quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Ao cuidado do «-Liberdade»: a Europa está cheia de dependentes do Estado

Ainda sobre o requentar da ideia peregrina de Vítor Bento, formulada no contexto das legislativas de 2022 e que já foi entretanto também reciclada pelo «menos-factos-menos-liberdade» (assinalando que «61% dos adultos portugueses tem rendimentos dependentes do Estado»), vale a pena proceder a um exercício comparativo à escala europeia.

Recorde-se que, para Vítor Bento, o facto de «a larga maioria [dos portugueses] vive[r] na dependência que o seu rendimento tem do Estado», torna muito difícil «mobilizar uma coligação eleitoral capaz de ganhar e reformar o país». De onde se deduz, portanto, que essa «coligação eleitoral capaz de ganhar e reformar o país», de que a que IL faria certamente parte, poria fim a esta nefasta dependência, direta ou indireta, de tanta gente face ao Estado.

Ou seja, é legítimo pensar que a dita coligação, entre outras medidas, poria fim à gestão pública das pensões (privatizando a Segurança Social), acabaria com a fixação do salário mínimo (cada empregador passava a pagar o que bem entendesse) e extinguiria a função pública (num país em que o peso relativo dos funcionários do Estado no emprego total fica abaixo da média europeia).

Empobrecimento puro e duro, portanto, proposto por quem ainda não percebeu que o Estado também é economia, rendimento, emprego e prestação de serviços à comunidade.


Vale por isso a pena verificar se este alegado desperdício de recursos - em pensões, prestações sociais e salários da função pública - também acontece «lá fora». Para estes liberais, o panorama torna-se ainda mais desolador. De facto, não só a percentagem dos tais «dependentes do Estado» supera, na média europeia, o caso português como, pasme-se, é ainda mais significativa em países como a Finlândia, Suécia, Dinamarca, França, Áustria ou mesmo a tão aclamada Irlanda. Que irresponsabilidade, não é? Como diacho se terão desenvolvido estes países?

3 comentários:

  1. Porquê a escolha de UE14 especificamente?

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  2. Na realidade, *100%* do rendimento de qualquer pessoa está dependente do Estado, porque dele está dependente o reconhecimento de direitos e obrigações, designadamente relacionadas com o nosso rendimento, e a existência de instrumentos de resolução de conflitos relacionados com o rendimento, como p.ex. tribunais ou ACT.

    Se o que eu referi não for evidente à partida, lembrem-se que entre os que Vítor Bento incluía como "dependentes do Estado" estão os trabalhadores que ganham salário mínimo, e à grande parte desses o Estado não lhes paga nada, apenas lhes reconhece o direito a uma remuneração mínima pelo seu trabalho...

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  3. Caro anónimo das 16h53,
    Trata-se da UE14 apenas pela circunstância de não ser tarefa fácil encontrar dados comparáveis para mais países em todas as variáveis que estão em causa. Se conseguir obter informação que permita ampliar este universo, ficamos desde já muito gratos pela partilha.
    Cumprimentos

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