Tinha quase oito anos quando Portugal aderiu às Comunidades Europeias. Andava na escola primária dos Olivais, na mesma rua onde acabaria a ensinar. Havia contentamento. Declarei-me logo contra.
O meu melhor amigo na altura, do PSD, era entusiasta. Eu imitava o meu pai e ele o dele. A politização era maior, a democracia mais intensa.
No secundário, com esse grande amigo de doze anos de percurso escolar e discussões comuns, fiz um trabalho na área escola sobre o Tratado de Maastricht. A minha parte foi “contra Maastricht, porquê?”, na linha de Sérgio Ribeiro e de outros economistas do Partido. Estávamos na estimulante Jaime Cortesão, em 1993.
Mesmo no final da licenciatura no ISEG e até aos anos 2010, fui influenciado por economistas eurokeynesianos, como Stuart Holland. Uma palestra sua impressionou-me fortemente, infelizmente. O Erasmus na Erasmus de Roterdão na Holanda pode ter ajudado.
A troika, já na FEUC e no CES, livrou-me desse interregno para sempre e fez-me regressar em novos moldes ao euroceticismo de sempre, até porque keynesianismo, nas curvas apertadas da história, é nacional, embora tenha de ter uma dimensão internacional duradoura, que nunca será a da supranacional UE.
O golpe de estado financeiro na Grécia, em 2015, solidificou convicções nacionalistas de esquerda, base para o internacionalismo consequente.
Não, não há nada para celebrar na UE, ordem neoliberal supranacional bem incrustrada.
Quando historiadores-politólogos, como António Costa Pinto, dizem que a “UE é um projeto de paz”, questiono-me: qual é a narrativa do passado?
A UE, criada pelo Tratado de Maastricht, é um projeto desdemocratizador de guerra de classe e hoje, evolução orgânica, é um projeto de guerra pura e simplesmente, como bem tem argumentado Paulo Coimbra.
A integração europeia, desde os anos 1950, é uma nota de rodapé na paz europeia, esse produto paradoxal da Guerra Fria, como é óbvio. Quando a Guerra Fria acabou, a guerra regressou à Europa, até aos dias de hoje.
Entretanto, se não fosse a Katastroika, não estaríamos provavelmente nesta ordem neoliberal bárbara, há que reconhecer e nem vos conto o que me custou fazê-lo.
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