quinta-feira, 23 de julho de 2020
Visões
Lembram-se da agenda para a década de António Costa? A visão estratégica de António Costa Silva está condenado ao mesmo esquecimento.
Um plano sério não se prepara assim. Um plano sério pressupõe um Estado com instrumentos de política e com quadros tecnicamente capazes e devotados inteiramente a um trabalho que é necessariamente colectivo, em diálogo com as forças sociais relevantes. Em Portugal, os instrumentos de política foram perdidos, graças à integração. E muitos centros de competência para o planeamento foram deliberadamente destruídos há muito.
António Costa Silva denuncia correctamente a desindustrialização, mas aposta que a reindustrialização se fará à boleia do reforço da mesma integração europeia, num quadro basicamente de globalização, que foi em grande medida responsável por esse desgraçado processo. Pensar em desenvolvimento industrial nesta periferia sem política cambial, sem protecionismo seletivo, sem controlo de capitais, sem canalização do crédito fora da ficção destrutiva da concorrência bancária, é uma quimera.
De resto, e isto não é um detalhe, já que as referências intelectuais contam, devo dizer que fiquei estarrecido com a forma como Karl Polanyi e John Maynard Keynes são convocados no documento de António Costa Silva.
Karl Polanyi foi um invulgar economista político socialista, convencido da necessidade de desmercadorizar e de desglobalizar, de subordinar a economia às prioridades das democracias nacionais, de superar o capitalismo global. Para ele, a criticada mercadorização exigiu uma deliberada acção estatal de cima para baixo e a desmercadorização desejada exigia uma mudança das lógicas da intervenção, vinda de baixo para cima. Karl Polanyi está muito longe da ideia de mudança pendular do Estado para o mercado e vice-versa, ainda para mais quando a forma de intervenção agora defendida é em modo Estado bombeiro, o que paga, mas não altera as relações de poder dentro das empresas capitalistas e o que em vários aspectos reforça a mercadorização, por exemplo em modo extractivista.
Já Keynes e a tradição keynesiana são alvo da maior confusão, afiançando-se que salvou o capitalismo na primeira metade do século, mas que já não é repetível, ao mesmo tempo que se garante que Keynes foi influenciado por algo que não existia na sua época: o monetarismo. Se estamos a falar da teoria quantitativa da moeda, de que o monetarismo de Friedman foi filho tardio, então é caso para dizer que Keynes se lhe opôs denodadamente, em nome de uma visão da economia onde a moeda nunca é neutra, até por causa da incerteza irredutível. O ponto prescritivo de Keynes é o de que a política monetária tem de estar subordinada à política orçamental, sendo desejável uma política de controlo apertado da finança, no quadro de taxas de juro duradouramente baixas, a tal “eutanásia do rentista” que acompanharia a “socialização do investimento”. Esta linha inspirou políticas no pós-guerra, o período de maior prosperidade partilhada no centro até anos setenta, e foi diluída e abastardada com a vitória das correntes neoliberais, mas regressando sempre que as crises, cada vez mais violentas, nos atingem. É uma tradição resiliente neste novo milénio. Infelizmente, é uma tradição institucionalmente proscrita nesta periferia dependente.
Se estas referências fossem levadas a sério, teríamos uma lógica muito diferente de intervenção do Estado e a necessidade de recuperar instrumentos de soberania. Na sua ausência, o que resta por cá, para lá de ficções extractivistas de alto mar, é a mesma economia da oferta de sempre, guiada pelo prazo em que estamos todos mortos, o longo, agora com a retórica do combate às desigualdades e à precariedade, mas sem propostas fiscais ou de legislação laboral progressivas. Afinal, o pacto proposto é entre o Estado e as empresas. Os sindicatos não são tidos nem achados. É sempre preciso perguntar: a quem serve esta visão estratégica?
Lembram-se da "minhoca encarnada" a boiar sobre as ondas na Póvoa de Varzim?
