quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018
A nova narrativa económica da direita portuguesa: protagonistas, ideias e promessas de escrita futura
Após um período de previsões catastrofistas, que prontamente foram desmentidas pela realidade, a direita portuguesa prepara uma nova narrativa económica com os olhos postos em 2019.
O perfil dos novos protagonistas
Na sua elaboração destacam-se os nomes de economistas como Fernando Alexandre e Joaquim Miranda Sarmento, membros de uma nova geração em quem os setores conservadores depositam grandes esperanças. Fernando Alexandre, professor na Universidade do Minho e ex-secretário de Estado do governo PSD/CDS, é uma figura experimentada na intervenção no debate económico público. Em conjunto com outros professores de economia da Universidade do Minho, entre os quais surge Luís Aguiar-Conraria, colunista do Observador, é autor de estudos com grande impacto mediático, como o livro Crise e Castigo, da Fundação Francisco Manuel dos Santos e o recente estudo sobre investimento empresarial em Portugal encomendado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Ele e os seus co-autores afirmam-se, aliás, como os grandes produtores de publicações de divulgação económica com pendor conservador, correspondendo às solicitações feitas por instituições dominadas por essa orientação. Nas eleições internas do PSD foi o responsável pelo programa económico de Rui Rio e vai-se assumindo como ministeriável num futuro governo de direita. Joaquim Miranda Sarmento, por seu lado, é professor de Finanças no ISEG, colunista do ECO, ex-assessor económico de Cavaco Silva e membro influente do think thank de direita Forum da Competitividade, dinamizado por Ferraz da Costa. As suas colunas no ECO popularizaram-no nos meios de direita. Grande apreciador de vocabulário tecnocrata, usa-o como forma de legitimar como “científicas” as posições que expressa. Ao contrário de Fernando Alexandre, reconhecido como circunspecto nas suas intervenções, Joaquim Sarmento tem um estilo truculento, acompanhado do tique infantil de resvalar para o argumento de autoridade –basta lembrar a célebre crónica em que referiu o seu número de artigos científicos publicados em revistas internacionais para ilustrar a superioridade do seu argumento. Tem também uma propensão para os afetos, sempre que estes lhe são concedidos por figuras cimeiras da política conservadora nacional – lembre-se a crónica risível dedicada a lembrar com emoção o momento em que o então Presidente da República Cavaco Silva lhe ligou no dia da apresentação da sua tese de doutoramento para o felicitar (ver aqui).
Questões de estilo aparte, tratam-se ambos de figuras com presença mediática crescente e que reúnem um conjunto características que devem inspirar prudência aos que se opõem às suas conceções. Essas características incluem a aparência de credibilidade, a comunicação eficaz e um discurso pejado de aforismos como a virtude da poupança, da austeridade e do anti-despesismo do Estado, muito capazes de capturar o imaginário popular em períodos políticos específicos, como demonstra a nossa história recente.
Importa ressalvar que estes parágrafos não se movem por nenhum instinto persecutório aos visados. No debate político e económico é quase tão importante conhecer os protagonistas como as suas ideias. Pretende-se apenas fazer um retrato de uma nova vaga de economistas de direita que, sustentando a nova liderança do PSD e beneficiando do eco dos principais comentadores da imprensa escrita e audiovisual, podem fazer pender o debate económico para o lado conservador.
A nova narrativa económica da direita portuguesa assenta em cinco ideias fundamentais:
i) A economia portuguesa aproxima-se da sua taxa de desemprego estrutural, logo o governo não conseguirá reduções adicionais significativas da taxa de desemprego, devendo focar-se em atingir ganhos de produtividade; reduzir a taxa de desemprego estrutural é um processo de longo-prazo, só alcançável com o aprofundamento da flexibilização da legislação laboral;
ii) O governo conseguiu diminuir o défice nominal mas falhou o ajustamento necessário no défice estrutural;
iii) O governo deveria aproveitar o bom momento da economia para acelerar a diminuição do défice, garantindo uma redução mais rápida da dívida pública, o que colocaria Portugal numa situação de menor exposição a riscos externos;
iv) A esquerda tem uma agenda para a redistribuição do rendimento, mas não possui uma estratégia para o crescimento económico;
v) É fundamental diminuir a taxa de IRC, a fim de atrair investimento estrangeiro para o país.
Prevenir que estas ideias se apossem do senso comum é uma tarefa a que todos os economistas de esquerda se devem dedicar. Nesse sentido, reservarei as minhas cinco futuras publicações a desconstruir passo por passo cada uma destas ideias. O primeiro post dedicado à ideia número 1 será publicado já amanhã.
