quarta-feira, 1 de julho de 2020
Tendências na opinião?
Bem sei que um Público de Sábado já só serve para embrulhar peixe, mas antes disso vale a pena ainda comentar dois artigos, até porque podem, haja optimismo em tempos tão sombrios, sinalizar tendências no campo da opinião.
Em primeiro lugar, Paulo Pedroso, um intelectual social-democrata, lembrou-se, num notável artigo, já aqui referido, “do fantástico livro de Engels sobre a situação da classe trabalhadora em Inglaterra em meados do século XIX.” A social-democracia precisa realmente de retomar o melhor da tradição marxista.
O livro de Engels permanece como um testemunho vívido, profundamente objectivo e empático, da situação social em Manchester em plena Primeira Revolução Industrial, uma cidade onde a esperança média de vida era inferior à da Inglaterra no seu conjunto e onde um operário podia esperar viver pouco mais de vinte anos nos anos quarenta do século XIX, dadas as epidemias, a habitação insalubre, a má alimentação, a poluição ou os constantes acidentes de trabalho. O capitalismo puro e duro em toda a sua mortífera compulsão. E não me venham com o longo prazo, até porque aí o capitalismo foi sendo moldado pelas lutas sociais e pelo reformismo do medo, tornando-se menos puro.
Aproveito para lembrar também o mais tardio livro Para a questão da habitação de Engels, que de resto inspirou um livro recente de economia política sobre A nova questão da habitação em Portugal. Ela aí está em plena pandemia. Não se regressa ao capitalismo do século XIX, mas há retrocessos preocupantes em curso e toda uma economia convencional que os tem justificado.
Em segundo lugar, também no Público de Sábado passado, a questão social que salta à vista leva João Miguel Tavares a uma surpreendente primeira ruptura com o liberalismo:
“Como seria de esperar, a pandemia europeia começou nas estâncias de ski finas de Itália e acabou nos bairros degradados das zonas metropolitanas (…) Os surtos que supostamente nasciam nas festas de betinhos desgovernados, afinal pegaram de estaca nos bairros pobres, na construção civil, nos transportes suburbanos lotados; nos meios onde o gel desinfectante é um luxo e o distanciamento social uma miragem. O problema é estrutural, não é individual.”
Repito o que aqui escrevi em Março:
Lembram-se da economia do pingo (trickle-down economics), aquela que dizia que os ganhos dos ricos iriam mais cedo ou mais tarde beneficiar os pobres? Pouco importa, é uma ideia que já foi há muito para o caixote do lixo da história intelectual, dados os estudos económicos sobre a desigualdade. Entretanto, a economia política do pingo pode ter, isso sim, uma aplicação na transmissão da covid-19: o vírus parece descer em cascata pela pirâmide social abaixo, dos globalistas, também designados de passageiros frequentes, geralmente mais ricos, para os enraizados, os que não saem do mesmo sítio, geralmente mais pobres.
E agora pergunto: o que resta da economia política liberal, para lá de gritinhos genéricos, sem economia do pingo e, ainda para mais, com o reconhecimento da realidade da sociedade, bem mais do que um somatório de indivíduos, ou não fossem os problemas realmente estruturais e logo só passíveis de resolução através da acção colectiva?
Se a intelectualidade social-democrata retomar a ligação ao marxismo e se a liberal, ao invés de ir para o fascismo, como costuma acontecer nas periferias em tempo de crise, virar para a social-democracia, como por vezes aconteceu no centro, nem tudo estará perdido.
Os meios de manipulação social, como o jornal de "referência" Público, sempre foram cruciais para o avanço dos interesses oligarcas. Seja a austeridade ou os crimes de guerra, como o do Iraque, a manipulação social ajudou e de que maneira!!
ResponderEliminarÉ ingenuidade ter optimismo na comunicação social, esta não existe para informar, existe para manipular.
