sábado, 31 de maio de 2025

Tudo ligado


Antontem ficámos a saber que João Bravo, um dos capitalistas reacionários que há anos financia o Chega, foi constituído arguido no chamado cartel dos helicópteros. É só uma parte dos seus negócios. A maior parte está concentrada no reforço do aparelho repressivo do Estado: menos Estado social, mais Estado penal, lá está.
 
Sim, o marxismo mais simples explica muito mais do que a sabedoria convencional. Sim, já nos tínhamos cruzado com Bravo no Le Monde diplomatique – edição portuguesa há cinco anos:

Adam Smith, uma das principais referências da economia política liberal, já nos havia alertado no século XVIII: quando os capitalistas de um mesmo ofício se reúnem para conversar, geralmente é para conspirar contra o público. No último século, capitalistas de diferentes ofícios, ou os seus representantes, reuniram-se frequentemente para conspirar contra as democracias. Em Portugal também. 

A 18 de Junho de 2020, numa quinta em Loures, como relata uma investigação do jornalista Miguel Carvalho na Visão, foi servido um belo repasto a «seletos convidados», que «pesam muitos milhões na economia nacional e até além-fronteiras»: reuniram-se para conspirar com o deputado do Chega André Ventura; a questão do financiamento deste partido não terá estado naturalmente ausente. João Bravo foi o anfitrião. Este capitalista com negócios nas áreas da defesa, da segurança e dos incêndios, necessariamente entrelaçados com o Estado, afiançou: «desde 1974 que o País se afunda». 

A investigação de Miguel Carvalho deu-nos assim a ver um momento de consolidação das mais importantes redes sociais deste partido, sem as quais a acção nas outras redes, também chamadas sociais, nunca teria a mesma eficácia, até por falta de recursos. 

Profundo conhecedor da extrema-direita portuguesa, ou não tivesse sido autor do livro de referência sobre o seu terrorismo a seguir a 1974, Carvalho já havia começado a investigar a galáxia reacionária de que é feito o Chega: de quadros fascistas à mobilização de sectores evangélicos em modo bolsonarista, passando pelos negócios mais ou menos sórdidos – da segurança ao imobiliário de luxo – de muitos dos seus dirigentes, sem esquecer as ligações internacionais ou o caldo cultural obscurantista, de onde o negacionismo climático não está ausente. É aliás neste caldo que mergulha hoje toda uma economia política neoliberal ao serviço do aumento dos poderes discricionários indissociáveis do capital e do Estado securitário.

3 comentários:

Montarcilio Estrela disse...

Excelente retrato da nomenclatura Chega. Curiosamente, ou não, a imprensa e TVs, tão pródigos em redor de questões menores, mas com sabor ao apreciado voyeurismo muito Português, não tocaram no assunto, talvez com receio de melindrar os respeitáveis empreendedores e a figura do Chega-Ventura. Quanto à esquerda institucional, ainda não aprendeu a jogar no campo do inimigo, ficando por deslavadas prioridades.

JF disse...

... de onde o negacionismo climático não está ausente... O post está perfeito em quase tudo o que diz – exceto nesse comentário do dito "negacionismo". Está a criticar essa gente exatamente pela única coisa certa que dizem: a negação do chamado "aquecimento global", agora rebatizado de "alterações climáticas". Ver https://resistir.info/climatologia/impostura_global.html

Anónimo disse...

Se não quer olhar para o consenso da comunidade cientifica olhe para quem mede o planeta e tire as conclusões sobre a crise climática antropogénica.

https://ourworldindata.org/grapher/total-ghg-emissions?tab=chart&country=~OWID_WRL
https://ourworldindata.org/grapher/annual-temperature-anomalies?tab=chart&country=~OWID_WRL
https://ourworldindata.org/grapher/sea-level
https://ourworldindata.org/grapher/co2-long-term-concentration

Não caia em anti-intelectualismos que apenas beneficiam o capital.