quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
AD no país das maravilhas
Para superar a melancolia de esquerda
terça-feira, 30 de janeiro de 2024
Da lambebotice
segunda-feira, 29 de janeiro de 2024
Um Estado com estratégia não é socialismo, é boa política
Notas pessoais de dias coletivos
Encontrar a economia política
A prolongada crise do capitalismo neoliberal enquanto mudança estratégica das formas económicas, políticas e ideológicas do processo de acumulação deixou um rasto de destruição global: o agravamento das desigualdades, o alastramento da pobreza, o desastre ambiental, a guerra e a nova corrida aos armamentos, o declínio das democracias, a insegurança e o medo feitos política num tempo sem política como razão estratégica. Um presentismo conformista difuso que digere e normaliza o processo de regressão em curso e é diligentemente fabricado pelas novas máquinas de formatação do senso comum.
domingo, 28 de janeiro de 2024
Algarve: não há água sem justiça
Choques chineses
Neoliberalismo com características chinesas, capitalismo restaurado, socialismo com características chinesas, socialismo com (ou de) mercado, capitalismo de Estado, capitalismo político, economia mista, formação económico-social com orientação socialista: termos usados para caracterizar a China pós-maoista e só na economia política crítica, com orientação histórico-institucional, dos últimos anos.
Desmascarar o programa económico da AD em menos de 2 minutos
«Eu vou dar os exemplos… Não é dar os exemplos, é fazer a listagem das medidas que nós conhecemos. É reduzir o IRC. Reduzir o IRS. Aumentar o Complemento Solidário para Idosos. Aumentar os vouchers para consultas e cirurgias de especialidade no Serviço Nacional de Saúde. Ter um Médico de Família para todos. Repor de forma faseada o tempo de serviço dos professores. Universalizar o ensino Pré-escolar. Alargar a Ação Social Escolar. Isentar de IMT e Imposto de Selo a aquisição de habitação para menores de 35 anos.
Ou seja, reduzir os impostos 'a la' Iniciativa Liberal, aumentar as despesas públicas 'a la' PCP e Bloco de Esquerda. E, ao mesmo tempo, reduzir a dívida pública 'a la' Mário Centeno. Isto é o programa da AD. É um programa miraculoso. E conta com aquela «fada da confiança» que mais ou menos a senhora Liz Struss propôs no Reino Unido: a gente desce aqui os impostos em 6 pontos percentuais, o IRC em 6 pontos percentuais, e não imaginam a explosão de crescimento económico que daí vem... Isto não faz sentido nenhum».
Em mais uma edição do «Tudo é Economia», da RTP3 (excerto roubado aqui), Ricardo Paes Mamede desfaz o programa da nova AD, que propõe aos eleitores leite e mel, o melhor de cada mundo: uma generosa redução de impostos a par do aumento da despesa social e da redução da dívida pública. Nada de novo, na verdade. Vimos a mesma contradição entre a campanha de 2011 e a governação da maioria PSD-CDS/PP, certo?
sábado, 27 de janeiro de 2024
Os vende-pátrias
Os vende-pátrias da extremada direita lusa, os tais economistas do cortejo fúnebre da economia portuguesa, agora com a fugaz aparição pública de Álvaro Santos Pereira - talvez o mais incapaz e lesivo ministro da economia do pós 25 de Abril - tentam recuperar a enganosa tese de Wolfgang Schäuble, uma tese falida e usada contra o interesse nacional, segundo a qual a intervenção externa que o país sofreu, em 2011, foi o resultado da incapacidade de o Estado se financiar - a mentira da bancarrota - em consequência de taxas de juro incomportáveis então exigidas pelos mercados, taxas essas que pretensamente seriam função do alto nível de endividamento público do país.
A dívida pública, no fim de 2011, rondava os 114% do PIB; em janeiro de 2012, os juros das obrigações do tesouro de Portugal a 10 anos atingiram os 16,4%. Foi no que deu a golpista inação do BCE.
A dívida pública, no fim de 2020, cifrou-se em 135,1% do PIB; em janeiro de 2021 ano o Jornal de Negócios noticiava que “Portugal coloca dívida a 10 anos com juros negativos pela primeira vez”.
Lição inequívoca: o banco central controla sempre as taxas de juro da dívida denominada na moeda por si emitida.
Desculpem se nos repetimos, mas o mantra enganoso e sedicioso da bancarrota não pode ser reabilitado. A economia das idade das trevas tem de ser combatida, que o país não a comporta. É o nosso futuro coletivo que está em causa.
Que política económica depois de 10 de Março?
Foi uma sessão estimulante (a parte do debate anda mais do que as intervenções iniciais), fica aqui o vídeo da sessão.
