O INE publicou, recentemente, uma análise sobre a evolução do parque habitacional português entre 2011 e 2021 que identifica, entre outros aspetos, um desfasamento entre a variação da distribuição da população e do parque habitacional por regiões (pág. 13), tendencialmente interpretado como sinal da «falta de casas», no esteio da tese simplista que prevalece no debate público sobre a atual crise de habitação.
Não surpreende, por isso, que a generalidade das notícias sobre o estudo seguissem esta linha, associando linearmente a diminuição do número de fogos construídos ao aumento de casas sobrelotadas (ver aqui ou aqui), ou enfatizando a insuficiência da oferta para responder à procura e às necessidades habitacionais do país (ver por exemplo aqui, aqui ou aqui).
É pena, de facto, que o próprio INE tenha explorado de forma muito superficial a relação entre a evolução do número de fogos e de famílias residentes, dispensado-se, nomeadamente, de analisar a evolução do respetivo rácio entre 2011 e 2021 à escala regional. Em contrário, teria ajudado a perceber que a relação entre estes universos (alojamentos e famílias) pouco se alterou na última década, com apenas 7 NUT a registar descidas, e sempre pouco significativas (em regra na ordem das centésimas) deste indicador.
Com efeito, mesmo no caso das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto ou do Algarve, onde a subida dos preços da habitação é mais expressiva, o rácio entre o número de alojamentos e de famílias pouco se altera entre 2011 e 2021 (de 1,29 para 1,25 no caso de Lisboa e de 1,26 para 1,23 no Porto), evidenciando portanto que a atual crise de não é uma simples crise de oferta face à procura de habitação por parte das famílias. Sublinhe-se, aliás, que o Algarve tem um dos rácios mais elevados à escala das NUT do continente (a rondar uma média de duas casas por família).
Estes dados mostram, uma vez mais, que a atual crise de habitação não se resume a um simples desfasamento entre a oferta e a procura em termos convencionais (alojamentos e famílias residentes), como a direita nos quer fazer crer, antes evidenciando que é a existência de novas procuras - que encaram os alojamentos como ativos de investimento financeiro -, nacionais e internacionais, que desequilibra essa relação, provocando a subida dos preços. O que significa, por seu turno, que sendo procuras especulativas potencialmente inesgotáveis (dinheiro há muito), é tudo menos linear que o aumento da construção seja suficiente para as satisfazer e, nessa medida, permitir a descida dos preços.
Uma afirmação tão certa que não serve para nada.
ResponderEliminarEstá a dizer que a construção que existe não corresponde à procura. A questão é: porque é que isso acontece. Se eliminarmos a procura que não vem das famílias será que a construção continua?
Se fosse rentável construir para as famílias, mesmo com uma margem baixa havia alguém a construir, o problema é que não é, não há dinheiro para pagar as casas.
Proibir outras utilizações das casas porá temporariamente algumas habitações no mercado, levará os promotores à falência e não resolve os problemas a longo prazo. Porque o problema é as pessoas não terem dinheiro para comprar, não é não haver alguém para vender.
A habitação não é para uns poucos lucrarem, é para viver. Antes dos lobistas imobiliários internacionais tomarem conta do mercado, havia construções e promotores. Estes simplesmente aproveitaram para só promoverem a quem tem muito poder económico. As pessoas nunca terão dinheiro para comprar casas que são construídas para quem tem um poder económico infinitamente superior, e.pior, quando não querem essas casas para viver, apenas para investimento. Se houver uma obrigação de quem compra habitações nós centros de pressão urbanística, de as habitar como habitação própria permanente por um período de 5 anos num mínimo. A especulação irá baixar drasticamente.
EliminarParece que o INE acha que está a analisar um fenómeno junto da transição de fase, em que uma variação de -3% no rácio é muito significativo. Onde está justificação para isso?! Com um rácio de ~1.3, é implausível que variações de -3% tenham qualquer importância na dinâmica de mercado (nas relações de oferta/procura). Já se o rácio fosse ~1, talvez houvesse alguma plausibilidade já que se passaria de uma fase com excedente de habitação para uma fase com escassez.
ResponderEliminarExpliquem-me o ênfase dado à compra e não ao arrendamento…todos têm de ser proprietários????
ResponderEliminarNão há falta de casas em Portugal.
ResponderEliminarOs "Gráficos" apresentados assim o demonstram.
Os censos mostram que de uma forma geral existem 1,4 casas por agregado familiar!
(aceito a correcção deste número)
Não é necessária mais construção.
É necessária mais organização!
Continuar a construir habitação quando há alojamentos a mais é investir no desperdício.
Aí se aplica verdadeiramente o conceito de "inertes" que normalmente se aplica aos materiais utilizados nesse indústria!
Num há falta de casas.
ResponderEliminarPortugal tem casas a mais!