A realidade da economia política da integração é ofuscada por doses maciças de propaganda, assente em truques ideológicos e na mentira mais despudorada. Afinal de contas, um Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, garantiu que “em vinte anos, o euro trouxe prosperidade e proteção aos nossos cidadãos”. Foi o mesmo que afirmou, em plena crise do euro, que quando “as coisas ficam difíceis é necessário mentir”.
sexta-feira, 31 de maio de 2024
Conversar e lutar sempre
A realidade da economia política da integração é ofuscada por doses maciças de propaganda, assente em truques ideológicos e na mentira mais despudorada. Afinal de contas, um Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, garantiu que “em vinte anos, o euro trouxe prosperidade e proteção aos nossos cidadãos”. Foi o mesmo que afirmou, em plena crise do euro, que quando “as coisas ficam difíceis é necessário mentir”.
quinta-feira, 30 de maio de 2024
Quem quer a independência do BCE?
quarta-feira, 29 de maio de 2024
Integração europeia e governação económica: análise e política à esquerda
Como contributo para a reflexão sobre a integração económica europeia, o José Gusmão e eu próprio (declaração de interesses: somos ambos candidatos pelo Bloco de Esquerda a estas eleições, sendo ele eurodeputado desde 2019) escrevemos o seguinte texto em que abordamos a constitucionalização europeia do liberalismo, as regras de governação económica e a arquitetura monetária e financeira da UE.
A integração europeia poderia e deveria ser um processo de cooperação entre iguais, gerador de convergência, de prosperidade partilhada, de erradicação da pobreza e de nivelamento por cima dos direitos sociais e laborais. A realidade, porém, é que a cooptação política e ideológica do projeto de construção europeia pelo neoliberalismo, especialmente a partir do Tratado de Maastricht de 1992, converteu a UE num espaço de divergência entre países e regiões centrais e periféricos, um espaço de erosão de direitos laborais e sociais e de escasso dinamismo económico.
As pressões mais intensas para o aprofundamento da distopia neoliberal têm ocorrido em três grandes domínios: a constitucionalização do liberalismo nas políticas comercial e industrial; a adoção de uma arquitetura financeira não democrática e que asfixia as famílias, empresas e economias mais vulneráveis; e uma camisa-de-forças de regras orçamentais com um viés pró-cíclico e que muito dificulta investimentos críticos em áreas como as respostas à crise da habitação ou à emergência climática.
Ainda assim, a última década demonstrou que muitas regras e constrangimentos que eram apresentados como inexoráveis podem, assim haja vontade política, ser suspensos, contornados ou mesmo derrogados. No contexto da pandemia, foi possível suspender as regras orçamentais do pacto de estabilidade e crescimento e as regras relativas às ajudas de Estado. No âmbito dos programas de compras de ativos iniciados sob a governação de Draghi, o Banco Central Europeu passou a comprar títulos de dívida soberana, contribuindo decisivamente para a queda dos juros pagos pelos Estados e para a sustentabilidade financeira destes últimos. No contexto do Plano de Recuperação e Resiliência – NextGenerationEU, a União Europeia passou a emitir dívida comum, concretizando na prática os eurobonds que durante tanto tempo foram tão categoricamente rejeitados.
O Bloco de Esquerda não tem ilusões quanto ao caráter iníquo e gerador de desigualdades de muitos dos elementos do processo de integração económica europeia tal como tem sido construído nas últimas décadas. Porém, estes elementos são uma realidade em permanente mudança, que pode e deve ser disputada politicamente. A tarefa à nossa frente é a construção de maiorias sociais que permitam abrir mais brechas na muralha neoliberal, dirigindo o projeto europeu no sentido de mais solidariedade, mais justiça social e mais espaço de efetivo desenvolvimento.
Continuar a ler aqui.
terça-feira, 28 de maio de 2024
Talvez valha a pena recordar
No referido artigo, RPM dava nota de um regulamento, adotado por Nova Iorque em setembro de 2023, que visava acabar com a oferta ilegal de AL, num claro reconhecimento, por parte do governo da cidade, do seu impacto na redução da oferta de habitação para fins residenciais. E é nesse contexto que RPM compara os indicadores de impacto de Nova Iorque com os de Lisboa.