Coro antifascista
Perguntar sempre
sexta-feira, 26 de janeiro de 2024
Diga as palavras, homem
Como é óbvio, Homem Cristo sabe que as Provas de Aferição têm um propósito claro e distintivo. Visam identificar matérias e competências em que os alunos revelam ainda dificuldades, de modo a que as mesmas possam ser trabalhadas pelos docentes e pelas escolas no ano seguinte. É por isso, e não por acaso, que as Provas de Aferição se realizam durante os ciclos do ensino básico (no 2º, 5º e 8º ano) e não no final, quando já não haveria tempo, nem o mesmo contexto, para recuperar e melhorar.
Provas de Aferição realizadas no final de ciclo significam outra coisa, cuja designação é diferente. Chamam-se exames finais e correspondem ao que Alexandre Homem Cristo pretende implementar, evitando contudo chamar os bois pelos nomes. Percebe-se: trata-se de um regresso a Nuno Crato, que introduziu exames finais no 4º e 6º ano. O que faria de Portugal, novamente, uma exceção retrógrada no quadro europeu, onde a realidade que prevalece é a da realização de provas de aferição durante os 6 primeiros anos de escolaridade.
Por isso, se realmente defende a reintrodução de exames finais, que já ninguém realiza há muito tempo no 4º e 6º ano por essa Europa fora, conviria que Alexandre Homem Cristo revelasse com clareza ao que vem. Que dissesse, sem dissimulações nem ofuscações, as palavras.
quinta-feira, 25 de janeiro de 2024
Novos keynesianos
Foi notícia ontem que a AD apresentou o seu cenário macroeconómico, com um corte de impostos estimado em 5000 milhões de euros “e a introdução de medidas que pretendem aumentar a produtividade da economia”.
De acordo com este cenário, esta descida de impostos paga-se a si mesma. Com menos impostos cobrados, aumenta “o rendimento disponível das famílias e a capacidade financeira das empresas, conduzindo a uma aceleração do consumo privado e do investimento”.
Estamos a falar, portanto, do nosso velho conhecido multiplicador orçamental keynesiano, ou seja, o fator que multiplica cada 1€ que o Estado cobra ou despende na economia. Este multiplicador pode ser negativo, o que significa que uma descida de impostos faria descer o PIB; entre 0 e 1, o que significa que cada 1€ a menos de impostos teria um efeito modesto, menor do que 1€ no PIB; ou maior que 1, o que significa que significa um efeito largamente positivo no PIB. Portanto, no cenário macroeconómico da AD, cada 1€ a menos de impostos será multiplicado por um valor (bem) acima de 1 no consumo e no investimento, de tal forma que desta forma se compensará a descida inicial dos impostos.
A direita adora apresentar o multiplicador das descidas de impostos. Mas esquece sempre que o mesmo princípio pode ser aplicado aos aumentos da despesa e do investimento públicos.
A importância do multiplicador é tanta que me surpreende este não ser mais discutido. Por exemplo, o programa de ajustamento imposto pela Troika, com uma grande descida da despesa pública e "colossal aumento de impostos", apenas tinha sentido num cenário onde o multiplicador fosse menor que 1, ou seja, onde apesar do efeito negativo esperado na economia, este efeito fosse pequeno comparado com o efeito positivo na consolidação das finanças públicas. Mas era gravíssimo se o multiplicador fosse maior que 1. Nesse caso, cada aumento de impostos fazia descer ainda mais o PIB (menos investimento, mais desemprego, etc.), fazendo crescer o défice e a dívida ao invés de os diminuir, levando a novas rondas de aumento de impostos que nunca mais atingiam o seu fim. Foi este o caso e, em 2013, era claro, até para Olivier Blanchard e para o FMI, que os multiplicadores tinham sido fortemente subestimados no início dos programas de ajustamento, sendo esta mesma conclusão confirmada por outros estudos, como este de Philipp Heimberger que, em 2016, calculou que o multiplicador orçamental se encontrava entre 1,4 e 2,1, concluindo que o esforço de consolidação orçamental aprofundou ainda mais a recessão na área do Euro.
Combates intelectuais
quarta-feira, 24 de janeiro de 2024
Ao cuidado do «-Liberdade»: a Europa está cheia de dependentes do Estado
Recorde-se que, para Vítor Bento, o facto de «a larga maioria [dos portugueses] vive[r] na dependência que o seu rendimento tem do Estado», torna muito difícil «mobilizar uma coligação eleitoral capaz de ganhar e reformar o país». De onde se deduz, portanto, que essa «coligação eleitoral capaz de ganhar e reformar o país», de que a que IL faria certamente parte, poria fim a esta nefasta dependência, direta ou indireta, de tanta gente face ao Estado.
