terça-feira, 11 de julho de 2023
Uma certa economia mói e mata
Não tenho qualquer simpatia intelectual pela tentativa de encaixar as instituições no quadro da economia neoclássica, projeto prosseguido, entre outros, por Daron Acemoglu do MIT. No fundo, repete, com modelos, alguns dos pontos mais triviais do institucionalismo económico original, habitualmente combinados com lugares comuns liberais, em livros de divulgação sobre a evolução económico-política.
No entanto, uma certa lógica instrumental pode concluir pela utilidade de economistas convencionais, com poder académico, chegarem a conclusões acertadas, mesmo que já formuladas, com rigor, por outros há muito tempo. Acemoglu foi recentemente almoçar com a excelente jornalista económica Rana Foroohar do Financial Times e disse isto sobre a melhoria das condições das classes trabalhadoras:
“Não foi nenhuma lei económica, mas sim as lutas sociais dos de baixo, em que sindicatos, políticos progressistas e instituições melhoradas desempenharam um papel central.”
Lá está, Ricardo Reis, tudo se desmorona: a convergência do crescimento dos salários com o da produtividade não aconteceu por magia do mercado, mas sim por lutas sociais, cristalizadas em instituições, numa certa fase do capitalismo, no passado, logo em países distantes.
As “mortes por desespero”, por sua vez, são um angustiante fenómeno norte-americano, estudado pelos economistas Anne Case e Angus Deaton (Prémio dito Nobel de Economia) e traduzido numa rara queda da esperança de vida entre homens adultos ainda antes da pandemia. São o resultado de derrotas dos de baixo e da degradação institucional correspondente, induzida pelo capitalismo neoliberal, como acabam por reconhecer.
Por cá, os economistas do cortejo fúnebre da economia portuguesa não descansarão enquanto não importarem este retrocesso civilizacional, através das suas iniciativas liberais.
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2 comentários:
Austeridade mata e a Troika é criminosa!
“A presente análise revelou que, ao comparar as taxas de mortalidade padronizadas por idade entre os países afetados pela crise financeira regional, houve tendências variadas para resultados piores em geral, que foram mais pronunciados no Chipre, Portugal e Grécia.”
"...mudanças quantitativas acentuadas nas tendências de mortalidade e mudanças qualitativas nas causas de mortalidade com um aumento de doenças transmissíveis, maternas, neonatais e nutricionais desde 2010 sugerem que é provável um efeito da redução abrupta dos gastos governamentais com saúde da população."
The burden of disease in Greece, health loss, risk factors, and health financing, 2000–16: an analysis of the Global Burden of Disease Study 2016
https://www.thelancet.com/journals/lanpub/article/PIIS2468-2667(18)30130-0/fulltext#section-3d6acba1-acea-4be2-8dc9-b7e14e5b6583
Mas, Ricardo Reis só é pago para pensar no "mainstream". As outras "coisas" não fazem parte de nenhum manual que o "senhor" tenha estudado, será?
O comissário Gaspar, do tempo da Troika, também pensava o mesmo mas,só acreditou durante dois anos. Depois percebeu que, ha e tal, o desemprego ia aumentar... é preciso ter lata.
Portanto esta gente recusa-se a pensar com o mínimo de "seriedade" assuntos sérios e complexos,
É muito mais "fácil" contar histórias tipo: é o mercado a funcionar e tirar daqui que: se não for assim como é?
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