A subida das taxas de juro dos títulos de dívida pública nos mercados financeiros - deixadas à solta pelo Banco Central Europeu (BCE) depois de abandonar a política pouco neoliberal de controlo dos mercados durante 10 anos - tem uma finalidade primeira pouco abonatória. E com consequências gravosas para todos. Mas esta nova realidade começa a ter bizarras ressonâncias no jornalisno económico.
Os jornalistas económicos poderiam realçar o que está na calha: criar mais dificuldades aos Estados europeus - sem resolver o problema da inflação - que supostamente serão colmatadas com os novos mecanismos previstos, mas que, na verdade, serão acompanhadas pela imposição de novas condicções à execução das políticas públicas nacionais. Ou seja, novas medidas de austeridade. E tudo pode ser agravado com o facto de as empresas de energia terem andado a especular e de se encontrarem sem liquidez suficiente, o que já levou à sua nacionalização em diversos países e que pode transbordar - e é mais uma ressonância presente vinda do passado - para o sector financeiro, o que acabará - como é previsível - por obrigar os Estados a ter de segurar a banca (ler aqui e aqui). Nem se sabe se em Portugal se passa o mesmo...
Mas sobre isto o jornalismo económico nada diz! Silêncio total. Ignorância, cegueira ou... censura?
Tanto, pois, que o jornalismo económico poderia dizer. Mas não. Ainda hoje, José Gomes Ferreira, um dos directores da Sic Notícias, disse em estúdio que a austeridade, como política económica, não é uma opção dos Governos de "fazer mal" aos cidadãos, mas "uma necessidade". Face à subida dos encargos com a dívida, os Estados vão ter de "poupar", ou seja, cortar na despesa pública (leia-se, nos ordenados, nos serviços públicos, nas pensões, etc). Por outras palavras: "não há alternativa". É o velho dito: "Amochem porque nos estão a mandar amochar".
Ora, esquece-se, primeiro, que a política de austeridade sempre foi criticada como sendo a única alternativa. E ainda por cima com alternativas bem mais eficazes. Depois, a História comprovou os maus resultados gerados pela aplicação militante do Governo de direita de Passos Coelho/Portas/Montenegro/Moedas: uma recessão nunca antes vista, um desemprego que subiu em flecha chegando aos valores infernais de 25% da população activa (cerca de 1,5 milhões de pessoas), uma emigração histórica e sobretudo de trabalhadores qualificados, empresas a fechar portas, corte nas despesas públicas que atingiu e empobreceu os portugueses e cujas repercussões ainda são sentidas. Recorde-se - e é mais uma ressonância presente vinda do passado - que parte do corte previsto era nas pensões (ver aqui o barómetro nº5). Finalmente e por isso mesmo, ficou mostrado que a austeridade necesssita de cortar mais do que o previsto para atingir os objectivos orçamentais traçados (ver aqui o barómetro nº7).
Em três anos – 2011, 2012 e 2013 – a ideia era cortar à despesa pública 10 mil milhões de euros e aumentar a receita em outros 10 mil milhões. Ou seja, um esforço de "consolidação" de 20 mil milhões. Só que o resultado foi uma redução do défice de apenas 6 mil milhões de euros: de 15,8 mil milhões (9,1% do PIB) em 2010, para 9,8 mil milhões (5,9% do PIB) em 2013. As previsões falharam porque os orçamentos tiveram um enorme efeito recessivo não antecipado.
O próprio jornalismo económico que inicialmente abraçou, de forma militante, a política de austeridade e o Memorando de Entendimento com a troika, acabou por queimar na praça pública o governo de direita. (ver aqui o Caderno nº7 do Observatório sobre Crises e Alternativas). O próprio José Gomes Ferreira - como é visível no filme em cima - que defendeu os cortes e mais cortes, acabou a fustigar o ministro Vítor Gaspar... Já nem se percebia o que estava a passar-se. No final do filme, Pedro Santos Guerreiro, face ao jornalista estrangeiro atónito sobre como foi possível o povo ter aceite tanta austeridade, tem a estranha explicação de que o povo aceitou bem a austeridade porque foi entendido que era a única forma de acabar com... a austeridade! Faz isto sentido?
Ora, dez anos depois, eis que tudo volta à primeira forma. É mesmo caso para dizer que errar é humano, mas insistir no erro é... jornalismo económico.
Haja paciência!
Considero o comportamento do governo PàF, organizações europeístas não escrutinadas por nenhum povo (como a Comissão Europeia e o BCE) e o do FMI criminoso. Aquilo que tem sido feito aos povos, às economias é criminoso e a Justiça já se devia ter encarregado dos responsáveis pelos crimes económicos contra a humanidade.
ResponderEliminarTenho feito um esforço, por uma questão de liberdade de expressão, para não meter os propagandistas no mesmo saco daqueles que tiverem/ têm responsabilidades governativas mas tem sido difícil... Os propagandistas se esforçam para que os responsabilize como responsabilizo governos e certas organizações "independentes" internacionais.
A comunicação social convencional tornou-se numa inequívoca inimiga dos povos, da Democracia e do progresso humano.
PS: depois disto ler num artigo de opinião que, "nos tempos da troika, Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar abusaram da verdade", é nada perceber de nada.
ResponderEliminarÉ como se olhasse para o que se passou e pensar que o Governo de direita foi muito bom porque disse que havia falta de dinheiro e que se tinha de cortar. E nunca olhar para o disparate e o crime económico que foi cometido, para a desgraça que foi criada e fomentada, para a pobreza espalhada, para a expulsão dos pobres das cidades e do país e para a riqueza mal repartida. É lavar mais branco.