Ou seja, é legítimo pensar que a dita coligação, entre outras medidas, poria fim à gestão pública das pensões (privatizando a Segurança Social), acabaria com a fixação do salário mínimo (cada empregador passava a pagar o que bem entendesse) e extinguiria a função pública (num país em que o peso relativo dos funcionários do Estado no emprego total fica abaixo da média europeia).
Empobrecimento puro e duro, portanto, proposto por quem ainda não percebeu que o Estado também é economia, rendimento, emprego e prestação de serviços à comunidade.
Vale por isso a pena verificar se este alegado desperdício de recursos - em pensões, prestações sociais e salários da função pública - também acontece «lá fora». Para estes liberais, o panorama torna-se ainda mais desolador. De facto, não só a percentagem dos tais «dependentes do Estado» supera, na média europeia, o caso português como, pasme-se, é ainda mais significativa em países como a Finlândia, Suécia, Dinamarca, França, Áustria ou mesmo a tão aclamada Irlanda. Que irresponsabilidade, não é? Como diacho se terão desenvolvido estes países?
Saída, voz e lealdade
terça-feira, 23 de janeiro de 2024
Temos um problema com a emigração, mas não é aquele que a direita nos quer vender
Os tempos financeiros não são verdes
“O número de dias de neve nos Alpes caiu mais nos últimos vinte anos do que nos 600 anos anteriores”, destacava o Financial Times, a pretexto do Fórum Económico Mundial, que se realizou em Davos, Suíça, entre 15 e 19 de janeiro.
segunda-feira, 22 de janeiro de 2024
Decência e coragem
«Impressionou-me ver o número de crianças feridas que estavam em trânsito para fora de Gaza. Crianças amputadas, crianças desfiguradas e com um olhar resignado, crianças de seis anos com um olhar como se tivessem 80 e muitos anos. Mais de 50% das casas estão destruídas e 85% da população não vai ter para onde ir, quando a guerra terminar. (…) Morreram mais crianças nos últimos 100 dias do que em todos os conflitos no mundo nos últimos cinco anos. Portanto, estamos perante uma catástrofe humana sem precedentes. Não quero poupar nas palavras. É uma catástrofe humana sem precedentes porque, ao contrário de outras catástrofes humanas, as pessoas não têm para onde fugir. As pessoas fogem da guerra para salvar a vida. No caso de Gaza, não há refugiados porque não podem sair.
[A população de Gaza] está presa num triplo sentido. Está cercada por um contexto de guerra e, portanto, está a ser bombardeada, (…) Por outro lado, já se notam surtos de doenças do foro diarreico porque não há água potável, não há medicamentos, muitas doenças do foro respiratório. (…) Há uma casa de banho para cada 400 pessoas e um chuveiro para cada 1850 pessoas. (…) Temos 50 mil grávidas sem qualquer tipo de cuidado que vão dar à luz. Eu já nem sei que adjectivos usar porque nos últimos 100 dias utilizei todo o dicionário de adjectivos.
(…) Depois, vi uma coisa surpreendente: vi produtos a serem rejeitados. Há uma lista de produtos rejeitados por Israel porque considera que podem ser de uso duplo e, portanto, que podem ser utilizados para outros fins, como a construção de armas ou coisas que possam ameaçar. Eu vi painéis solares, frigoríficos solares, lanternas solares, brinquedos, bonecas, livros para colorir, botijas de oxigénio que são um suporte de vida básico, tudo rejeitado. Quando se rejeita uma caixa porque tem um item supostamente proibido, todo o camião é rejeitado. Portanto, repare como as dificuldades que estão a ser colocadas a ajuda humanitária tornam esta guerra ainda mais indigna e ainda mais imoral, ainda mais ultrajante quanto aos direitos básicos».
Da pungente entrevista de Jorge Moreira da Silva, Subsecretário-geral das Nações Unidas, ao Público e à Renascença, no esteio da decência, coragem e perseverança de António Guterres, perante a gravíssima e inaceitável situação em Gaza. A contrastar com o silêncio e a complacência (e até indecência), que continuam a prevalecer nas direitas.
