segunda-feira, 24 de junho de 2024

Ficar no mesmo sítio, acabar na esquerda


A «pax americana» chega ao fim e deixa o mundo em grande desordem. Desde há três décadas que os Estados Unidos, seguidos pelos seus aliados, os únicos a ocupar os palcos, acreditaram poder remodelar o mundo à sua imagem: por via da influência, vendo-se como exemplos; por via da regulação, apresentando-se como fontes de direito; e, cada vez mais, por via da força, por saberem que são os mais poderosos. 

Assim começa o artigo de Domenique de Villepin no Le Monde diplomatique - edição portuguesa. Este antigo Primeiro-Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros encarna a tradição da direita gaullista em França e declarou o seu apoio à Nova Frente Popular 

É um fenómeno curioso, pense-se em Freitas do Amaral, um gaullista português, no momento da invasão e destruição do Iraque. A primeira recensão que escrevi para o Le Monde diplomatique - edição portuguesa foi ao seu livro de corajosa crítica a este momento do imperialismo norte-americano. Há pessoas que ficaram mais ou menos no mesmo sítio, quando tantos viraram tanto à direita, ficando a parecer de esquerda e acabando a convergir com a esquerda.

Ainda na semana passada, na apresentação de um livro de António Avelãs Nunes na feira do livro de Coimbra, feita por Paulo Coimbra, o autor referia-se a essa tradição gaullista com uma certa melancolia, a de quem reconhece que o progresso é possível, mas que tem havido retrocesso. É preciso saber de onde vimos e onde estamos. Isto virou mesmo à direita. Mas isto não é inevitável.  

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