Ao final da manhã de 28 de abril de 2025, o sistema elétrico ibérico entrou em colapso total e a Península Ibérica mergulhou numa escuridão inesperada. A eletricidade começou a ser reposta de forma gradual ao longo da tarde, mas só foi restabelecida em várias regiões já durante a noite. O vazio de explicações públicas foi preenchido por especulações e desinformação.
Embora técnico na sua origem imediata, o apagão permite retirar conclusões políticas significativas: a fragilidade estrutural de um sistema elétrico totalmente privatizado, a despolitização das decisões estratégicas em matéria de energia e o esvaziamento do planeamento democrático, num contexto de ascensão de forças políticas de extrema-direita que se alimentam do descontentamento e da erosão da confiança popular nas instituições políticas.
O apagão iluminou — com ironia cruel — a escuridão política que envolve a transição energética portuguesa.
A transição energética pode ser descrita como a reconfiguração dos sistemas de produção, distribuição e consumo de energia, visando a descarbonização, a mitigação das alterações climáticas e a superação da dependência dos combustíveis fósseis. Longe de representar uma mera substituição tecnológica, envolvendo disputas políticas e escolhas económicas, a transição energética tem sido apresentada pelos sucessivos governos portugueses como um processo exclusivamente técnico, logo, incontestável. Esta transição avança, assim, de forma opaca, desigual e politicamente desmobilizadora, abrindo espaço à mercadorização da energia renovável e à reprodução de desigualdades históricas.
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