Daqui a nada os meios de manipulação social vão voltar à carga com a propaganda da austeridade. Os terroristas dos défice, como o "muito sério" Manuel Carvalho, estarão mais uma vez, sem contraditório, na TV e jornais a nos contar como não há mesmo alternativa e como tipos como João Rodrigues são extremistas por defender que Portugal tem que reaver o seu Banco Central e o pôr ao serviço do desenvolvimento do país...
As forças progressistas têm que ser revitalizadas para que possam derrotar Neoliberalismo. E isto também se faz criando meios alternativos aos meios dos oligarcas, não é fácil mas tem que ser!
Não me parece que um social-democrata ou mesmo um liberal seja obrigado a tomar apenas em consideração a opinião daqueles com quem concorda integralmente. Estou certo que Pedroso nunca deixou de ler Engels... E que o João Miguel Tavares é suficientemente inteligente para perceber a natureza estrutural do problema da vulnerabilidade das classes mais desfavorecidas face à pandemia. As soluções que ele propõe são, naturalmente, outras...
ResponderEliminarMas as coisas poderiam melhorar ainda mais se os marxistas se lembrassem de, de uma vez por todas, aceitar que a desigualdade não se resume só à desigualdade económica e que sim, o fim da URSS e do Bloco de Leste correspondeu para os povos da Europa de Leste ao fim de uma servidão. E, já agora, que os fins não justificam os meios. De nada vale copiar o que de pior o capitalismo tem em termos de repressão, destruição ambiental e esmagamento de criatividade individual em nome da sociedade sem classes. A Justiça, João Rodrigues, nunca se faz por meios injustos.
Esse elogio recorrente que faz do medo sofre de um grave senão. Se você protestar que eu o trato de maneira injusta, posso dar-lhe razão e mudar o meu comportamento. Se me encostar uma lâmina à garganta, a única coisa em que vou pensar é como é que me vou livrar da ameaça e certificar-me que o faço de maneira duradoura. A violência não é um exclusivo dos revolucionários. Lembrem-se sempre do destino de Robespierre.
Quer seja por casualidade, quer seja intencional, a chegada da pandemia covid-19 veio confirmar aquilo que já se sabia, desde que o aquecimento global se mostrou em todo o seu "esplendor"; a saber, o insustentável peso do sistema capitalista para o planeta em geral e para a humanidade em particular.
ResponderEliminarSe foi intencional, a China terá tudo programado e será então apenas preciso esperar pelo próximo episódio (que até parece que já está na calha e é um novo vírus, de origem suína; será este o triunfo dos porcos?...).
Se foi intencional, a China até conseguiu prever como se comportaria a incrível liderança do seu maior obstáculo à liderança mundial (...por falar em "espécimes" pouco recomendáveis...)
Esperemos que não seja intencional...
«o capitalismo foi sendo moldado pelas lutas sociais e pelo reformismo do medo, tornando-se menos puro»
ResponderEliminarA tecnologia e a produtividade que o capitalismo gerou em nada condicionou a sua evolução?
Para os crentes só a luta salva! Não seguramente da miséria não capitalista.
Este Jaime Santos, jovem turco que por aqui pontua com o propósito único de nos lembrar (segundo a sua impreparada e preconceituosa leitura da História) que a queda do chamado Bloco de Leste foi não apenas uma inevitabilidade histórica, mas por sinal, também o momento que marcou o seu fim (para evocar Francis Fukuyama, que entretanto, enfim, lá se viu obrigado a rever essa sua posição tão tremendista, reconhecendo que talvez tivesse havido algum exagero na afirmação), não é verdadeiramente alguém que acrescente valor ao debate ou que seja sequer capaz de copiar uma ideias alheias mas com alguma actualidade. (Re)leiam-se as Selecções do Redaer's Diggest dos anos 50 e 60 do século XX e lá encontramos os Jaimes Santos da época a proclamar que só "o fim da URSS e do Bloco de Leste corresponderão para os povos da Europa de Leste ao fim de uma servidão", sem se dignarem sequer brindar-nos, todos esses Jaiminhos de pacotilha, com uma referenciação objectiva do antes e depois dessa libertação salvífica. Com dados concretos: na educação, na saúde, na desigualdade social, na segurança dos indivíduos (a tal promessa do berço até à cova, pela qual os sociais-democratas de pacotilha vêm rasgando veste há décadas, com o sucesso que todos reconhecemos), etc., etc., etc. Enfim, mais uma caixa de ressonância, que, como todas as suas congéneres, está completamente vazia por dentro, sendo essa a condição para produzir tanto ruído de cada vez que é manipulada.
