terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Do empresarialmente correto

Os pobres não trabalham porque têm demasiados rendimentos; os ricos não trabalham porque não têm rendimentos suficientes. Expande-se e revitaliza-se a economia dando menos aos pobres e mais aos ricos. 

As indemnizações milionárias de que beneficiam gestoras e gestores de topo da TAP são o resultado do empresarialmente correto, ou seja, da aplicação do neoliberalismo às organizações. A sua lógica redistributiva regressiva, de baixo para cima, foi memoravelmente resumida há quarenta anos atrás por John Kenneth Galbraith. 

Durante a troika, as indemnizações por despedimento foram reduzidas para a generalidade dos trabalhadores e isto para que a pouca vergonha pudesse ter mais facilmente lugar num topo empoderado. O PS aceitou a herança da troika, a redistribuição regressiva de poder operada. As empresas onde o Estado intervém, e infelizmente são cada vez menos, têm cada vez mais mimetizado esta lógica dita privada, ou não fossem os poderes públicos simultaneamente agentes centrais da neoliberalização e um dos seus objetos. 

Um dos truques dos neoliberais, na linha do liberalismo clássico, consiste em tentar separar a esfera pública da esfera das empresas ditas privadas, como se estas últimas não fossem uma construção político-legal com efeitos sociais generalizados. Isto é, como se não fossem atravessadas por relações de poder, como se o que lá se passa não fosse política pura e dura. As cada vez maiores desigualdades dentro das empresas dizem respeito a todos e têm de ser revertidas dentro e fora das empresas, públicas ou privadas, pouco importa. 

O aumento das desigualdades é o resultado do enfraquecimento dos freios e contrapesos igualizadores, sindicais e não só, ao poder dos acionistas e dos seus cada vez mais fiéis aliados na gestão. O resultado é uma desmotivadora e tóxica combinação de arrogância no topo e de medo na base, com benefícios e fardos cada vez mais assimetricamente distribuídos. Até quando vai isto durar?

2 comentários:

  1. No caso da madame Opus Dei (professora na EASE) da TAP é apenas um caso de crony capitalism, ou melhor, de portas giratórias. Com o meu dinheiro e dos outros. O erro dela foi ter ido para o governo. Caso contrário continuava a entrar e a sair, com o dinheiro a pingar, sem ninguém dar por nada. Deve haver por aí muitos mais.

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    1. Esta foi usada para fazer a folha ao Pedro Nuno Santos. O Medina contratou-a, a mando do seu patrão, e armou-se a cilada.

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