ResponderEliminarDevia ter sido um belo negócio para um sucateiro qualquer.
Lembram-se do parque escolar?
Lembram-se da expo 98?
Lembram-se das autoestradas paralelas a outras autoestradas?
Lembram-se da autoestrada que ficou por concluir entre Beja e Lisboa?
As prioridades são definidas em função de interesses muito particulares, nunca do interesse geral.
Lembramo-nos de tudo isso. De tudo o que um “ anónimo” diz as 23 e 33. Lembrano-nos de muito mais
EliminarPorque quem fala de minhocas deve também falar nos casos bem maiores do que estes, assim arregimentados à pressa
Nos casos que demonstram, não os interesses particulares, mas o modo de funcionamento duma sociedade dominada por esses mesmos interesses, que consubstancia a governança dós mercados
Uma sociedade neoliberal, em posição de cócoras perante uma União Europeia que afina a orquestra ao seu modo, com os acordes triunfais dos cacarejos do centro europeu, com os holandeses como tenores
Mas isso sabe bem o pimentel Ferreira. Por isso vem falar de minhocas
Um excelente texto. Didático e incisivo
ResponderEliminarQue desmonta a farsa, a ignorância, o jogo viciado, os interesses em jogo, a submissão reles, a dependência suja, a desistência, os jogos de cintura, os malabarismos, os floreados mentirosos duma política que não se assume pelo que é, mas que se traveste do que não é
Esta desistência de um outro rumo, esta persistência em caminhos velhos, este retomar de políticas neoliberais travestidas de ignorâncias boçais, terá custos inevitáveis. Para todos nós. Mas também inevitavelmente para quem não soube estar à altura dos tempos que correm.
Porque serão outros a colher os frutos desta traição aos interesses dos trabalhadores. Mas geralmente os povos não perdoam a quem assim trai,quando esta atitude passa também pela traição dos interesses nacionais.
Por também saberem isso, os papagaios neoliberais não tolerarão a limpidez deste texto
O mundo transformado num arquipélago de autarquias, o cenário típico das utopias e mais...
ResponderEliminarUm plano com o dinheiro e o aval de terceiros prepara-se segundo os princípios e as prioridades de terceiros.
ResponderEliminarO ouro 'fascista' que financiou o PREC já se foi há muito ...
Arranjem votos para abandonar a UE e os princípios que a ela sempre estarão ligados.
Não sou dado a teorias da conspiração, mas esta ideia de encomendar uma visão a um visionário, assim como quem esfrega a lâmpada do Aladino, para além dos defeitos explícitos da criatura que o criador produziu (e desses, o João Rodrigues dá-nos aqui conta, de um modo tão claro, que não deixa de irritar alguns saloios encurralados), encerra ainda uma perversidade intrínseca, que reside na ideia salvífica de que é preciso é escolher um bom timoneiro, alguém que sobre as divergências que a democracia sempre encerra, trace a linha e defina o rumo. Um comandante. Alguém, que porventura embriagado em sondagens, acredite, tal como o seu mentor e acólito, que, para governar (para conduzir o rebanho), é mesmo preciso meter coisas na gaveta. Nem que seja a coluna vertebral e uns quantos princípios, porque de socialismo já ninguém ouve falar lá para os lados do Rato.
ResponderEliminarEu só gostava que me indicassem um caso em que uma estratégia nacional de desenvolvimento não tenha dado com os burros na água.
ResponderEliminarO João Rodrigues esquece, muito convenientemente, que o keynesianismo do pós-guerra (acompanhado por um crescimento dos Estados Sociais que Keynes provavelmente não aprovaria) faliu com a dupla crise petrolífera dos anos 70. Não foi substituído pelo neoliberalismo simplesmente devido à perfídia de Reagan ou Thatcher, mas porque falhou...
