terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Krugman is half-wrong...

Paul Krugman fala sobre Portugal com simpatia e perplexidade: a história mais difícil de explicar da periferia. O peso da dívida pública no PIB era semelhante ao da Alemanha antes da crise, o endividamento privado é elevado, mas as bolhas imobiliárias estiveram ausentes e foi muita a estagnação desde a adesão ao euro. A questão imobiliária é mais complexa, como o Vítor Neves já indicou: bolhas imobiliárias há muitas. Infelizmente, Krugman comete o erro de mencionar o desalinhamento dos custos laborais portugueses com o resto da Zona Euro como um problema. Uma história já desmontada, incluindo pelo próprio Vítor Constâncio. Portugal perdeu competitividade externa nos últimos anos, mas tal deveu-se não às reivindicações dos trabalhadores, mas sim a uma entrada deficiente na moeda única: a chamada convergência nominal, no quadro da aceleração liberal da integração europeia e de abertura à economia global, contribuiu para uma duradoura sobreapreciação da nossa moeda, que se prolongou com o euro. Esta opção enfraqueceu a competitividade do sector de bens transaccionáveis para exportação num período crucial e canalizou muito do esforço empresarial para o sector de bens não-transaccionáveis, como foi o caso da construção. O endividamento privado, que manteve a economia acima da linha de água, também foi canalizado para o consumo, com uma forte componente de importação, graças, entre outras coisas, à imitação dos padrões de consumo da nossa lumpemburguesia. A inflação já foi de facto um problema, mas um problema que a narrativa oficial monetarista nunca conseguiu explicar, como já aqui defendemos. De qualquer forma, Krugman tem consciência das consequências desastrosas do processo deflacionário induzido pela pressão austeritária num contexto de endividamento elevado. É o espectro de um círculo vicioso à Fisher.

4 comentários:

  1. Seria necessário que, ao mesmo tempo que as taxas de juro fossem mais baixas, não houvesse incentivos para que esse crédito mais barato fosse utilizado de forma não produtiva, por exemplo em crédito ao consumo (de bens importados). Seria possivelmente necessário ter desincentivos a esse tipo de crédito, por exemplo na forma de impostos específicos (aliás, se eles existissem há mais tempo, talvez não tívessemos uma dívida externa tão grande...).

    Essa condições de taxas baixas europeias conduziriam a um aumento da inflação média europeia, que poderia permitir a recuperação portuguesa desde que a inflação em Portugal fosse mais baixa. E suponho que um certo nível de inflação (na Europa) não seria mau. Bastante mais fácil que reduzir salários em vários países, coisa nunca vista.

    Parece haver evidências que este tipo de problemas só se resolvem quendo o nível de endividamento diminuir e que um certo nível de inflação contribui para apressar o processo, ao contrário da deflação, como aliás sublinha no post.

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  2. Mas então como se explica a explosão da dívida pública nos últimos anos? O BPN não chega para tudo.

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  3. Ainda não percebeu, Carlos Albuquerque? Não só fomos "obrigados" a gastar mais (numa primeira fase solicitou-se que os estados "injectassem" dinheiro na economia - até, mais ou menos, se descobrir a careca aos gregos) como se observou um natural crescimento dos gastos com protecção social (desemprego, etc.). Não estou certo se os "novos" parâmetros de contabilizando da dívida (2009?) são para aqui chamados ou se são comparados indiscriminadamente (alguém aqui sabe?). Ou então foi o sócrates. O correio da manhã diz que sim.

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  4. Infelizmente não há só um BPN. Há muitos como as Parcerias Público Privadas, e todos os mecanismos de transferências de fundos públicos para os privados. Há ainda os boicotes às Empresas Públicas para favorecer os privados.

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