segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Um Estado com estratégia não é socialismo, é boa política

No Japão (um país há muito governado por conservadores ou liberais) as políticas de ciência, tecnologia e inovação têm por base planos quinquenais, que orientam cerca de metade do orçamento público para aquelas áreas. O mais recente plano japonês identifica como prioridades as áreas tecnológicas de inteligência artificial, biotecnologia, computação quântica, semicondutores, robótica, materiais e energias renováveis, aplicadas aos domínios do espaço, oceanos, saúde, alimentação, agricultura, floresta e pescas. 

Os planos quinquenais, precedidos de exercícios detalhados de prospectiva tecnológica, são também prática corrente na Coreia do Sul capitalista. O mais recente plano identifica seis áreas prioritárias: IA aplicada à educação, plataformas autónomas de integração de internet das coisas, robôs auto-evolutivos para companhia de humanos, sistemas de assistência médica remota com base em biossinais, tecnologia de comunicação de ultra-alta frequência, e sistemas de monitorização anónima hiper-conectados. Para cada uma destas áreas prioritárias, o plano sul-coreano identifica o tipo de intervenção pública que é necessário para impulsionar o seu desenvolvimento, fomentando a articulação entre investigação científica e inovação empresarial.

Os EUA deixam evidentes as suas apostas prioritárias em grandes programas federais, como o recente CHIPS and Science Act (que dedica o equivalente ao PIB português a áreas como a produção de semicondutores, a computação quântica, a inteligência artificial, a nanotecnologia, as energias “limpas” e as biotecnologias) e o Inflation Reduction Act (que apoia com um orçamento ainda maior a produção e difusão de tecnologias de ponta na área da descarbonização). Um conjunto de agências federais americanas assegura não apenas o apoio, mas com frequência a coordenação de esforços públicos e privados para assegurar o desenvolvimento das áreas de aposta prioritária.

Estes são apenas alguns exemplos de práticas de planeamento e selectividade nas políticas de investigação e inovação, prosseguidas por países com economias avançadas, tendo em vista o desenvolvimento das suas capacidades produtivas. A direita portuguesa chama a isto “socialismo”. Na verdade, é apenas boa política pública.

O resto do meu texto está disponível no Público de hoje, em papel e online.

2 comentários:

  1. Como coleccionador dos artigos do Professor RPM,lamento não ter - pelo menos - um extracto desta dimensão, do artigo do passado dia 1.JS

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  2. Portugal has 140 active planning instruments
    https://www.planapp.gov.pt/wp-content/uploads/2022/10/Poster-ICEGOV-1.pdf

    140 instrumentos de planeamento ativos (estratégias e planos de ação) em 2022 são suficientes, ou são necessários mais?

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