com a Eurozona) só temos uma alternativa, ir pedir emprestado lá fora. E daqui não há volta a dar...
As nêsperas, Jorge Bateira, não deixam de o ser só porque protestam...
Era bom respeitar a verdade das coisas, em vez de tentar vilipendiar os outros
A posição de Jorge Bareura é conhecida desde há muito. Como aliás é reafirmado neste vídeo e neste texto. Logo na foto inicial. Fazer afirmações tout court como as produzidas por um tal Aonio é francamente desonesto
Mais do que ignorância, ( basta ler o escrito) É sobretudo má fé Que ela derive de quem é, confirma o que já se sabia. A coluna vertebral também não se compagina com defensores acéfalos do euro e manipuladores profissionais ao serviço dos interesses do capital
Mais uma vez Jaime Santos ao lado.
O que ele se deveria referir eram às sardinhas. O que fica assim é um convite à submissão mansa, cordeirinha, para que o status quo se mantenha e que os 1% permaneçam ad eternum à custa dos restantes 99%
A sardinha não o deixa de ser sardinha metida, entalada na lata,educadinha, pronta a ser comida, engolida, digerida
e cagadinha
Jaime Santos devia tentar aprender alguma coisa de economia antes de vir para aqui largar atoardas.
O principal critério de aplicabilidade da MMT não é a dimensão da economia. são os critérios como a soberania monetária e a liberdade para regular os fluxos de capital. Então se se fôr o emissor da moeda de reserva mais utilizada no mundo, é o ideal das carochas.
Mas basta apontar o exemplo da Islândia que navegou em águas bem revoltas em consequência da crise de 2008 e já está muito bem obrigada. MMT ou não MMT a Islândia são menos de 340.000 almas, menos que a população do concelho de Sintra. Portanto a dimensão não é o factor determinante. É mais o QI dos seus líderes.
Também dá jeito que as supostas elites não tenham o nível intelectual de um Baldrick que acredita que por escrever o nome dele numa bala é uma grande coincidência se houver outra bala com o mesmo nome que o atinja. Que "tenha o nome dele escrito" significando que lhe esteja destinada na lotaria da guerra de trincheiras.
Essa falta de noção do risco que se corre levou o Sr Jaime Santos a escrever há dias que o "Euro nos protege da especulação". Parti o côco a rir!
Alguém explique a este senhor que ao utilizar "a disciplina dos mercados" sobre os governos a estrutura do euro o que faz é exactamente expôr as finanças dos países aos ataques especulativos da finança internacional. Aliás, só quando o ECB interveio nos mercados da dívida é que essa especulação abrandou.
Portanto alguém que tem uma tal falta de noção é uma nódoa e um perigo para o país em qualquer função de responsabilidade pública. É um Baldrick à portuguesa.
https://www.youtube.com/watch?v=ACnqI1l4I9s
S.T.
Sob pena de escandalizar as hostes, hoje o link é da autoria de um furioso direitolas, Tom Luongo. Tenham portanto muito cuidado com este autor. Nem tudo é interessante nos seus textos.
https://www.strategic-culture.org/news/2019/04/10/salvini-is-positioning-italy-for-confrontation.html
Se se derem ao trabalho de ler o artigo perceberão que o governo italiano está a fazer metódicamente a sua preparação para o confronto com a EU e porque é que isso é inevitável.
Infelizmente a liberdade não vai vir pela mão da esquerda, é com o maior pesar que o digo.
Mas continuo a defender uma lógica de frentismo em que acordos de incidência parcial no PE que possam ser usados para ajudar a abrir as grilhetas que o Sr Jaime Santos está sempre a mandar vir de Bruxelas.
S.T.
Jaime Santos
Não vou entrar em debate consigo. Apenas sugerir-lhe referências que desqualificam o artigo que cita:
- inadequação da análise IS-LM -> https://larspsyll.wordpress.com/2019/03/17/hyman-minsky-and-the-is-lm-obfuscation/
- incompetência de Larry Summers, Paul Krugman e outros para criticarem a MMT -> https://www.gmo.com/europe/research-library/why-does-everyone-hate-mmt/
- o reconhecimento pela MMT dos problemas com o sector externo em países pouco desenvolvidos, e da necessidade de estratégias que envolvem escolhas difíceis, mas bem diferentes das preconizadas pelo FMI -> http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=41327
Boas leituras.
Para o Jaime Santos, um artigo da Social Europe sobre o MMT: https://www.socialeurope.eu/modern-monetary-theory
ST, pergunta filosófica antes de económica: a si dão lhe crédito barato, e você endivida-se acima das suas possibilidades em bens de consumo não produtivos e sem grande valor acrescentado. A responsabilidade é sua ou do credor?
Essa irresponsabilizaçao da banca e dos fazedores do euro, dos abutres do capital financeiro e do centro da Europa, tem algo de irremediável cumplicidade com os fautores da crise
Porque será?
E a miséria que tombou pelo país com o rebentar da crise, com o desmoronar da banca e com os processos austeritarios em marcha, sob as ordens de Merkel e companhia, também será dos que ficaram com o garrote ao pescoço?
O aonio eliphis já sabe a resposta a esta pergunta porque a fez inúmeras vezes, com este e outros nicks, repetindo-se e repetindo este mantra até à exaustão
Aqui e em numerosas caixas de comentários
Se quiser que lhe auxiliem a memória....
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