A teoria dos custos de transacção (ver I, II, III e IV) proposta por Williamson tornou-se um marco incontornável nos debates sobre as formas de organização da actividade económica. Ao longo das últimas três décadas, têm sido várias as críticas apontadas ao trabalho de Williamson, que vale a pena rever brevemente.
Desde logo, a dicotomia estabelecida por Willliamson (na esteira de Coase) entre empresas e mercados tende a menorizar a enorme diversidade de arranjos institucionais possíveis para coordenar as actividades económicas. Por exemplo, num artigo clássico de 1972, Alchian e Demsetz defendem que a existência de relações duradouras, com transacções repetidas (que segundo Williamson criam incentivos ao fomento da confiança entre as partes de um contrato, impedindo assim o sub-investimento em activos específicos) não são um exclusivo das empresas, podendo também existir no contexto de relações mercantis. Além disso, Williamson nunca explica exactamente em que consistem os mecanismos de resolução de conflitos e de partilha de informação específicos às empresas, os quais as tornariam mais eficazes na prevenção de comportamentos oportunistas.
Por outro lado, tal como Alchian e Demsetz (e a generalidade dos economistas da corrente dominante), Williamson vê os indivíduos como sendo guiados por pelo seu interesse próprio e pela predisposição de se aproveitarem ao máximo dos outros. Esta visão redutora acerca do comportamento individual, ao ignorar a heterogeneidade de motivações para a acção, limita fortemente a compreensão da acção colectiva.
Finalmente, subjacente à teoria de Williamson está a noção de que as empresas existem na medida em que são mais eficientes do que a organização das transacções através do mercado. Ao pressupor que no «início eram os mercados» e que as empresas surgiram para colmatar as ineficiências daqueles, Williamson ignora que as empresas, tal como muitas outras instituições, são construções legais que reflectem as condições e os conflitos sociais e políticos existentes em contextos históricos específicos. Assim, os factores que determinam a sua formação, a sua evolução, o seu funcionamento e a sua continuidade (ou não) dificilmente podem ser explicados apenas com base em critérios de simples eficiência económica.
Não menorizando as críticas, o trabalho de Williamson é parte integrante (e, creio, incontornável) de um esforço colectivo no sentido de trazer as instituições para o centro da ciência económica, o qual nos relembra que a compreensão dos sistemas económicos tem de ir muito além da mera análise das curvas da oferta e da procura (que continuam a açambarcar o imaginário de muitos economistas). Reforçar esta noção é o grande valor deste prémio Nobel.
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