sábado, 8 de junho de 2024

Ordenamento económico da UE: falacioso e irreformável

Entre as várias falácias em que assenta o distópico ordenamento económico da UE duas delas são particularmente relevantes na imposição antidemocrática de políticas económicas que não admitem alternativa à permanente reestruturação neoliberal a que Estados sem soberania são obrigados. 

A primeira delas assenta na ideia segundo a qual a consolidação orçamental, sendo alegadamente virtuosa per se, reduz o endividamento público. Uma ideia serôdia e falaciosa. 


É uma ideia serôdia porque sabemos desde Keynes que incorre no paradoxo da parcimónia. Numa economia monetária de produção, sendo as receitas de uns as despesas de outros, não podem poupar todos simultaneamente e a tentativa de o fazer diminui o rendimento e por isso a poupança. Ao que acresce que, com uma balança de pagamentos equilibrada, superávites públicos significam necessariamente défices privados. 

É uma ideia falaciosa, na qual nem os economistas liberais menos encegueirados acreditam, porque, o que sabemos é que, “em média, as consolidações orçamentais não reduzem os rácios da dívida em relação ao PIB”. 


A segunda ideia falaciosa é aquela que afirma que a taxa de juro é a boa forma de assegurar a estabilidade dos preços argumentando que elevar taxas de juro diminui o investimento privado, o emprego, o rendimento, a procura e, por fim os preços. 

É uma ideia de pobreza falaciosa porque o que não falta por aí são estudos que mostram que a relação entre taxa de juro e investimento privado é complexa e pode ser mediada por vários outros fatores, como, por exemplo, incerteza económica, expectativas das empresas e condições específicas de diferentes setores da economia, taxa de lucro e custos salariais. 

Aqui, por exemplo, os resultados indicam uma associação positiva entre o investimento privado, taxa de lucro e custos salariais, apoiando a teoria clássica do investimento, que contrasta com a visão de uma correlação negativa entre as taxas de juro e o investimento. 

A UE realmente existente está, portanto, amarrada a um ordenamento económico que assenta, não em boa teoria económica, mas num conjunto de danosas crenças neoliberais, ordenamento que cavou um enorme fosso entre o centro e o norte da Europa e impede a sua reversão. 


O problema político de fundo, a meu ver, é que este é um ordenamento objectivamente irreformável. 


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