O Reino Unido abandona a estratégia de desenvolvimento nacional para se juntar à CEE, ou seja, ao Liberalismo Continental Europeu (os Conservadores Britânicos foram os grandes impulsionadores do Mercado Único) porque a sua taxa de crescimento económico era inferior (foi até aos anos 60 a maior Economia da Europa). Apressa-se agora, pelo menos na retórica de Johnson, a regressar ao modelo nacional? Veremos, isto de mudar de ideias todos os 40 anos é capaz de não ser boa política.
A Alemanha e o seu ordo-liberalismo ganharam e o João Rodrigues quer vender-nos instrumentos de soberania que quando aplicados, não funcionam (veja-se o triste destino do governo Mauroy)...
Quanto a Polanyi, julgo lembrar-me de um artigo seu em que defendia que faltava detalhe à visão desse brilhante economista. Ora, justamente, e como de costume, o diabo está nos detalhes...
Jose no seu melhor:
ResponderEliminar"o ouro fascista"
Refere-se com toda a certeza ao dinheiro do plano Marshall, que Salazar mandou devolver com estrondo, segundo o b-a-ba económico de jose. A idoneidade de quem anda a apregoar idiotices sobre o tema está ao nivel do bas fond onde se pescam tais imbecilidades.
Registe-se com algum humor a raiva intrínseca que jose nutre ainda pelo PREC. As transformações sofridas pela sociedade portuguesa foram fundamentais para o salto em frente que Portugal experimentou com o derrube da trampa imensa que asfixiava o país a 24 de Abril.
Em apenas pouco mais de um ano.
E os guardiões do "ouro" roubado ao longo dos anos,que condicionou a miséria do povo português e o saque colonial, viram-se momentaneamente aflitos.
Que diacho.Já não podiam ter as costas quentes pelo aparelho repressivo do fascismo. E era um ver se te avias a congeminar o regresso da besta
Falhou porque houve um picozinho de inflação e vinha aí o fim do mundo, nem que fosse preciso esconder e mentir, incluindo a Wilson, e nunca, mas nunca, admitir a necessidade de desemprego estrutural para a coisa parecer bater certo.
ResponderEliminarO certo é que o ordo-liberalismo ganhou, daí o forte conluio da Alemanha com DBs e VWs, e agora o pânico de Merkel por poder vir a ficar sem mercado. Uma vitória de lixo ideológico que agora a realidade põe a nu para o maior ignorante não evitar levar com ela nas trombas. Excepto, claro, para quem só vê economias completamente abertas ou completamente fechadas, como se nunca tivesse saído da caverna.
Aleluia
ResponderEliminarFinalmente está explicado o verdadeiro motivo do rancor de Jaime Santos a Portugal e o seu enfileirar todo contentinho nas fileiras do neoliberalismo néscio de que esta UE é um instrumento:
"Eu só gostava que me indicassem um caso em que uma estratégia nacional de desenvolvimento não tenha dado com os burros na água"
Eis a razão de JS se ter convertido nesta coisa cinzenta dum pequeno vende-pátrias vulgar?
Afinal não se trata de defender as suas poupanças, como já o insinuara numa altura de particular sensibilidade económica, ferido ainda pelo duplo choque petrolífero
Trata-se de cousa mais alta e complexa
Ora, justamente, e como de costume, o diabo está nos detalhes...
Temos aqui esparramachada a confissão de JS que não conhece um caso em que
ResponderEliminar"uma estratégia nacional de desenvolvimento não tenha dado com os burros na água".
Ora bem. Tardiamente JS vem reconhecer que a estratégia nacional de desenvolvimento que passou pela entrada na CEE deu com os burros na água.
Menos tardiamente JS confirma que a estratégia nacional de desenvolvimento que passou pela entrada no euro, deu definitivamente com os burros na água
Se fossemos mais acertivos ainda poderíamos dizer que a ausência de casos da estratégia nacional de desenvolvimento que não tenham dado com os burros na água, se deveu ao facto dos tais estrategas estarem enfeudados a projectos que deram com os burros na água. Como a entrada no euro. Afinal outros vende-pátrias, com outras responsabilidades, que não estavam interessados em estratégias nacionais de desenvolvimento
Eis aqui também esparramachado o nível argumentativo de JS.
