Primeiro Facto: Realizaram-se anteontem as eleições para os corpos gerentes do Sindicato dos Jornalistas. Num universo de 2098 inscritos, num total de cinco a seis mil profissionais, votaram 536 sócios (374 em Lisboa e Açores, 119 no Porto e 43 na Madeira).
Segundo facto: Havia duas listas. A Lista B que se candidatava a todos os corpos gerentes e que era presidida pela actual presidente do Sindicato, Sofia Branco. E a Lista A que se candidatava apenas ao Conselho Deontológico (CD) e ao Conselho Geral (CG), e cujo primeiro candidato ao CD era Alfredo Maia, qu foi presidente do Sindicato de 2000 a 2014.
Terceiro facto: Ganhou a Lista B. Para a Direcção, Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal, a lista B recebeu 433 votos. Para o CD, a Lista B teve 353 votos, contra 170 da lista A (4 mandatos contra 1). Para o CG, a Lista B teve 366 votos, contra 160 da Lista A (15 mandatos contra 6). Há 3 anos, e pela primeira vez desde 1987, apresentaram-se duas listas. A Lista B (encabeçada por Sofia Branco), ganhou a eleição com 378 votos contra a Lista A (encabeçada por Alfredo Maia) que recolheu 264 votos.
A expressão contra foi usada de forma consciente, na plenitude do seu sentido, e não apenas como utensílio descritivo.
E assim foi por diversas razões. Mas todas elas estranhas, quando os jornalistas têm levado na cabeça todos os dias, quando são
forçados a ritmos de trabalho incompatíveis com a produção de uma boa
informação e pagos ainda por cima com ordenados cada vez mais pequenos e
aliciados/pressionados para fazer horários nocturnos sem ser pagos (aconteceu
recentemente na TVI, tendo a administração recuado após resistência de
alguns trabalhadores). Os despedimentos campeiam e jazem freelancers,
que fazem uns artigos (poucos) pagos ao preço da uva-mijona, com meses de atraso. As redacções estreitam-se, os
jornalistas empobrecem, a informação empobrece, ao arrepio das
responsabilidades constitucionais (aqui) postas em
causa quotidianamente.
Este cenário - que deveria levar todos os sindicalistas a encontrar o que os une, em vez de descobrir razões para se virarem uns contra os outros - foi completamente arredado da discussão eleitoral. E isso ficou claro desde o início:
A primeira eleição da lista B, há 3 anos, já surgiu contra a Direcção então presidida por Alfredo Maia. Defendia-se um novo sindicalismo, com novas pessoas (o que é sempre positivo), mas igualmente, por algumas pessoas, com um certo espírito anti-PCP e anti-CGTP. Sofia Branco disse na altura: "Quem votou escolheu a renovação. Esta
votação superou os resultados das últimas eleições quando votaram 500
jornalistas. Desta vez, votaram 700. Temos um longo trabalho pela
frente. Queremos tornar este sindicato um sindicato mais forte pela
defesa da profissão".
Essa renovação ficou patente na obra que a Direcção quis deixar: realizar o 4º Congresso dos Jornalistas, que não se reunia há décadas. Aconteceu em Janeiro de 2017. Assumidamente por falta de experiência e auto-confiança, o Sindicato entregou a organização do Congresso à jornalista Maria Flor Pedroso que convidou a jornalista Helena Garrido (ambas assumiram essa função, sem quase controlo pela Direcção do Sindicato). E - na minha opinião - transformou-se aquela que poderia ser uma Assembleia Geral alargada do Sindicato numa imensa conferência sobre a comunicação social (inclusivamente com agências de comunicação, directores de informação convidados como tal e até os representantes do patronato), desprovido do seu carácter sindical que deveria ter sido assumido. A ponto de ter sido inclusivamente aprovada uma proposta (com origem em jornalistas da SIC) que, sem o designar, abre a possibilidade de constituição de uma Ordem, sempre recusada pelos jornalistas.
Apesar do carácter híbrido do evento (integrando mesmo não sócios do Sindicato), a Direcção do Sindicato assumiu-o como um órgão máximo do Sindicato e dispôs-se a cumprir as propostas de lá saídas. Mas passado mais de um ano sobre a sua realização, parte das propostas aprovadas no Congresso ficou, por cumprir. A Lista B apresentou-se a estas eleições dizendo algo que poderá ter uma leitura cómica, que foi: "Votem em nós para que possamos concretizar as propostas aprovadas"...
Mas isso é como tudo: os sindicalistas são generosos, mas são poucos! E o tempo passa depressa e não é possível ir a todas, sobretudo trabalhando ao mesmo tempo. Mas, por isso mesmo, era conveniente agregar toda a gente generosa, capaz e com vontade de ajudar. E não criar barreiras idiotas, apenas próprias de sectarismos políticos que não levam a nenhuma parte, se não a divisões artificiais. Abrir a actividade do Sindicato, em vez de a fechar.