Assim, quando se pondera o número de unidades de AL (cerca de 45 mil em Nova Iorque e 18 mil em Lisboa) pela população residente e pelo total de alojamentos, o resultado é esmagador. Constata-se que Nova Iorque tem cerca de 5 unidades de AL por cada mil habitantes e Lisboa 33 (cerca de 7 vezes mais). E que Nova Iorque tem cerca de 12 unidades de AL por mil alojamentos, valor muito inferior ao registado por Lisboa, com 56 unidades de AL por mil alojamentos (cerca de 5 vezes mais, portanto).
Conclui-se, pois, que a direita que reduz a crise de habitação à tese simplista de uma mera «falta de casas» é a mesma direita que não hesita em recriar os incentivos ao aumento da oferta de Alojamento Local, promovendo a deslocação de imóveis residenciais para o setor, mesmo quando há indícios de que as limitações introduzidas pelo anterior Governo poderiam estar a começar a surtir efeito. Recorde-se, aliás, que a redução sem precedentes no número de alojamentos em Lisboa e no Porto, entre 2011 e 2021, não será alheia ao aumento galopante da oferta de AL, ao longo da última década, nestas cidades.
segunda-feira, 27 de maio de 2024
Invenções ideológicas
Tal como Rui Tavares já tinha há uns anos, e totalmente a despropósito, mobilizado Marx para a sua causa federalista europeia, Hélder Fontes fez recentemente o mesmo com Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano: “Gramsci deu grande parte da vida pela coesão entre os povos europeus e fundou o eurocomunismo.” Trata-se de um mesmo esforço ahistórico para inventar uma tradição radical para uma escala e um quadro institucional onde praticamente só tem havido capitalismo cada vez mais puro e duro.
domingo, 26 de maio de 2024
MST, o senso comum e o IRC
Em meia dúzia de linhas faz aquilo que não se deve fazer num debate sério: (i) tenta desqualificar quem pensa de forma diferente, não pelos argumentos que usa, mas por estar num campo político diferente do seu; (ii) declara como definitivo o resultado de um estudo, que é apenas um entre muitos, não pelos seus méritos ou fragilidades, mas por validar o suposto 'senso comum'; e (iii) reduz o desempenho da economia irlandesa à questão fiscal, como se a história de alguma economia nacional fosse assim tão simples.
Como contributo para a reflexão, deixo aqui três ideias. Primeiro, os economistas que põem em causa a bondade das descidas de impostos sobre os lucros incluem os prémios Nobel Joseph Stiglitz e Paul Krugman, ou Thomas Piketty (se estes são de ‘extrema-esquerda’, estamos conversados). Segundo, os argumentos usados por estes e outros economistas para criticar a descida de impostos sobre lucros baseiam-se não apenas nos efeitos distributivos (quem ganha e quem perde), mas também na relação cada vez menos estreita que existe entre lucros depois de impostos e investimento produtivo; ambos os aspectos põem em causa a relação entre baixa de IRC e crescimento económico. Terceiro, explicar o desempenho da economia irlandesa ignorando as décadas de atracção selectiva de investimento estrangeiro, a língua inglesa, as ligações históricas à diáspora nos EUA ou o investimento massivo (desde a década de 1960) na educação e formação avançada (em particular na área da engenharia), simplesmente não é sério.
sexta-feira, 24 de maio de 2024
A luta é jovem
As direitas sempre quiseram substituir a real luta de classes por uma imaginária luta de gerações. As medidas fiscais, socialmente regressivas, apresentadas por este governo para a “juventude” são o resultado prático deste esforço ideológico.
quinta-feira, 23 de maio de 2024
Dia 29, conferência Praxis sobre os novos desafios da negociação coletiva
Neste âmbito, importa discutir várias questões, entre elas: Quais os limites do direito à representação sindical e à filiação dos trabalhadores economicamente dependentes? Qual a amplitude do seu direito à informação e do seu direito de participação e reunião? Que poder detêm na negociação e contratação coletiva? Qual a utilidade desta nova modalidade de arbitragem?
Em mais uma iniciativa, a Práxis propõe-se analisar o que é necessário para promover o uso efetivo destes direitos e o seu alargamento recente (com as alterações ao Código do Trabalho introduzidas em 2023), promovendo para o efeito a videoconferência que se realizará na próxima quarta-feira, dia 29, a partir das 18h30, e que conta com a participação de João Reis (professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra) e Júlio Gomes (Juiz Conselheiro e Professor da Faculdade de Direito do Porto da UCP). A moderação estará a cargo de Joana Neto, da Direção da Práxis. As inscrições podem ser feitas aqui.
quarta-feira, 22 de maio de 2024
A «falta de casas» ou o impacto das novas procuras?