Ele já devia saber que "justamente, e como de costume, o diabo está nos detalhes..."
Custa.
ResponderEliminarCusta seguir o "pensamento" de Jaime Santos sobre os acontecimentos económicos e sobre as transformações que o mundo passou.
Diz JS:
"O João Rodrigues esquece, muito convenientemente, que o keynesianismo do pós-guerra (acompanhado por um crescimento dos Estados Sociais que Keynes provavelmente não aprovaria) faliu com a dupla crise petrolífera dos anos 70. Não foi substituído pelo neoliberalismo simplesmente devido à perfídia de Reagan ou Thatcher, mas porque falhou...
Não vale a pena detalhar as causas para a falência do keinesianismo do pós-guerra. Parece que foi a malfadada dupla crise do petróleo que tombou por aí e fez nascer essa coisa do neoliberalismo. Acontece a quem se mete com o petróleo. Está assim arrumada a questão para JS. O ele contentar-se com isto revela muito da sua "forma de pensar" ou dos esquemas que utiliza para justificar as suas histórias
Importa isso sim referir dois mimos de JS: uma é a alfinetada aos Estados Sociais. Aos estados sociais ou a Keynes. Ele que escolha. (A que ponto já chegámos para ouvir um ex-social-democrata bramar desta forma contra Keynes)
A outra é aquela benção, tão clara,a Reagan e a Thatcher. Não tiveram nada a ver com o assunto. Nem estes nem Hayek, que no seu ódio ao Partido Trabalhista inglês, nas vésperas das eleições de 1945 na Inglaterra, berrava de forma drástica: “Apesar das suas boas intenções, a social democracia moderada inglesa conduz ao mesmo desastre que o nazismo alemão – uma servidão moderna”.( Hayek que aliás não conseguiu esconder a sua compreensão pelo nazismo). Nem interessaram sequer as reuniões em Mont Pèlerin em que se encontravam adversários raivosos do Estado de bem-estar europeu, mas também inimigos férreos do New Deal norte-americano. Nem sequer o golpe fascista de Pinochet.
De facto as crises petrolíferas foram muito bem aproveitadas. As crises do capitalismo permitindo dar passos em frente para nos afundarmos ainda mais na trampa do dito.
Mas a que propósito vem todo este paleio de JS sobre o Keinesianismo? O que terá dito João Rodrigues para provocar uma tão crispada ode funerária a keynes e um afagar terno a Reagan e a Thatcher?
ResponderEliminarJS não suportou, Não suportou que se desmontasse aquele personagem erigido em salvador da Pátria. Mas sobretudo que revelasse que ACS era uma fraude. Uma fraude intelectual, com foros de ignorante vulgar, a confirmar a qualidade destas coisas, escolhidas para estes "trabalhinhos" de "timoneiro"
Preto no branco dirá João Rodrigues: "Já Keynes e a tradição keynesiana são alvo da maior confusão, afiançando-se que salvou o capitalismo na primeira metade do século, mas que já não é repetível...O ponto prescritivo de Keynes é o de que a política monetária tem de estar subordinada à política orçamental, sendo desejável uma política de controlo apertado da finança, no quadro de taxas de juro duradouramente baixas, a tal “eutanásia do rentista” que acompanharia a “socialização do investimento”. Esta linha inspirou políticas no pós-guerra, o período de maior prosperidade partilhada no centro até anos setenta, e foi diluída e abastardada com a vitória das correntes neoliberais, mas regressando sempre que as crises, cada vez mais violentas, nos atingem. É uma tradição resiliente neste novo milénio. Infelizmente, é uma tradição institucionalmente proscrita nesta periferia dependente."
E a como responde a isto visivelmente agastado JS?
Com a confirmação do que JR dissera. JS afirma que o keynesianismo faliu ...e que falhou...