Sabem qual seria uma boa forma de neutralizar a direita?
ResponderEliminarAcha a direita que a culpa da falta de trabalho, nível miserável de precariedade, os baixos salários se devem à pieguice do trabalhador ou se devem à ganância dos capitalistas que queriam a todo o custo ter acesso a uma mão de obra muito barata e obediente?
Qual é a resposta da direita aos cada vez mais robotizados meios de produção?
Acha a direita admissível continuar a sugerir que o trabalhador deve competir com um robô, e se o trabalhador está mal a culpa é, obviamente, do trabalhador porque é piegas e não segue os exímios exemplos de esforço e dedicação como Passos Coelho, Miguel Relvas, Cavaco Silva, Durão Barroso, Paulo Portas, o bando do BPN, os comentadores do Observador e os estudantes da "universidade" de verão Castelo de Vide?
O que é que os direitas acham do CEO da Amazon, Jeff Bezos, querer colocar pulseiras eletrónicas nos trabalhadores?
Amazon patenteia pulseiras que rastreia movimentos dos trabalhadores de armazém
https://www.theguardian.com/technology/2018/jan/31/amazon-warehouse-wristband-tracking
Têm dúvidas qual seria a resposta dos neoliberais?...
Quero ver contorcionismo da direita, as tretas que inventam de forma a justificarem a repressão que lhes é tão característica de forma a prolongar os privilégios de uns quantos.
A direita está de tal forma aprisionada numa forma de ver o mundo obsoleta e desajustada ao ponto de não conseguir defender um mundo que não seja despótico, é por isso que a dada altura o “Não há alternativa” foi parido.
Estou especialmente curioso para ver a discussão do ponto v.
ResponderEliminarJá várias vezes aqui referi aqui no blog que na minha opinião um dos países que mais se assemelha a Portugal é a Irlanda.
Pelas seguintes razões:
- faz parte do euro
- é um país pequeno
- é um país periférico.
Numa comparação dos ponto de vista dos indicadores que realmente interessam aos trabalhadores:
- salário médio
- poder de compra
- taxa de desemprego (ou polulação ativa)
a Irlanda está melhor do que nós (ou muito melhor por exemplo no salário médio) e do meu ponto de vista a grande diferença são as condições muito vantajosas do ponto de vista fiscal que ofereceram Às grandes multinacionais.
Podem não concordar comigo mas de qualqeur forma gostaria nesse caso que apresentassem justificações para o facto de um trabalhador na Irlanda ter condições tão melhores do que um trabalhador em Portugal.
Do ponto de vista de Aonio Eliphis, vulgo Vitor, os indicadores que realmente interessam aos trabalhadores são :
ResponderEliminar- e debita três itenzinhos
Esta será uma das formas conhecidas de mostrar trabalho para os tanques do PSD?
Porque diacho o Aonio não expõe os muitos outros indicadores que interessam aos trabalhadores?
(Por exemplo um em que ele fica possesso, como seja os indicadores sobre as interrupções voluntárias da gravidez? Ou os recém-nascidos enterrados nas cercanias de vetustas instituições de orfanatos irlandesas?)
Tudo isto só para impingir paraísos fiscais às multinacionais?
Assemelha-se aos versos do Aonio declamados pelo mesmo
O "êxito" da Irlanda assenta no seu funcionamento como paraíso fiscal, como o atestam os gráficos de produtividade fora da escala e as oscilações vertiginosas do PIB ao sabor da clientela de "optimizadores fiscais".
ResponderEliminarChamar ao roubo de receitas fiscais a outros estados da UE "optimizações fiscais" é um eufemismo do mais alto cinismo só possível numa Eurolândia corrupta até à medula.
Não esquecer também os outros factores de sucesso mais honestos mas para nós infelizmente não fácilmente reprodutiveis:
a) O uso da língua Inglesa.
b) Uma diáspora que preserva fortes ligações comerciais nos USA e um pouco por todo o antigo Império Britânico.
c) Bons níveis de formação, sobretudo em campos de alto valor acrescentado.
Por isso a mera baixa do IRC não terá o efeito que os seus proponentes auguram e é inútil entrar em corridas ao dumping fiscal.
S.T.
P.S.
Não deixa de ser interessante notar como foi muito mais fácil à Inglaterra e Irlanda preservarem as ligações comerciais aos USA e países anglofonos estando integrados na UE do que a Portugal dar uma dimensão comercial à CPLP.
