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Fonte: Banco de Portugal |
A divulgação pelo INE dos dados mais recentes sobre o crescimento económico está a suscitar uma onda de desvalorização. Mas também de inconsequência.
Ouvindo a mais recente
crónica na Antena 1 de Helena Garrido, que condiz com outros pensamentos já aventadas (nomeadamente no Parlamento, com Hugo Soares do PSD), percebe-se que as críticas assentam em duas ideias: 1) nada disto se deve ao Governo e era inevitável, porque a seguir a qualquer crise, tudo desabrocha em força, como que por "milagre"; 2) mas mesmo que fosse, o que está a acontecer não é sustentável, porque assenta em actividades pouco produtivas (como o turismo).
Ora, esta linha de crítica - até bem real - tem apenas por alvo o Governo e como tal é uma contradição que falha o objectivo. Se o Governo não é o responsável, por que não criticar quem o seja (a UE)? Se o emprego não é bom (que não é) porque não propor formas de o tornar melhor, e - já agora - como fazê-lo se os contrangimentos são europeus? Mas esse passo no racionínio nunca é dado. Seja por incapacidade ou falta de vontade. E porque o alvo é, estranhamente apenas... o Governo apoiado pela esquerda.
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Fonte: INE, inquérito de conjuntura às empresas e consumidores |
Na verdade, se olharmos para uma série longa da evolução do PIB (acima), verifica-se que, à medida que se vai aprofundando a articulação e entrosamento dos instrumentos de política económica de Portugal nas agendas comunitárias (monetário-cambial, orçamental, gestão do sector financeiro, etc.), o nosso ritmo de progressão e crescimento tende a abrandar e a pulsar ao ritmo do coração europeu.
Ou seja, esta política não tem conseguido recuperar o fosso existente com o centro europeu. E já lá vão mais de duas décadas, sem descolar. O problema é que, à medida que esse entrosamento político se adensa, mais complicado se torna aos portugueses aceitarem um projecto político que não esteja amarrado a algo que o afunda. O pedido de adesão à CEE em 1976 e a adesão em 1986 foi um projecto político, mais do que um projecto económico - atar o país à Europa para evitar os
revolucionários. E hoje ainda o é. Para mal de nós.
Mas mais uma vez não se consegue olhar para esse peso político. Ainda hoje,
António Barreto, na RTP3, no 360 (minuto 11) chegou mesmo a aventar que a solução seria
ainda mais Europa. "Perdemos a consciência de que estivemos 20 anos em divergência com a Europa desde o final dos anos 90". Mas a solução política actual à esquerda só poderia sobreviver se PCP e Bloco se tornassem europeistas...
Eis, pois, o resultado das políticas de convergência nominal levadas a cabo pelos governo de Cavaco Silva e socialistas que se lhe seguiram. Inflação baixa, taxas de juro elevadas (até 2000), desenvolvimento baixo. A seguir a 2000, com a criação do euro, foi a fixação do escudo a um cabaz de moedas fortes, sem os apoios orçamentais comunitários para compensar os choques assimétricos.
Caso se olhe para a sintonia nos mais diversos aspectos da actividade económica,
patente nos dados do INE
sobre a confiança económica, ver-se-á que apenas podemos estar bem
dispostos se os europeus estiverem bem dispostos. E no entanto, estar sintonizados nesta fase é o mesmo que perpetuar o atraso ou um pouco menos de atraso.
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Fonte: INE, inquérito de conjuntura às empresas e consumidores |
Podemos desagravar uma política imposta de fora, mas será uma política imposta de fora. E ainda por cima - como mostrou Varoufakis durante a crise grega - sem que essa política seja discutida, sem que se debata alguma coisa de profundo ou mesmo de económico.
E isso diz muito sobre os fracassos e os sucessos sentidos nos últimos
anos. Mas muito mais sobre a capacidade de um desenvolvimento de longo
prazo soberano, independente e tendo como preocupação o bem-estar de
todos.
Uma âncora segura um barco, mas também o impede de navegar quando é preciso adaptar-se à maré. Se não formos
flexíveis a esse nível, vamos afundar.