A arrumar papéis, dei com um artigo de João Miguel Tavares no Público de 30 de abril de 2015. Intitula-se «A força do TINA» e é, como seria de esperar, uma laude à inevitabilidade redentora da austeridade.
Diz Tavares: «estando o país nas mãos dos credores, a margem de manobra para lutar contra as políticas que nos são impostas de fora é pouco mais que nula. Daí o TINA. Ou, na língua de Camões, o NHA - Não Há Alternativa». E acrescenta: «para me queixar de um corte numa mão é preciso que o braço ainda lá esteja, mas quando estamos perante uma mão que sangra, dizer ao seu dono "repara na sorte que tiveste em não ter ficado sem o braço" é um discurso insensível e pouco eficaz. Daí as dificuldades mediáticas e políticas do TINA. Mas, claro está, não é por um discurso ser difícil que o seu conteúdo deixa de ser verdadeiro».
Em abril de 2015 era já evidente que a austeridade (dita expansionista), não resolvera - antes agravara - os problemas do país. Que não era com falências, desemprego, perda de rendimentos e empobrecimento (dito competitivo), que pagaríamos a dívida e sairíamos da crise provocada pela finança. Em 2015 era já claro, para quem quisesse perceber, que o «ajustamento estrutural» foi o pretexto para pôr em prática a agenda neoliberal de Passos e Portas, que trataram, aliás, de ir além da troika. No ataque aos serviços públicos para «ir ao pote» (veja-se o SNS), na desregulação laboral e agravamento da precariedade, ou nos cortes sociais e no aumento da pobreza, incluindo a pobreza extrema. Nessa altura já se tinha percebido que a austeridade era uma forca e não uma força (como se viu quando, para começar a preparar eleições, Passos e Portas a suavizaram a partir de 2013). E já se tinha clara noção da disfuncionalidade do euro e do erro crasso da Comissão Europeia, que estupidamente sacrificou, antes de outros, a Grécia.
É verdade que em abril de 2015 ainda não havia uma maioria de esquerda no parlamento, sendo pois natural que Tavares achasse que o PS se posicionaria «dois metros à esquerda do PSD e dois quilómetros à direita do Bloco e do PCP», aconselhando «quem ainda sonha com amanhãs que cantam» a não «ter ilusões: atinar com o TINA é tão só abandonar o estado de negação e dar um passo para sair do buraco». Em abril de 2015, o mito de que a subida dos salários prejudicaria o emprego, por exemplo, ainda não tinha sido arrasado pela realidade, tal como outras ideias falsas que a direita tratou de difundir, na sua «economia do pingo» que não pinga. A questão é que, depois disto tudo, João Miguel Tavares não deu sinais de ter aprendido o que quer que fosse.
Adenda: Como no seu artigo JMT não resistiu à graçola de traduzir para português o acrónimo de TINA («There Is No Alternative»), que resulta em NHA («Não Há Alternativa»), eu também não resisto à piada fácil de dizer que há os jovens NEET e os cronistas NENA (isto é, que «Não Estudam Nem Aprendem»). Tavares é um deles.
Não há alternativa: quantos mais países aderirem à União, (sejam antigos na órbita soviética ou outros), mais últimos sempre seremos!
ResponderEliminarE o carlos não quer refletir sobre as causas disso? é que, salvo melhor opinião, uma delas é essa treta do "não há alternativa" que em bom português quer dizer, "tudo o que está mal, assim deve continuar".
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