sábado, 22 de outubro de 2022

Momento AIG V: UE instada a ajudar os fundos de pensões em situação de stress

No Reino Unido, os fundos de pensões, colocados à beira do colapso pela subida da taxa de juro e consequente deterioração do valor das obrigações que detinham em carteira, obrigaram o Banco de Inglaterra a fazer marcha atrás a todo o vapor, a intervir no mercado e a fazer o contrário do que tinha anunciado, ou seja, a comprar aqueles títulos como forma de lhes sustentar o preço. Veremos o que acontece se aquele banco central regressar à política de subida da taxa de juros e venda simultânea de obrigações, duas opções de política que baixam o valor do colateral. Antecipo dois cenários: acabaram as subidas de taxa de juro ou, sendo estas retomadas, os fundos de pensões implodem. O que acabaram de ler é um trecho de um texto meu de anteontem


Nesse mesmo texto, também dei nota do que se vai sabendo da situação na europa continental: 

Com a subida da taxa de juro imposta pelo BCE e consequente descida do valor das obrigações (juros e preço de uma obrigação variam inversamente), os fundos holandeses, só este ano, já foram forçados a disponibilizar uns adicionais 82 mil milhões de euros de colateral de garantia, noticia o Financial Times, numa curiosa peça que se espraia a explicar por que razão a situação na Holanda e no Reino Unido são, apesar de tudo, incomparáveis, mas que acaba a citar Verstegen, o presidente da associação holandesa de fundos de pensões quando este afirma que há ‘uma necessidade urgente de melhorar o acesso à liquidez’. 

Hoje queria partilhar convosco esta notícia mais recente, também do Financial Times, que dá pelo título ‘UE instada a ajudar os fundos de pensões em situação de stress causada por margins-calls’. 

Mais uma vez, que significa esta linguagem críptica? 

Significa que os fundos de pensões da Europa continental, agora pela voz da Associação Internacional de Swaps e Derivados, reclamam acesso a fundos públicos para fazer face à necessidade de reforçar as garantias de liquidez que decorrem da diminuição de valor das obrigações do tesouro que têm em carteira, diminuição de valor esta que resultou da subida das taxas de juro impostas pelos bancos centrais. 

Repare-se que o ‘instar’ da Associação Internacional de Swaps e Derivados à UE foi divulgado por um fundo de pensões holandês, o fundo APG, que, sozinho, tem cerca de 558 mil milhões de euros (cerca de 2,5 vezes maior do que o PIB de Portugal em 2021) de ativos sob gestão. 

Uma notícia com o cinzento título acima referido tem tudo para passar ao largo da atenção da opinião pública e perder-se na espuma dos dias. 


O clamor, a exigência de acesso a liquidez pública (‘a UE instada a ajudar os fundos de pensões’) está aí nas páginas dos jornais. Ou pagamos agora para evitar os efeitos sistémicos da insolvência destes mastodontes financeiros, ou pagamos mais tarde quando esta se materializar. 

A história repete-se. Agora como farsa. A farsa de subir o custo do dinheiro quando a economia internacional, ainda fragilizada pela pandemia, se vê obrigada a suportar custos energéticos voláteis e crescentes. 

A solução para este monumental imbróglio terá de encontrar-se numa solução negociada para a guerra que é a forma como, excluindo a extinção atómica da humanidade, todas acabam. Uma solução que deveria ser encontrada antes de estarmos confrontados com uma crise financeira com repercussões talvez demasiado reais. 

Esta ideia herética está a par de outras, como a de deixar de contar com fundos de pensões e outras formas de instável financeirização, indissociável das iniciativas liberais deste mundo. No fim, sabemos quem paga as aventuras do capital financeiro.

Momentos AIG: I, II, III e IV e mais este.

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