Do mamonismo
domingo, 21 de janeiro de 2024
Ebulição
A transição para as energias renováveis não resultará, automaticamente, na concretização do direito universal à energia renovável ou na gestão democrática do sistema energético. Ao invés, perante a ausência de transformações sociais, económicas e políticas estruturais, assiste-se a uma transferência da lógica do capitalismo fóssil – baseada na mercantilização da energia, na acumulação de riqueza e na maximização dos lucros – para os sistemas energéticos assentes em fontes renováveis. O capitalismo fóssil está a reconverter-se, rapidamente, em capitalismo verde – apenas mudam as fontes de energia, já que as relações sociais de produção permanecem, no essencial, inalteradas.
sábado, 20 de janeiro de 2024
Apelo
Cada democrata tem uma obrigação e uma só obrigação nas próximas semanas: tratar as eleições de março como um combate de vida, apoiando um dos partidos fiéis ao melhor da Constituição da República Portuguesa, com uma imensa alegria militante, todo o otimismo da vontade, sem elitismos.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2024
As máscaras de Ventura
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
Combate pela memória
Graças a Catarina Coutinho, pude recordar um pungente depoimento de Maria Rosa do Couço, a circular pelas redes sociais, sobre as lutas camponesas pela jornada de oito horas. É parte de um combate pela memória de 1962.
Requentar teses oportunistas em tempo de eleições
Fazendo estimativas para 1980 e 2020, Vítor Bento concluiu, nessa altura, que a «população dependente do Estado» passara de 34% para 61% em quatro décadas, desprezando, contudo, várias coisas:
- Que os descontos das empresas e dos trabalhadores para a Segurança Social (e não do Estado, já agora, que apenas as gere e garante), a par do envelhecimento demográfico, permitem que os reformados tenham hoje uma pensão;
- Que o aumento do peso relativo de funcionários públicos (de cerca de 7% para 9%), bem abaixo da média da UE, tem um significado muito claro: entre outros domínios, a universalização do acesso à saúde (médicos e outros profissionais) e à educação (professores), no âmbito do Estado Social tardio que o nosso país edificou desde o 25 de Abril, com destaque para o SNS e a Escola Pública;
- Que o aumento da proporção de trabalhadores abrangidos pelo salário mínimo, de 3% para 10% (o qual, já agora, também não é pago pelo Estado), reflete a exigência da sociedade, através das suas escolhas políticas, em fixar um limiar mínimo de decência na remuneração do trabalho, num país que chegou a 1974 com níveis de pobreza e desigualdade insuportáveis;
- E por falar em pobreza, note-se por fim a ausência de um equivalente ao RSI em 1980, suscetível de servir de comparação com os 3% da população abrangida em 2020 por esta prestação social, que representa um salto face ao assistencialismo caritativo e humilhante até aí prevalecente.
É verdade que Vítor Bento, no seu ensaio de 2022, assinala não ter «nenhum intuito moralista» com o exercício a que deitou mão, dizendo que «as coisas são o que são». Mas é ao mesmo tempo indisfarçável que não só encara de forma negativa esta alegada «dependência» das pessoas face ao Estado (como quando, por exemplo, se refere aos cidadãos enquanto «consumidores de impostos»), mas também quando a interpreta como um obstáculo à concretização das «reformas transformacionais» de que, no seu entender, o país precisaria.
Reformas essas que, como facilmente se deduz, iriam no sentido da retração do papel do Estado, tanto ao nível do desmantelamento e privatização dos serviços públicos como ao nível da desregulação da legislação laboral e da rarefação dos direitos sociais, no melhor esteio da «economia do pingo» (mas que depois nunca pinga). Isto é, em linha com as propostas programáticas que já se vislumbram à direita, do PSD ao Chega, passando pelo CDS e IL.
Não estranha por isso que João Maria Condeixa tenha repescado no seu twitter, para o atual quadro eleitoral, o ensaio de Vítor Bento. E afirme, a partir dos dados do referido gráfico, que «o partido que ignorar esta estrutura de rendimentos não será eleito» e que «o partido que dela ficar refém não servirá o país», lamentando-se, ainda, pelo facto de «o dinheiro atirado para o problema» contentar apenas «eleitorado e partidos».E quem deveria já agora, que mal se pergunte, contentar?
quarta-feira, 17 de janeiro de 2024
Os dezassete escolhidos
Luís Montenegro, qual construtor de mamarrachos políticos de Espinho, veio anunciar que tem consigo os melhores 17 economistas para colaborar na derrota da PaF (vulgo AD, graças ao PPM). Quem são? Escolho por agora 8, representativos do autêntico cortejo fúnebre da economia portuguesa.
1. Havia tanto para dizer sobre Maria Luís Albuquerque, mas não temos tempo, como diria Cândido Mota em A Roda da Sorte. Sucessora de Vítor Gaspar, esta liberal com iniciativa transitou depois para uma empresa internacional de cobrança de créditos duvidosos de Manchester: muita literacia financeira, muito pouca cultura económica. Uma palavra em inglês e um acrónimo bem português: Swap e BES.