ResponderEliminarJaime Santos confere um perdão a Paulo Pedroso. Este anda a ler Engels. JS não tem outro remédio se não se calar momentáneamente com a sua histeria anti-marxista.
ResponderEliminarHá coisas que custam a engolir
Infelizmente é sol de pouca dura. Porque volta aos chavões do costume , sobre a servidão e a URSS.
O medo que o Capital tinha da URSS permitiu avanços no Ocidente sob o ponto de vista social. E só um tipo completamente inculto ou fanático o pode desmentir
As coisas infelizmente não melhoram com o passar da escrita.
ResponderEliminarPorque agora se tornam patéticas.
Agora temos JS a confirmar que se porta da maneira como se comporta. E a oferecer uma sua mudança desde que.
O que é isto?
A confirmação por JS que o próprio é injusto. E a mercadejar a sua mudança ( para justo), se JR deixar de ter a acutilância que tem
Patético e deprimente.A mediocridade destas "elites" convertidas ao neoliberalismo ( e que não lêem Engels) assusta
O que não assusta é todavia a frase de JS:
ResponderEliminar"A violência não é um exclusivo dos revolucionários"
Não assusta porque dá lugar a um misto de comiseração e de gozo
Ó JS, quantos séculos de violência das classes possidentes? Atroz e sem perdão?
Por quem nos quer tomar JS?
( deixemos para lá esses conceitos de "justiça" . Quase que se adivinha que JS ainda deita lágrimas pelos esclavagistas romanos ou pelos absolutistas que foram derrubados pela Revolução Francesa.
A liberdade, Igualdade e Fraternidade ainda lhe devam fazer mossa. Quanto mais Engels)
Ao comentário de joão pimentel ferreira, travestido de anónimo,não há que dar qualquer troco
ResponderEliminarA boçalidade resume o seu conteúdo. Afinal é apenas uma imitação grosseira de Trump,a tentar empurrar com a barriga a responsabilidade para a China.
A tentativa do triunfo dos porcos.
A análise centrada nas desigualdades económicas é um daqueles exercícios circulares em que há ricos porque há pobres e há pobres porque há ricos; a isto se resume a essência do marxismo.
ResponderEliminarO saber-se porque alguém sai da pobreza ou perde a riqueza nunca interessa aos marxistas que chafurdam no seu universo de algozes e vítimas, no qual sempre se imaginam nas hostes que, extinguindo os ricos, salvam o mundo da pobreza.
Se bem me lembro, de há muito abandonaram a utopia da ausência do Estado, e tudo é no presente dirigido ao seu gigantismo, que o mesmo é dizer que é dirigido à obliteração de memórias e das realidades do presente que reproduzem essa mesma opção.
Se lhes acrescentarmos o nacionalismo em que envolvem a sua visão do mundo, logo se percebe porque as constantes peregrinações ao ambiente de há dois séculos, que forjou as crenças que reclamam como suas; nas palavras, para esse tempo, dos intelectuais desse tempo, buscam uma coerência que a todo o tempo a realidade lhes nega.
O João Miguel Tavares está por agora - e enquanto for preciso para garantir aos privados apoios do Estado - a negar tudo o que andou anos a afirmar (como a importância de iniciativa privada e o perigo que o Estado representa), mas assim que a economia começar a melhorar o tipo vai esquecer de imediato estes arroubos de social democracia e atacar de novo o Estado como a fonte de todos os males na nossa sociedade. As ideias estão ao serviço de interesses para o JMT, daí talvez elas serem sempre tão superficiais.