Não surpreende, por isso, que a generalidade das notícias sobre o estudo seguissem esta linha, associando linearmente a diminuição do número de fogos construídos ao aumento de casas sobrelotadas (ver aqui ou aqui), ou enfatizando a insuficiência da oferta para responder à procura e às necessidades habitacionais do país (ver por exemplo aqui, aqui ou aqui).
É pena, de facto, que o próprio INE tenha explorado de forma muito superficial a relação entre a evolução do número de fogos e de famílias residentes, dispensado-se, nomeadamente, de analisar a evolução do respetivo rácio entre 2011 e 2021 à escala regional. Em contrário, teria ajudado a perceber que a relação entre estes universos (alojamentos e famílias) pouco se alterou na última década, com apenas 7 NUT a registar descidas, e sempre pouco significativas (em regra na ordem das centésimas) deste indicador.
Com efeito, mesmo no caso das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto ou do Algarve, onde a subida dos preços da habitação é mais expressiva, o rácio entre o número de alojamentos e de famílias pouco se altera entre 2011 e 2021 (de 1,29 para 1,25 no caso de Lisboa e de 1,26 para 1,23 no Porto), evidenciando portanto que a atual crise de não é uma simples crise de oferta face à procura de habitação por parte das famílias. Sublinhe-se, aliás, que o Algarve tem um dos rácios mais elevados à escala das NUT do continente (a rondar uma média de duas casas por família).
Estes dados mostram, uma vez mais, que a atual crise de habitação não se resume a um simples desfasamento entre a oferta e a procura em termos convencionais (alojamentos e famílias residentes), como a direita nos quer fazer crer, antes evidenciando que é a existência de novas procuras - que encaram os alojamentos como ativos de investimento financeiro -, nacionais e internacionais, que desequilibra essa relação, provocando a subida dos preços. O que significa, por seu turno, que sendo procuras especulativas potencialmente inesgotáveis (dinheiro há muito), é tudo menos linear que o aumento da construção seja suficiente para as satisfazer e, nessa medida, permitir a descida dos preços.
terça-feira, 21 de maio de 2024
País merece explicações de Centeno sobre taxas dos depósitos
segunda-feira, 20 de maio de 2024
Inovação é mais do que uma palavra no nome de um ministério
"O conservador Joseph Schumpeter citava o revolucionário Karl Marx para explicar que a inovação é um factor indissociável do desenvolvimento do capitalismo – e que ela não acontece por acaso. A competição obriga as empresas a inovar em permanência.
O facto de investirem menos em inovação do que seria desejável é um problema para as próprias empresas, mas não só. Para o conjunto da economia, menos inovação significa menos eficiência, menos qualidade, menos diversidade de produtos e menos satisfação de necessidades. Por outro lado, não é certo que toda a inovação resulte em benefícios para a sociedade como um todo – como acontece, por exemplo, quando novos produtos ou processos produtivos põem em causa a saúde pública ou o ambiente.
São estes vários aspectos da inovação – a sua natureza cumulativa, interactiva e sistémica, a incerteza que envolve todo o processo, os impactos que tem no conjunto da sociedade, os potenciais problemas que pode gerar – que justificam a intervenção do Estado neste domínio.
As políticas de inovação podem assumir várias formas: subsídios, incentivos fiscais e garantias públicas aos investidores privados; desenvolvimento de actividades de investigação científica e tecnológica em universidades, institutos politécnicos, laboratórios do Estado e empresas públicas; financiamento ou participação em fundos de capital de risco; apoio a centros tecnológicos especializados; promoção de redes colaborativas entre vários tipos de actores; apoio a incubadoras de novas empresas tecnológicas; divulgação de boas práticas e de casos exemplares; formação de competências transversais e especializadas; compras públicas orientadas para a inovação; realização de estudos de prospectiva tecnológica; regulação de produtos e processos inovadores; entre outros.
A política de inovação é, pois, muito mais do que uma palavra na designação de um Ministério. Na verdade, exige quase sempre a articulação estreita entre várias tutelas. Se alguma vez teremos em Portugal uma política de inovação que vá para além da semântica, é algo que ainda estamos para ver."
O resto do meu texto pode ser lido no Público de hoje, em papel ou online.sexta-feira, 17 de maio de 2024
Slow-burning: A dívida externa como determinante do desenvolvimento. Debates sobre a Argentina, Portugal e Espanha.
