sábado, 14 de setembro de 2024

Pensar, sentir as pedras, atravessar os rios


Daniel Oliveira assinalou que “o mais brilhante dos libertadores faria hoje 100 anos”. Sem acesso a um brilhantómetro, creio que Cabral foi um dos mais importantes “marxistas orientais”, tragicamente assassinado antes de ter desenvolvido decisivamente a hercúlea tarefa de construção do Estado nacional, rumo ao socialismo. 

Permitam-me um momento de cinismo, nem sou dado a esta atitude: num certo pós-pós-marxismo, nada faz mais por uma reputação do que uma morte tragicamente precoce – Rosa Luxemburgo, Antonio Gramsci, Amílcar Cabral... 

Pela minha parte, estes três pensadores-heróis, cada um à sua maneira, estão sempre na lista de leituras marxistas, ajudando a pensar. Mas confesso que tenho cada vez mais interesse pelos pensadores ainda mais malditos, os que tiveram mesmo que (re)construir um Estado nas mais duras condições, como as que os comunistas têm de enfrentar hoje em dia na Cuba sob bloqueio. 

Gosto mais do Lénine depois de 1917 do que do Lénine com ilusões, ainda que revolucionariamente produtivas, de O Estado e a Revolução. Aprecio, em particular, o Lénine da NEP, do capitalismo de Estado, do socialismo com mercados, do diagnóstico de uma doença infantil, o esquerdismo. Dei algumas voltas políticas, mas estive sempre com o Nikolai Ivánovitch Bukhárine que é dado a ver pelo seu biógrafo norte-americano.

Gosto de pensar com Deng Xiaoping, com os que tiveram de enfrentar escolhas trágicas, definindo novos critérios e forjando novas distinções, tomando, por exemplo, “o desenvolvimento como o duro teste”, sobrevivendo e florescendo em tempos impossíveis e deixando, com o seus erros e acertos espetaculares, ensinamentos “práticos” de altíssimo valor “teórico”.

2 comentários:

  1. «aprecio em particular o Lénine da NEP, do capitalismo de Estado, do socialismo com mercados, do diagnóstico de uma doença infantil, o esquerdismo.» o principiar de uma doença senil, o oportunismo...

    antes infantil do que senil!...

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  2. Os piores comunistas são sempre aqueles que chegam ao poder. Para alimentar a ideia de que "o socialismo não resulta" é importante, antes de tudo, demonizar aqueles que atingiram os seus objectivos.

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