ResponderEliminar«As ideias estão ao serviço de interesses».
ResponderEliminarHaverá frase mais marxista?
Jose fala em miséria "não capitalista"
ResponderEliminarEstranha frase. Estranha mas cabotina frase.
Do Haiti à Guiné, do Afeganistão à Guiana o que se desenrola diante dos nossos olhos é a miséria capitalista
(Falará depois em "frase mais marxista"
Mas para este tipo de idiotices já nem vale a pena dar troco)
Deixemos jose salivar indisposto com a palavra "luta". De crentes e de crendices, bem exemplificados nos estudos anatómicos profundos que jose fez de Salazar, já todos temos a nossa conta.
ResponderEliminarMas não pode passar sem uma referência mais aprofundada o "chafurdar" (atenção que a palavra é dele) do Jose sobre os " estudos circulares"
"há ricos porque há pobres e há pobres porque há ricos; a isto se resume a essência do marxismo."
Bom.Chegados aqui temos a suspeita que jose se prepara para nos brindar com mais um dos seus romances cómicos em torno das qualidades físicas do seu idolatrado ditador de voz de cana rachada.
Onde jose tirou os seus estudos básicos? Ou esta raiva contra o marxismo obnubila-lhe de tal forma o raciocínio que só lhe saem estas pérolas?
Que forma tão deliciosa de mostrar que não gosta que denunciem as desigualdades sociais
Chama-lhe de exercícios circulares.
Que forma tão pateta ( é o termo ) de tentar confundir classes económicas com classes sociais
Que forma tão tão tão pueril de riscar do seu palavreado conceitos como meios de produção, mais valias, exploradores, explorados. Há os pobres e os ricos... assim desta forma circular
Se bem nos lembramos jose está a tentar aldrabar,contando a estória da carochinha para frequentadores de blogs manhosos. E a tentar justificar as desigualdades sociais desta forma canhestra.
Esta deturpação dos conceitos vem de longe
Porque será?
Pode-se argumentar que é pura pesporrência ideológica.Pura ignorância.Pura manipulação
ResponderEliminarPuro aldrabão?
Não. De puro,Josenão tem nada. Como o capitalismo ( ou como o salazarismo) foi sendo moldado pelas lutas sociais e pelo reformismo do medo, tornando-se menos puro.
E é esta uma das bases para lhe saírem tais asneiras, a validar alguma preocupação pelas suas enormidades.
Há limites para a ignorância. Dirá jose:
"Se bem me lembro, de há muito abandonaram a utopia da ausência do Estado"
Mas que diacho é isto?Quem abandonou? Que mistura folclórica de conceitos é esta? Que ignorÂncia é esta?
Que gigantismo de treteiro é este?
Um obliterador de memórias quando se fala no acanalhado salazar ou um teorizador da teoria dos pingos em versão circular para ver se passa?
É a isto que está reduzido jose?
Se lhe acrescentarmos o nacionalismo salazarento do "para angola e em força" em que jose envolve a sua visão do mundo, logo se percebe o porquê das suas constantes tentativas de rasurar o passado. Não se trata de tentar forjar as crenças que reclama como suas. Trata-se de tentar limpar a trampa ideológica dos que deixaram um rasto de crime, de miséria e de morte.
ResponderEliminarUm detergente branqueador, em modo de acção desculpabilizante. Um cúmplice a tentar apagar os rastos de sangue que o fazem perder qualquer veleidade de coerência
Essas teorias tão idiotas, de treteiro encartado, sobre a essência do marxismo e sobre os exercícios circulares e sobre o tempo em que "chafurdava" têm afinal um despoletar. Este texto de JR, onde se fala na social-democracia e no marxismo. E no esconjuro do fascismo
E isso deixou-o não só preocupado,como à beira de um ataque de nervos.
(Acho que as dúvidas de jose podem ser esclarecidas se este perguntar directamente ao seu amigo,o joão pimentel ferreira)
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