- Portugal: Paulo Coimbra, João P. Avelãs Nunes e Ricardo Cabral
- Espanha: Nuria Alonso
domingo, 12 de maio de 2024
Dois pesos
Os EUA anunciaram uma tarifa de 100% sobre a importação de carros elétricos chineses, confirmando que a tradição protecionista, que vem desde a independência, está bem viva. O comércio livre é mesmo o protecionismo dos mais fortes e os EUA já não se sentem fortes perante a política industrial chinesa.
sexta-feira, 10 de maio de 2024
Amanhã, em Lisboa
São já mais de 110 mil as pessoas mortas ou feridas, na sua maioria crianças e mulheres. Hospitais, centros de saúde, escolas e instalações das Nações Unidas são transformados em alvos militares e arrasados. O número de jornalistas mortos pelas forças de Israel ultrapassa a centena. Médicos, profissionais de saúde, funcionários das Nações Unidas e de agências humanitárias são mortos como em nenhum outro conflito no mundo. E o genocídio continua, alimentado pelo apoio militar, político e diplomático dos EUA e seus aliados, incluindo a União Europeia. É urgente um cessar-fogo imediato e permanente!
Do comunicado das organizações promotoras da manifestação que se realiza amanhã, dia 11 de maio, em Lisboa, a partir das 15h, com início no Largo José Saramago (em frente à Fundação José Saramago) e em direção ao Martim Moniz.
quinta-feira, 9 de maio de 2024
A transição injusta na União Europeia
quarta-feira, 8 de maio de 2024
Democratizar
Politizar a questão dos media é hoje urgente para defender o futuro da democracia. Muito se tem escrito nas páginas deste jornal sobre o modo como a crise de um modelo de negócio dos media assente na publicidade favoreceu precariedade e baixos salários no sector, num contexto geral de enfraquecimento de direitos laborais. Ou sobre a forma como os media, para aumentar influência, receitas e audiências, passaram a apostar num jornalismo que foi cedendo espaço de investigação e reportagem ao comentário infinito, feito de duelos inflamados e de um dissenso fulanizado, rude e ofensivo, que de facto transforma divergência em dissidência. Quem procura dedicar algum tempo do seu dia a informar-se depara, cada vez mais, com um jornalismo de lama. Não é nas redes sociais, como os jornalistas gostam de acusar.
terça-feira, 7 de maio de 2024
O défice de pluralismo é transversal à comunicação social
De facto, no total de 213 comentadores identificados (dos quais cerca de 21%, sobretudo jornalistas, não são politicamente enquadrados), 58% são de direita e apenas 38% se posicionam à esquerda (com 4% de centro). Contudo, nos «meios online» o peso relativo dos comentadores de direita atinge os 63%, sendo nas rádios que o desequilíbrio é ligeiramente menos acentuado (com a esquerda a situar-se nos 42%).
Um aspeto interessante aponta para o facto de ser no critério da «militância» que a diferença de representatividade de comentadores é menor. Ou seja, em que os meios de comunicação se sentem, de algum modo, mais «obrigados» a respeitar equilíbrios. Mas o mesmo tende a já não suceder quando o critério passa a ser o da «conotação» política do comentador (em regra por pertença, no passado, a um partido político) e, muito menos ainda, quando é critério é o da «tendência», o qual gera um fosso expressivo entre o comentário político à direita e à esquerda. E note-se, por último, que é nos «meios online» que a militância tende a ser menos valorizada como critério.
Estes dados remontam a 2023, ano em que o comentário político televisivo estava, claramente, a preparar eleições. Nunca como nesse ano, de facto, e desde que o MediaLab produz relatórios, a desproporção entre esquerda e direita foi tão significativa (ver aqui), com o aumento abrupto de comentadores de direita no espaço televisivo, entre 2022 e 2023. Como se estivesse em causa, é difícil não pensar isso, uma operação de desgaste do governo maioritário do PS, bem como um acantonamento das esquerdas, através do tal «contínuo político-mediático» que Pacheco Pereira tem vindo, e bem, a assinalar.
sexta-feira, 3 de maio de 2024
Obrigado, Sérgio Ribeiro
Se, pela moeda única, as decisões orçamentais, monetárias e financeiras saírem do nível nacional e forem entregues a um BCE, sedeado algures (em Frankfurt), com escasso ou nulo controlo político, sofrem rude golpe as soberanias nacionais, o poder dos povos participarem nas decisões que a si dizem respeito, em estruturas políticas que lhes são próximas e controlam.