Depois dos foguetes em Bruxelas, começou o bombardeamento em Lisboa.
Diz Marcelo Rebelo de Sousa: “Portugal nunca recebeu tanto dinheiro para um período como este (...) é uma oportunidade única (...) espero que haja noção de que é irrepetível”. Diz António Costa: “No conjunto, nestes dez anos, Portugal terá de executar um total de 57,9 mil milhões de euros. Obviamente é um enorme desafio”. É “uma resposta europeia robusta”, “é um aumento de 37% relativamente ao anterior período de programação”. “Se tivermos em conta que anualmente Portugal executa entre 2 a 3 mil milhões por ano, que o volume agora disponibilizado exige uma execução média de 6 mil milhões por ano, obviamente (...) fica claro o esforço que representa para o país”. A repórter da Sic Notícias mantém o discurso bélico: “A bazooka europeia dá a Portugal munições que nunca teve ao alcance”.
Será assim? Não é.
Primeiro exercício: Quanto da União Europeia Portugal recebeu no passado?
Em 2000, Portugal negociou para seis anos um total de transferências de 33.187 mil milhões de euros de fundos estruturais. Veja-se o texto de Luís Madureira Pires, “30 anos de fundos estruturais (1986-2015)” (quadro 1). Ora, os valores de 2000 não são comparáveis com os de 2020. Usando o actualizador do INE, obtém-se que nessa década Portugal recebeu a preços de hoje – sem pompa e circunstância, e sem qualquer pandemia – 46.750 milhões de euros de fundos estruturais! Ora, para 2021-2027 Portugal, também para seis anos, vai receber menos do que isso - 45.100 milhões – já integrando 15.300 milhões de apoio por causa da pandemia e 29.800 milhões de euros de fundos estruturais!
Ou seja, este acordo não foi uma vitória do Governo. Foi uma derrota face ao que se conseguiu em 2000. Apenas em termos de fundos estruturais - os tais 29.800 milhões de euros - ficou apenas um pouco acima do quadro 2014-2020 (que está ainda por executar substancialmente) e muito abaixo de todos os outros quadros.
E como este acordo não foi uma vitória, logo se arranjou na secretaria uma forma de o ser. Se somarmos as verbas do quadro comunitário de apoio de 2014-2020 que se receberá até 2023 – 12.800 milhões - então – Sim! Conseguimos! – Portugal afinal dispões de 57.900 milhões. Sim, mas isso não para seis, mas para 9 anos.
O que vemos se fizermos comparações em termos de média anual? Foi outra vitória?
Como se vê, a média anual da próxima década – em valores actualizados a preços de 2019 – está muito longe do verificado nos primeiros quadros comunitários de apoio. Portanto, nova derrota. A tal bazooka europeia ficará aquém das outras bazookas passadas que nos trouxeram até aqui à espera de novas “munições”.
Dir-se-á que a partir de 2027 além dos 12.800 milhões transferidos do passado haverá um novo quadro comunitário e que, por isso, ter-se-ia de entrar em linha sde conta com esses valores também. Mas será assim? E se houver será suficiente para cobrir a diferença com os quadros comunitários de 1994-1999 e de 2000-2006? Para isso, o próximo quadro comunitário teria de crescer consideravelmente...
Qual a razão então de tanta euforia com a vinda dos dinheiros comunitários? Não se esqueça de que a vitória que parece ter sido o quadro comunitário 2000-2006 trouxe-nos o pântano, o tal que levou António Guterres a demitir-se de primeiro-ministro ao menor pretexto (derrota nas autárquicas de 2001).
Segundo exercício: Quanto é que efectivamente Portugal receberá da UE?
O montante das transferências programadas não representa aquilo que ficará efectivamente no país. Portugal contribui para o orçamento comunitário e tem vindo a contribuir cada vez mais. Ou seja, se os montantes de transferências não são o tal salto em frente que nos permitirá programar o futuro, então muito menos o será depois de financiarmos os cofres comunitários, o que torna cada vez mais complicado acudir aos custos da pandemia e depois financiar o plano da pólvora com que o Governo tanto embandeira em arco.
E nunca esquecendo que esse montante fica ainda abaixo do recebido em termos líquidos no quadro 2000-2006, sem qualquer apoio à pandemia!
Como se pode ver, neste gráfico a preços de hoje, a ajuda comunitária está cada vez mais frugal, tardia e - nunca esquecer - agarrada a um mecanismo de condicionalidade. Já não bastava ser insuficiente, como ainda nos poderão vir dizer que não entregam o dinheiro se não fizermos as tais reformas que, no passado, apenas trouxeram mais pobreza e desigualdade (pacotes laborais, apoios milionários à banca, cortes nos investimentos pública, na saúde, etc.).
Concluindo: é verdade que "Portugal nunca recebeu tanto dinheiro"? Não, não é!
A alemanha está-nos a emprestar dinheiro para que alguns portugueses comprem carros alemães.
ResponderEliminarNo fim estaremos pior.
A euforia do Presidente Martelo e da comunicação -manipulação- social deve-se ao facto de eles serem os beneficiários dos fundos europeus e do euro-liberalismo.
ResponderEliminarO empobrecimento da larga maioria da população portuguesa vai continuar, agora ainda mais agravado com a crise Covid19.
A esmagadora maioria da população portuguesa não recuperou da crise falsamente intitulada de "dívidas soberanas", e também não vai recuperar da crise Covid19...
