quinta-feira, 5 de junho de 2025

Escrita democrática e patriótica


O leitor atento do blogue pode ter reparado que o artigo do abrilabril recupera e desenvolve “ocorrências” e “apontamentos” tirados no e do blogue, para usar os termos de Miguel Esteves Cardoso no seu livro protocomunista sobre como escrever. 

E digo protocomunista, porque MEC, apesar de ser alguém com disposição conservadora, alinha com uma intuição radical clássica, presente em todos os investimentos socialistas na educação: a quantidade tem a sua própria qualidade, ou seja, todos podem e devem escrever; a excelência só floresce na massificação, na democratização, intuição antielitista que desenvolve brilhantemente num livro que merece ter todos os leitores-escritores possíveis e imaginários. 

Bom, em contraste com MEC, as minhas ocorrências-apontamentos são partilhadas, sendo que por isso são lidas previamente por pelo menos um camarada e amigo. Nada do que aqui escrevo prescinde da generosidade de outros, numa lógica de reciprocidade. Às vezes é só um simples coração, outras vezes é uma discussão que se prolonga. Um texto é um pretexto, sendo uma responsabilidade para quem o escreve.

Como assinala Jodi Dean, num livro sobre a forma de pertença política associada à palavra camarada, “um camarada é alguém com quem contas, com quem partilhas uma ideologia, um compromisso com princípios e objectivos para lá do que é momentâneo, numa luta que todos sabem ser longa”.

Como MEC aconselha, tenho um círculo de primeiros leitores-camaradas que se alarga quando passo das ocorrências e apontamentos ao artigo, seja de que tipo for. Por exemplo, o artigo do abrilabril foi lido por cinco pessoas, melhorando, creio, sempre no processo. 

Passo uma parte do meu tempo a ler coisas de outros, seja aqui, seja no Le Monde diplomatique - edição portuguesa, seja na academia, tentando encher de vermelho os seus textos. As lógicas, os critérios, variam em função das esferas, mas a lógica da reciprocidade é sempre a mesma. No final, ganhamos todos, espero. 

Sozinhos não somos ninguém. Dependemos sempre da ação coletiva, mais do que um somatório de indivíduos. Chamemos-lhe escrita democrática e patriótica.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não percebo como se pode falar desse sujeito em tom sequer remotamente elogioso quando se trata de um sionista pró-genecida do piorio.

andre carmo disse...

“Para termos uma noção do pouco que valemos, basta subtrair ao que somos o que aprendemos, o que lemos, o que vivemos com os outros. É só ver o que fica. Coisa pouca. Sozinho quase ninguém é quase nada. É somente juntos que podemos ser alguma coisa.”
― Miguel Esteves Cardoso