A campanha eleitoral foi um exemplo claro disso. A Lista A surgiu, com pessoas incomodadas com o rumo do Sindicato, que achavam estar a definhar como sindicato de classe. E a Lista B sentiu-se injustiçada, atacada e armou-se de todas as maneiras. Criou-se um ambiente de barricada estupidamente feio, incompreensível.
Os comunicados da lista A podem ser encontrados aqui. E os da lista B aqui. E convidam-se todos a visitá-los e a testar o que deles transparece sobre o papel do Sindicato. A campanha eleitoral foi pobre, tendo em conta o panorama da classe e do país.
A Lista B abriu as hostilidades e degradou logo o ambiente. Num comunicado sobre o Conselho Geral, fez questão de afirmar que "uma equipa que não segue diretórios ou comités, uma lista de gente que pensa pelas suas cabeças, cuja unidade coerente se baseia na múltipla diversidade daqueles que nela participam", numa alusão ao facto de a Lista A integrar militantes do PCP e ser presidida por Alfredo Maia. Aliás, a lista B achou ainda por bem, no seu último comunicado, questionar a deontologia de Alfredo Maia, primeiro candidato da lista A para o Conselho Deontológico, por ser membro da assembleia municipal da Maia, eleito desde Outubro de 2017... "Por estas razões – mesmo sabendo que este parece ser um assunto tabu entre a classe –, convidam Alfredo Maia a esclarecer desde já a sua posição: tenciona ou não tenciona renunciar ao mandato na Assembleia Municipal da Maia, caso venha a ser eleito para o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas?" Um entendimento perfeitamente ilegal e abusivo, mas sobretudo uma manobra baixa de final de campanha.
Apesar de fustigada, a lista A ragiu à primeira em tom digno, respondendo à questão de fundo, mas já não quis reagir à última nota. Mas a animosidade estava lá.
Face a falta de resposta, um dos seus elementos da lista desenvolveu na sua página pessoal do Facebook as razões inconstitucionais de limitar os direitos de alguém apenas por ser comunista ou jornalista, quando nem o Tribunal Constitucional o questiona (Artº 13º, 2: "Ninguém pode ser privilegiado,
beneficiado, prejudicado, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência,
sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas
ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou
orientação sexual."). E escreveu essa candidata: "O que dizer deste género de gente???!!!! Apenas que desonram o Jornalismo!". E depois atirou-se ainda, numa alusão à orientação sexual assumida pela candidata da lista B: "Ao que parece invocar as opções sexuais de alguém é crime de lesa indivíduo. Por seu turno, invocar as opções político-partidárias de alguém não. Sobretudo quando estas se situam na área do PCP. Pois bem, e que tal irem levar no entrefolhos?"
O mesmo tom de barricada foi recuperado ontem, mas do lado da lista B, por uma das candidatas eleitas ao CD pela Lista B: "E a lista B ganhou as eleições ao sindicato dos jornalistas, com maioria
absoluta no conselho deontológico e no conselho geral!!!! A Direcção já
era nossa e mantém-se com um belo número de votos de confiança face ao
bom trabalho que tem sido feito!!!"
Claro que há demasiado anti-corpos de lado a lado. E, se calhar, baseados em motivos verdadeiros para ambos os lados, outros ampliadas por diversas razões, que tornam a leitura geral injusta. Mas aquilo que poderia ter sido aproveitado para trazer mais pessoas ao sindicalismo, foi desbaratado numa guerra suja.
Há pessoas válidas nas duas listas e interessadas em defender o melhor que sabem os interesses dos jornalistas como trabalhadores. Talvez haja orientações diferentes sobre qual deve ser o papel do Sindicato, mas tudo se discute e deve discutir, sem uma lógica dos "nossos" contra "eles". Receia-se que as divergências de política se transformem em disputas pessoais ou contra pessoas - e não numa unidade de acção ou numa disputa verdadeira de opiniões distintas - e que esse se torne o modo de funcionamento do Sindicato.
Que se arrepie caminho a tempo.
A gente de esquerda tem sempre o mesmo problema: quando assumem que a sociedade em que se vive está estruturalmente errada nos seus princípios e nas suas práticas, sempre se suspeita que não a saibam gerir e que considerem a sua destruição um passo no sentido do progresso.
ResponderEliminarAcrescente-se-lhe a militância no PCP com sua disciplina militante e a suspeita passa a certeza.
Caro José,
ResponderEliminarTodos as teorias são bem-vindas. Mas aconselha-se uma menor teorização sobre assuntos que não acompanha. Sob pena de não lhe darmos valor.
Caro João
ResponderEliminarNos assuntos que não acompanho remeto-me para teorização por óbviamente não ter opinião que possa ser valorizada.
Caro José,
ResponderEliminarLembra-me uma velha história que se contava de Staline. Uma vez quando lhe perguntaram o que ele pensava da cibernética, disse: "Não percebo nada da cibernética e por isso não tenho opinião; agora sobre a relação da cibernética com a sociedade burguesa [acho que era este o tema que ele dominava], já tenho"...
