Em primeiro lugar, a política é crescentemente ocupada por gente rica ou pelo menos com rendimentos e ativos muito acima da média e, salvo exceções, com uma muito maior capacidade de empatia para com os da sua classe. A verdadeira exclusão política, de que quase ninguém fala, é a das classes subalternas, como já aqui se defendeu. A ideologia perversa das “qualificações” trabalha neste sentido, tratando como “desqualificados” demasiados portugueses.
Em segundo lugar, toda a conversa elitista de que os políticos “ganham mal” revela quem é o grupo de referência para efeitos de comparação para quem ocupa a esfera pública: os mais ricos, com o seu consumo conspícuo. “A reforma não vai chegar para pagar as minhas despesas”, já dizia Cavaco. Num país brutalmente desigual, este círculo é mesmo vicioso.
Em terceiro lugar, o discurso do empresarialmente correto é tão prevalecente que se torna quase invisível: tudo serve para legitimar o status quo desigual nas empresas, a submissão e apoucamento de quem cria tudo o que tem valor, em favor da farsa heroica dos gestores geniais. Esta farsa contamina o Estado, corroendo a lógica do serviço público.
Em quarto lugar, num país dominado por iniciativas liberais há décadas, só mesmo os queques dos memes, vulgo IL, é que acham que estamos em socialismo. Na realidade, estamos em neoliberalismo puro e duro. Estamos perante as consequências de décadas de redução dos direitos laborais e do poder sindical, correlativos de aumentos dos direitos patronais: paraquedas dourados para os de cima, presumindo-se que os de baixo sabem voar. E daí a conversa peçonhenta do empreendedorismo.
É a base aristocrática desta "nossa" Democracia Liberal: os pobres são pobres, e cada vez mais pobres, porque são pouco qualificados, pouco inteligentes, enfim, uma raça inferior, percebem?...
ResponderEliminarÉ interessante lembrar que os professores contratados a termo pelo Estafo só passaram a receber indemnização por caducidade do contrato de trabalho, como dita a lei, depois de o Tribunal Europeu obrigar Portugal a fazê-lo. Durante mais de uma década este mesmo PS recusou o pagamento deste direito laboral e foi preciso ser obrigado a fazê-lo, sendo que nunca pagaram para trás o que tinham ilegalmente retido.
ResponderEliminarCompare-se essa atitude - que perdura nos contratos a prazo dos médicos internos do internato geral - com o 'horror' que seria não pagar uma fortuna a um qq gestor da classe certa.
É luta de classes pura e dura.