NÃO VAI RECUPERAR!!!
Nós estamos em processo degenerativo há décadas, não se vai inverter esta situação com falinhas mansas.
O "europeísmo" (que é essencialmente neoliberalismo) é uma doença que nos está a matar.
Mas entretenham-se com os "europeístas" Poucochinho Costa e Beato Martelo no novo TVI-Lixo da multimilionária Cristina!
Qual é a credibilidade de um Governo que não tem qualquer despudor de não dizer a verdade?
ResponderEliminarComo diz o povo, são pobres e mal-agradecidos. Saiamos da UE e do Euro que Portugal fica ao nível da vossa querida Albânia socialista. 1/3 dos holandeses quer sair da UE, já está farto de financiar a festa alheia.
ResponderEliminarUm texto muito claro, didático, explicativo
ResponderEliminarIrrefutável?
Parece que sim. Um, habitualmente obcecado pela indústria automóvel alemã (a holandesa é inexistente), reduz as coisas à sua visão automobilística.
Também se esquece de ler o texto,sobretudo no que se refere ao "bombardeamento" citado por JRA.
Não é só o governo que não diz a verdade. É Marcelo, é a reporter da SIC, são os media em geral, é o PSD, é a trupe europeísta neoliberal fundamentalista a venderem-se,enquanto vendem a canção holandesa
Tanta gente com despudor
Podemos falar também de empresas holandesas.
EliminarComo a philips, que vai vender aparelhos de rx, tac, rm e mn para os hospitais públicos e privados.
Que os privados vão pedir dinheiros aos bancos para pagar os rx.
Que os bancos vão ficar cheios de calotes.
Que o contribuinte vai ficar sem o subsídio de férias, sem o subsídio de natal e sem parte do salário para pagar o "bombardeamento".
Lambem os beiços pelo empréstimo a pagar pelos portugueses
ResponderEliminarE lambem pelos lucros a arrecadar
O neoliberalismo continua ao assalto.
E a mentir sem qualquer pudor
A Philips vai vender aparelhos aos hospitais públicos e aos privados
ResponderEliminarE?
E os privados vão pedir dinheiro?
Mas porquê pedir dinheiro,se o dinheiro lhes é dado de mão beijada, mercê dos acordos com os sub-sistemas de saúde,em que o Estado entra com a maior parte do capital? E mercê das PPP defendidas por tudo o que anda com a mão invisível no bolso?
E o contribuinte é que vai ficar sem o subsídio de férias e de Natal e sem parte do salário?
O contribuinte?
Este é tão aficionado,que até para se passar pelo que não é, repete assim o paleio do "contribuinte".
Não consegue esconder o very typical da tralha neoliberal e tem receio de usar a palavra "trabalhador".
João aonio eliphis pimentel ferreira perde, quando se lhe denunciam os passos em falso. Adivinhe-se porquê. E o quê
O Fazi fez as contas para a Itália. É de rir tanto festejo.
ResponderEliminarhttps://translate.google.com/translate?sl=auto&tl=pt&u=https%3A%2F%2Fsinistrainrete.info%2Feuropa%2F18338-thomas-fazi-recovery-fund-un-mes-all-ennesima-potenza.html
Não seria natural recebermos menos do que no passado dado o Brexit? Mas sim, claramente entraram em histeria por terem recebido mais do que estavam à espera e entraram em exageros.
ResponderEliminarNão, não seria natural recebermos menos
EliminarE não, claramente não entraram em histeria. Limitam-se é a branquear as coisas e a dourar a pílula
Porque os factos são lixados. E a tralha neoliberal vende o peixe podre como se novo fosse
Mas isto já tinha sido explicado ao joão pimentel Ferreira
Um muito didático e esclarecedor texto de Fazi
ResponderEliminarQuanto ao "natural" recebermos menos... Essa deve ter sido inspirada nos preceitos holandeses lá da terra
A questão gira à volta da publicidade enganosa feita pelos nossos euroinómanos de serviço. Que não passam pelas coisas "naturais" que trazem o Brexit à ilharga.
Quanto ao terem recebido mais do que estavam à espera... Essa deve ter sido também inspirada exactamente nos mesmos preceitos holandeses lá da terra.
A distribuir o quinhão para se ficar com a parte de leão, eis a missa do holandês pimpão
É natural receber menos do orçamento Europeu, porque é o que é, já não é natural chamar a isto um passo ao federalismo, ou achar que dá para palitar a crise que mal começou.
ResponderEliminarPois é, aparentemente não entraram em histeria porque até é verdade que recebemos mais do que no passado. Mas mais importante que isso é que o povo português ainda tem opções, como deixar de comprar carros alemães e deixar de votar em partidos neoliberais só porque têm "social[ista]" no nome.
ResponderEliminarIsso mesmo.
ResponderEliminarApesar de joão pimentel ferreira dizer uma vez que se entrou em histeria e agora dizer que não, o importante é de facto denunciar o fogo fátuo de tudo isto.
Porque a questão não são os carros alemães ou holandeses de que nos falam para nos atirar areia para os olhos.Nem os neoliberais que se fazem passar por aquilo que não são.
A questão é bem mais funda e complexa.Porque vai ao âmago do que é a UE, de como funciona e a quem serve
E não são as patacoadas dos carros alemães ( ou holandeses) que nos devem afastar do que de facto é fundamental