Robustecer um discurso alternativo deste lado da barricada e desconstruir as velhas entorses neoliberais, trajadas de roupagens da moda, é um serviço público a todos os que buscam seriedade na discussão e capacidade de luta por um mundo melhor
ResponderEliminarVamos a isso, caro Diogo Martins
As «previsões catastrofistas, que prontamente foram desmentidas pela realidade» das cativações e dos orçamentos não cumpridos (mas inovadoramente não rectificados!).
ResponderEliminarÉ uma boa iniciativa, que anuncia Diogo Martins,a da desmontagem dos cinco pressupostos sobre que assenta a visão actualizada e revista,dos sectores académicos de direita,numa reorientada perspectiva econômica,que reproduz modelos neoliberais ,vistos e revistos,com as consequências e resultados ainda bem presentes.Para além daquelas cinco ideias, ganha cada vez mais importância para certos sectores da direita a definição do modelo económico que deverá ser seguido,sob pena de nova e cataclísmica bancarrota,promovendo a ideia de reindustrialização como a solução absoluta para a resolução dos problemas de desenvolvimento,crescimento e convergência com os restantes países da zona euro.
ResponderEliminarPor mais que custe a alguns amantes do diabo, sentados ou a pé, as «previsões catastrofistas" foram uma autêntica treta. Uma farsa levada ao extremo por uma clique de criminosos que governou o país, com o ódio da revanche e com a sanha de saqueadores.
ResponderEliminarPois é. Nem as choraminguices piegas da invocação das cativações e dos orçamentos bla-bla-bla conseguem ofuscar a realidade.
Esta é lixada. E deixa fora de tom os que ainda não aderiram ao novel discurso da direita e estão ainda acantonados às coscuvilhices dos blogs medíocres da direita e da direita-extrema
Resta apenas este triste fado a alguns neoliberais
As «previsões catastrofistas, que prontamente foram desmentidas pela realidade» das cativações e dos orçamentos não cumpridos (mas inovadoramente não rectificados!).
ResponderEliminarNão houve cativações?
Não houve orçamentos não cumpridos, desde investimentos quase zerados a receitas e perdões fiscais não orçamentados?
Não houve o descaramento de treteiros profissionais, gabando-se de não rectificarem o orçamento?
O negacionismo é central para a manutenção dos mantras esquerdalhos, esse cimento de uma ideologia de saque e oportunismo.
Por lapso o comentário que se segue foi publicado noutro post. Como é óbvio refere-se ao ponto v) do texto do Diogo Martins.
ResponderEliminarAinda no seguimento da minha primeira salva de aviso (de artilharia económica) acerca da inutiliddade de baixar o IRC para imitar o "sucesso" irlandês, eis um outro artigo do muito capitalista Bloomberg onde se aconselha que para se defenderem do colonialismo económico dos países do centro da EU (vulgo Alemanha) os países do Leste devem taxar MAIS as empresas e menos o consumo.
https://www.bloomberg.com/view/articles/2018-02-09/piketty-thinks-the-eu-is-bad-for-eastern-europe-he-s-half-right
A situação não é inteiramente aplicável a Portugal porque esses estados não estão na EMU (Euro), pelo que a redução dos impostos sobre o consumo pode não ser favorável no caso português, mas em todo o caso o dumping fiscal também não é a solução. Não é paraíso fiscal quem quer, mas quem pode ou quem deixam!
Para quem não saiba os países de Leste têm funcionado como "chinas" de proximidade, muito mais dóceis (não exigem transferências tecnológicas, nem a criação de joint-ventures, nem têm controlos de capitais) e com a possibilidade de integrar muito mais estreitamente as cadeias logísticas de produção com as firmas-mãe na Alemanha.
S.T.
Descaramento de treteiros profissionais houve com toda a certeza.
ResponderEliminarTemos aqui um exemplo verdadeiramente pro: O de Jose que arrasta atrás de si e desta forma penosa, as "cativações e os orçamentos". Idiotices maiores com significado menor. Pieguices lamechas para tentar esconder os factos e a realidade, com o dedo borrado da tinta destas mesmas "cativações e orçamentos"
Custa verdadeiramente ver um vetusto personagem tentar estas piruetas pouco dignas e verdadeiramente negacionistas para ocultar os diabos que agitaram outro pro da treta e da pesporrência, esse génio de nome Passos Coelho. Diabos esses que não ficaram acantonados aquela espécie de génio, mas que foram utilizados até à náusea pela coorte neoliberal dos seus amigos de ideologia e do saque, por longos e penosos meses,até anos, contrariando de forma cómica e impotente a realidade.
Agora este choradinho sobre cativações e do orçamento?
Ai se aquele génio de nome passos coelho sabe desta pieguice...