:-)
"A gente de esquerda ... sempre se suspeita que não a saibam gerir e que considerem a sua destruição um passo no sentido do progresso."
ResponderEliminarQuem suspeita? Os joses desta vida?
"Acrescente-se-lhe ... a suspeita passa a certeza.
E agora quem tem a certeza?Também os josés desta vida?
Sempre este assumir de ayatola ou de pregador a suspeitar e a ter certezas
Há aqui algo daqueles capangas enviados pelo Estado Novo para vigiar as universidades. E esses amores permanecem de forma suspeita a confirmar quase certezas
"Nos assuntos que não acompanho remeto-me para teorização por óbviamente(?) não ter opinião que possa ser valorizada".
ResponderEliminarQue assuntos jose não acompanha? E que assuntos acompanha?
Por exemplo quando afirma no tom mais solene e lambe-botas que Salazar mandou pagar o que tinha recebido pelo plano Marshall e que tal, veja-se bem, causou problemas sérios à administração americana que não tinha sequer cobertura legislativa para uma receita de devolução do que nunca esperaram receber e que até insistiu soberanamente e que até o congresso autorizou a receita, em que domínio está jose?
Nos assuntos que acompanha ou que não acompanha?
E quando se demonstra que tais idiotices maiores são fruto da imaginação doentia, exacerbada e imbecil dum mentecapto fascistóide a que se remete jose?
Aos assuntos que acompanha ou que não acompanha?
E quando, bebendo toda a porcaria e estrume debitado pelo imbecil salazarento, assume, verdadeiramente orgulhoso das idiotices citadas que "Soberania exige balls e carácter!" referindo-se à narrativa do débil mental sobre salazar, em que assuntos se estará a entranhar?
Nos que acompanha ou nos que não acompanha?
A história que algumas ratazanas de porão contavam sobre salazar era esta:
ResponderEliminarUm tipo de nome Luís Soares de Oliveira resolve postar num daqueles antros de saudosos salazaristas um post em que revela a seguinte história:
A"Embaixada de Portugal em Washington recebe pela mala diplomática um cheque de 3 milhões de dólares com instruções para o encaminhar ao State Department para pagamento da primeira tranche do empréstimo feito pelos EUA a Portugal, ao abrigo do Plano Marshall. O embaixador incumbiu-me – ao tempo era eu primeiro secretário da Embaixada – dessa missão".
(O primeiro secretário vai assim com um chegue ao departamento de estado)
A narrativa prossegue em tons melodramáticos:
"O colega americano ficou algo perturbado. Disse-me que certamente havia um mal entendido da parte do governo português. Nada havia ficado estabelecido quanto ao pagamento do empréstimo ...transmiti imediatamente esta posição a Lisboa, pensando que a notícia seria bem recebida, sobretudo num altura em que o Tesouro Português estava a braços com os custos da guerra em África. Pensei mal. A resposta veio imediata e chispava lume. Não posso garantir a esta distância a exactidão dos termos mas era algo do tipo: "Pague já e exija recibo".
A narrativa prossegue verdadeiramente épica:
"o Secretário de Estado - ao tempo Dean Rusk - teria que pedir autorização ao Congresso para receber o pagamento português. E assim foi feito. Quando o pedido chegou ao Congresso atingiu implicitamente as mesas dos correspondentes dos meios de comunicação e fez manchete nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam" e outros títulos do mesmo teor anunciavam aos leitores americanos que na Europa havia um país – Portugal – que respeitava os seus compromissos"
É esta estória formatada para idiotas menores que um tal jose serve como prova das balls e do carácter de Salazar!
Assuntos que jose acompanha ou que não acompanha?
Quem consultar a correspondência entre portugal e os USA não encontra nada sobre este assunto.
ResponderEliminarQuem consultar a correspondência de Dean Rusk não encontra nada sobre o assunto
Quem consultar arquivos não encontra nada sobre esta devolução ou autorização legislativa
Quem consultar a sua inteligência apercebe-se da idiotice maior de ser um primeiro-secretário a ir com um cheque na mão sem qualquer aviso prévio diplomático
Quem consultar a sua inteligência apercebe-se que não há qualquer referência a qualquer outra tranche para pagar a denominada dívida (mais de 50 milhões)
Quem consultar a sua inteligência apercebe-se que coisas do género "a resposta veio imediata e chispava lume... "Pague já e exija recibo" são da mais extraordinária boçalidade e comprovam o carácter da propaganda salazarista
Quem consultar a sua inteligência apercebe-se do enorme ridículo de quem ousa proclamar manchetes nos principais jornais. "Portugal, o país mais pequeno da Europa, faz questão de pagar o empréstimo do Plano Marshall"; "Salazar não quer ficar a dever ao tio Sam"
Quem consultar a sua inteligência fica atónito como tais idiotices conseguiram ver a luz do dia...
E serem transmitidas assim desta forma cheia de balls pelo tal Jose.
São estes assuntos que de facto acompanha