Ora bem.
O que dizer de alguém que confessa que por ter, na sua perspectiva, falhado um determinado modelo, este se encontra morto e enterrado,desprezando todas as contribuições deste, as suas tradições,a sua escola e a própria realidade?
Mais.
O que dizer de alguém que arruma as botas, que guarda debaixo dos braços os seus princípios ditos sociais-democratas e parte para outra, dizendo simplesmente que o "neoliberalismo ganhou"
E vai abraçar o ordo-liberalismo e a Alemanha e as grilhetas de Bruxelas e todo contentinho proclama a supremacia dos "sistemas democráticos liberais", esquecendo
que a democracia em si mesma – como explicava incansavelmente Hayek – jamais foi um valor central do neoliberalismo. A liberdade e a democracia, dizia Hayek, podiam facilmente tornar-se incompatíveis,se a maioria democrática decidisse interferir com os direitos incondicionais de cada agente económico de dispor de sua renda e de sua propriedade como quisesse.
Heil mercados
Ou seja. JS enterra Keynes, grita que o rei está morto, volta-se presto para o novo rei e berra: viva o rei.
E fica lá todo pimpão, consolado
Quando o Brexit triunfou, JS teve outra atitude. Partiu para a luta ( pelo menos com o teclado). Curiosamente no sentido de defesa dos bons padrões euro liberais dos trastes euroinómanos.
Será que se estivesse na Alemanha em 1933, também se teria rendido,como agora se rende desta forma mimosa ao triunfo do neoliberalismo?
Isto é aquilo que qualquer de nós está a pensar?
Infelizmente há mais.
ResponderEliminarE aqui o que se torna patente "não é o diabo dos detalhes". Mas pura e simplesmente a má-fé e a aldrabice pura e dura.
JR ficou "estarrecido" com a forma como Karl Polanyi e John Maynard Keynes são convocados no documento de António Costa Silva.
Nas palavras de JR "Karl Polanyi foi um invulgar economista político socialista, convencido da necessidade de desmercadorizar e de desglobalizar, de subordinar a economia às prioridades das democracias nacionais, de superar o capitalismo global. Para ele, a criticada mercadorização exigiu uma deliberada acção estatal de cima para baixo e a desmercadorização desejada exigia uma mudança das lógicas da intervenção, vinda de baixo para cima. Karl Polanyi está muito longe da ideia de mudança pendular do Estado para o mercado e vice-versa, ainda para mais quando a forma de intervenção agora defendida é em modo Estado bombeiro, o que paga, mas não altera as relações de poder dentro das empresas capitalistas e o que em vários aspectos reforça a mercadorização, por exemplo em modo extractivista."
A como responde a isto JS?
"Quanto a Polanyi, julgo lembrar-me de um artigo seu em que defendia que faltava detalhe à visão desse brilhante economista. Ora, justamente, e como de costume, o diabo está nos detalhes..."
Bom. Seria bom JS fazer mais do que "julgar lembrar-se" e apontar mesmo esse tal artigo. Todavia o ridículo da coisa é que mesmo dando de barato a referida "falta de detalhe" de K.Polanyi, não se percebe como é que tal facto contradiz o dito agora por JR
É assim inadmissível a referência de JS ao "justamente, e como de costume, o diabo está nos detalhes..."
Porque o que os detalhes nos mostram é que JS tem que recorrer à aldrabice para defender ACS. Impotente, JS não tem mais nada a mostrar senão "isto". Nem uma palavra em defesa do ignorante ACS,senão esta aldrabice idiota e néscia
(Dois excertos de textos de JR em que este se refere a Karl Polanyi:
"Cruzar Marx com Keynes ou com Polanyi é o que eu e muitos outros aqui propomos. Talvez isto seja útil para pensarmos em alternativas. Institucionalismo radical é um dos nomes deste pensamento socioeconómico e político forçosamente eclético. Permite-nos compreender as variedades do capitalismo em mutação, primeiro passo para pensarmos os socialismos possíveis como processo, sublinho a ideia de processo, de socialização e democratização da economia que, como afirma Jorge Bateira, reconhece a necessidade da pluralidade e da plasticidade institucionais."
"Este século é só para os vencedores, para os que prosperam no meio da estagnação. Eu chamo-lhes lutas de classes, assim no plural, quando me lembro de Karl Marx, e movimento de expansão da globalização liberal e contramovimento de protecção social, quando me lembro do meu outro Karl, o Polanyi. E de que lado estão? Ou julgam que já não há lados?"
Os lados escolhidos por JS parecem a cada dia que passa mais claros. Escusava era de fazer estas cenas de aldrabão de feira
De facto, o diabo está mesmo nos detalhes. Dispara-se sem hesitação que o keynesianismo do pós-guerra faliu com a dupla crise petrolífera dos anos 70. Contudo, não é referida a redução das taxas de crescimento e lucro ao longo da década de 1970 nos Estados Unidos (e na Inglaterra), que haveriam de originar a experiência da estagflação bem como o abandono do sistema de Bretton Woods, gerando-se aliás aí, o epicentro para a financeirização do sistema capitalista à escala mundial. O esforço financeiro provocado pelas guerras da Coreia e do Vietname nas finanças dos EUA, provocaram problemas crónicos, cuja solução resultou aliás em larga medida dos acordos estabelecidos em 1971 e 1973 com a OPEP, que aceitou cotar o seu crude exclusivamente em dólares, o que permitiu aos EUA resolver em simultâneo dois problemas: a manutenção da hegemonia do dólar – porque a necessidade dessa moeda para assegurar as indispensáveis importações de petróleo obrigava todos os outros países a negociar com eles – e o acesso a energia a preços absolutamente ridículos. Foi este ambiente que propiciou as bases a partir das quais se iniciou a guerra sem quartel às políticas Keynesianas e ao Estado social enquanto modelo de redistribuição da riqueza, num processo que se acelerou com o desmantelamento do campo socialista, como é aliás reconhecido hoje em dia de forma pacífica. Por conseguinte, o Keynesiamismo não morreu de morte natural nos anos 70, 80 ou 90, mas foi antes vítima de homicídio, cometido aliás de modo absolutamente premeditado, já que a sua morte era vital para contrariar a tendência para o decrescimento da taxa de lucro do capital.
ResponderEliminarDo mesmo modo, a União Europeia e o seu congénito estabelecimento de um paradigma supra-nacional (e sobre isso, leia-se Hayek nos anos 30 do século XX - Individualism and Economic Order - a defender esse modelo, sobretudo como antídoto contra os perigos e inconvenientes da democracia de massas) constitui de certo modo um resquício de deslumbramento bacoco com as oportunidades do "mundo global", que, apesar da tragédia permanente em que o actual capitalismo de casino se converteu, não deixa ainda assim de impressionar e seduzir algumas figuras cá da nossa praça. Daí, o horror permanente a quaisquer instrumentos soberanos e a políticas nacionais, dado o seu carácter antagónico com esse universo de "janelas de oportunidade". Infelizmente, Eça de Queiroz já morreu há muito. Caso contrário, estou mesmo convencido que era homem para dedicar uma oportunas linhas a essa malta.
Mais uma frase lapidar que revela a qualidade do seu autor:
ResponderEliminar"Um plano com o dinheiro e o aval de terceiros prepara-se segundo os princípios e as prioridades de terceiros."
Por aqui passam dois vectores do pensamento filosófico de jose, que o tem acompanhado ao longo dos anos:
-A obediência ao chefe, sobretudo quando o chefe é o dono do Capital. (Adivinha-se até a posição curvada e deferente)
-O vendilhão de Portugal, sobretudo quando o que está em causa é a perda da nossa soberania.
...qual prestamista avaro e boçal para maior grandeza, proveito, lucro e rapina, em função das "prioridades dos terceiros"